Tava tudo bem ontem. Lógico que tudo bem dentro da forma clássica de se estar bem, já que temos amigos, esperança no futuro, cerveja, saúde e disposição pra trabalhar. Tudo bem até a hora de saber que Michael Jackson tinha pego sua mala e ido pra onde ninguém volta pra contar como é. Tudo bem que uma hora todo mundo faz a mesma coisa e tal, mas o cara, depois de experiências cromáticas diversas e escândalos mis, estava finalmente de turnê marcada para esfregar sua inventividade na cara dos caretas.
‘Ah, mas ele era um pedófilo filho de uma puta’ é o que diz o senso comum de nossa sociedade mal-comida. Ok, nada bonito ficar dando sorvete de creme pras crianças que ainda teriam bastante tempo de inocência antes de começar a frequentar sorveterias, mas, sem querer escrotizar quem já está na merda, esses pais também, né? Ao invés de proteger suas crias, deixavam os fedelhos sozinhos dando um rolé com Tio Michael na neverendingblowjobland para, depois, ao perceberem que o sorvete tava fora da validade e a cobertura, azeda, arrumarem, muito chocados, um jeito de tirar uma graninha do atormentado. A pergunta é: se fosse um Zé-ninguém morando em nowhereland, quem ia querer dar um rolé com o titio?
Acontece que, independente e acima de qualquer coisa ou suspeita, pairou sobre o mundo, por cinquenta anos, o gênio Michael, com nome de anjo e trajetória dos infernos. E eu, que quero é mais e acho é pouco, chorei pra caralho ao receber a notícia, porque criança, antes dessa onda de Neverland, quando ele só queria alisar o pixaim em paz, eu, branca do cabelo duro, só queria saber dele. Até concurso de Michael Jackson na matinê do clube do lado de casa eu ganhei, muito por conta das horas a fio ensaiando aquela moonwalk. Nessa fase eu sabia de cor e salteado todas as músicas do Thriller, primeira antologia pop de minha vida, mesmo que na escola só tivessem me ensinado o to be or not to be. Depois disso, quando já não tinha mais idade para matinês, trancada no quarto, continuei don’t stopping till getting enough: the girl is mine, liberian girl, beat it, the way you make me feel, smooth criminal, billie jean e tantas inúmeras baladas ajudaram a preencher de cor os dias cinzentos da mocinha que eu era, acuada entre o orgulho de ser misturada e a vergonha de não ter um esteriótipo pra chamar de meu.
Como fã, queria que ele tivesse feito uma terapia, pra se perceber bonito mesmo tendo tido um pai hard rock café, pra se perceber adulto, mesmo gostando de criança no café da manhã, mas, enfim, esse negócio de ser gênio deve ser meio complicado de administrar.
‘Ah, mas ele era um pedófilo filho de uma puta’ é o que diz o senso comum de nossa sociedade mal-comida. Ok, nada bonito ficar dando sorvete de creme pras crianças que ainda teriam bastante tempo de inocência antes de começar a frequentar sorveterias, mas, sem querer escrotizar quem já está na merda, esses pais também, né? Ao invés de proteger suas crias, deixavam os fedelhos sozinhos dando um rolé com Tio Michael na neverendingblowjobland para, depois, ao perceberem que o sorvete tava fora da validade e a cobertura, azeda, arrumarem, muito chocados, um jeito de tirar uma graninha do atormentado. A pergunta é: se fosse um Zé-ninguém morando em nowhereland, quem ia querer dar um rolé com o titio?
Acontece que, independente e acima de qualquer coisa ou suspeita, pairou sobre o mundo, por cinquenta anos, o gênio Michael, com nome de anjo e trajetória dos infernos. E eu, que quero é mais e acho é pouco, chorei pra caralho ao receber a notícia, porque criança, antes dessa onda de Neverland, quando ele só queria alisar o pixaim em paz, eu, branca do cabelo duro, só queria saber dele. Até concurso de Michael Jackson na matinê do clube do lado de casa eu ganhei, muito por conta das horas a fio ensaiando aquela moonwalk. Nessa fase eu sabia de cor e salteado todas as músicas do Thriller, primeira antologia pop de minha vida, mesmo que na escola só tivessem me ensinado o to be or not to be. Depois disso, quando já não tinha mais idade para matinês, trancada no quarto, continuei don’t stopping till getting enough: the girl is mine, liberian girl, beat it, the way you make me feel, smooth criminal, billie jean e tantas inúmeras baladas ajudaram a preencher de cor os dias cinzentos da mocinha que eu era, acuada entre o orgulho de ser misturada e a vergonha de não ter um esteriótipo pra chamar de meu.
Como fã, queria que ele tivesse feito uma terapia, pra se perceber bonito mesmo tendo tido um pai hard rock café, pra se perceber adulto, mesmo gostando de criança no café da manhã, mas, enfim, esse negócio de ser gênio deve ser meio complicado de administrar.
Já que não tive esse poder de dar uns conselhos, me atrevo a pedir um favor: Michael, chegando lá, antes de desfazer as malas, procura o man in the mirror e diz que eu mandei perguntar who’s bad?