segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A segunda chance

-Amiga, pode me ouvir?
-Lógico, baby, que que foi?
-Cara, fui fazer a unha e na volta vi que tinha uma mensagem do moço no meu celular.
-Falando o que?
-Pedindo preu sugerir algum programa além da festinha aonde íamos nos encontrar hoje.
-Esse é o mesmo que furou contigo na semana passada?
-Esse mesmo...
-Resolveu dar uma segunda chance pra ele, foi?
-Escuta.
-Sim, ele te mandou mensagem e você respondeu o que?
-Sugeri um cinema.
-E ele?
-Respondeu um minuto depois pedindo preu escolher um filme.
-E você?
-Fui no Segundo Caderno, escolhi um filme e respondi a mensagem.
-E ele?
-Não respondeu.
-Será que ele não recebeu sua mensagem?
-Foi o que pensei...
-Por que você não ligou pra ele, pra tirar a dúvida?
-Foi o que fiz.
-E?
-Ele não atendeu.
-Hummm, amiga, que péssimo.
-Pois é.
-E ficou por isso mesmo?
-Não, mais tarde ele me mandou uma mensagem.
-Menos mal...
-É.
-E qual foi a da mensagem?
-“Oi, tava dormindo. Tô indo agora pra casa dos meus coroas, já que amanhã é dia dos pais. Beijo e divirta-se!”
-Uai, mas ele não sabia do dia dos pais?
-É a pergunta que não quer calar...
-Gente, que surreal!
-Pois é.
-E você respondeu o que?
-Nada né, amiga!
-Lógico!
-Mas e aí, você acabou indo na festa?
-Sim.
-Se divertiu?
-Te falei que tô numa fase boa...
-Conta.
-Conheci um rapaz enooooorme, que ficou jogando charme pra mim na pista de dança.
-E você resolveu jogar o charme de volta, né?
-Quem não tem cão...
-Caça com gatinho!
-Hahahahahahaha!
-Pois é, neguinha, não pode dar muita importância pra esses episódios.
-É mesmo...
-Que carinha é essa?
-Tô meio sem saber o que faço.
-Essa é a hora de não fazer nada.
-Como nada?
-Nada, bela! Na dúvida, a gente mantém o charme.
-Hahahahahahaha.
-E espera...
-Mas esperar o que? Ele furar mais uma vez?
-Não querida, espera e vê se vale a pena dar uma segunda chance pra ele.
-Terceira, no caso...
-Eu acho muita coisa, mas vai saber...

Se despediram e, no caminho de casa, cada uma chegou à conclusão de que Graham Bell até teve uma ótima idéia ao criar o telefone.

O que ele não poderia adivinhar era que sua invenção ia ser ao mesmo tempo solução e problema pra falta de comunicação da humanidade.

Porque, afinal de contas, esse negocio de se relacionar é saber dar e esperar telefonemas.

Não necessariamente nessa ordem.

domingo, 10 de agosto de 2008

O adorável escroto parte 2 (ou Babaquice tem limite)

-Ele leu o conto que você escreveu pra ele no blog?
-Sim. Disse que leu e morreu de rir.
-Nada mal...
-Aproveitou pra dizer que a pessoa que estava com ele morreu de rir também...
-Que pessoa?
-Foi o que perguntei.
-Por acaso era uma mulher?
-Lógico!
-Sabe que isso pode ser mentira dele pra ver sua reação, né?
-Sei, mas não faz a menor diferença se é mentira ou verdade...
-Exatamente, baby, muito caído...
-Caído pra caralho!
-Não gosto quando você fala assim de caralho! Já disse que isso não atrai coisa legal pra tua vida. Só pronuncia a palavra caralho com raiva, assim não dá! Do jeito que a situação está, esse tipo de atitude sua chega a ser antiecológica, amiga!
-E não foi só isso!
-Jesus, tem mais?
-Cara, ele teve a audácia de falar que meu conto era só mais um textinho de internet, que quase ninguém lia mesmo...
-Ihhhhhhhhhh...
-Ih o quê?
-Nada, deixa quieto.
-Diz, porra!
-Muito bem! Falou porra ao invés de caralho! Olha a evolução!
-Você não vai parar com isso não!!? Eu aqui te falando uma parada séria e você nessa merda, bicho, que porra dos infernos!

O tempo estava quase fechando quando as palavras vieram carregando o ânimo nos ombros:

-Desculpe, amadinha, tava tentando te relaxar, porque não tem mais jeito mesmo, né? O cara entrou nessa de ser um babaca, fazer o quê? Matricular ele na aula de etiqueta? Se ele é assim, deixa pra lá, se preocupa com as coisas que merecem sua atenção nesse momento.
-O mais engraçado é que ele não era desse jeito antes...
-Claro, assim são os babacas!
-Era super fino, preocupado com os detalhes...
-Um babaca detalhista, requintado e daí? Não deixou de ser uma babaca!
-Ele ficava dizendo que o nosso momento estava chegando, que eu precisava ser paciente, que nosso lance não era pra ser uma coisa efêmera, que precisávamos de tempo e coisa e tal...
-Tava te cozinhando em banho-maria!
-Pior é que é...
-Ah, cara, um homem que tem o desplante de mandar que leu seu texto ao lado de uma mulher, que eles morreram de rir juntos, e ainda complementa com um “seu conto é só um textinho de internet que ninguém lê mesmo” não é um cara gentil, concorda?
-Concordo.
-E você tá acostumada a ser bem tratada, né, querida?
-A pão-de-ló...
-Então, babou, né?
-...
-C’est fini, it’s over, that’s it!
-...
-Concorda que essa história já deu o que tinha que dar?
-...
-Chora não, honey! Imagina um cara desse depois do almoço de domingo, que horror que não ia ser! Deve ser do tipo que olha pros peitos das amigas na frente da mulher, que esquece aniversário de casamento, que pensa que flor é frescura, essas coisas.
-Sinistro...
-Já tô até vendo a cena: você fugindo pro CCBB, pra primeira mostra de artes plásticas, pra esquecer que tem marido. Ia passar a vida tentando fingir que domingos não existem! Um inferno! Não combina contigo isso, sinceramente! Você é uma mulher foda, não é pra qualquer detalhista que se esquece da gentileza, cruzes!

A ofendida enxuga as lágrimas, respira fundo e, enquanto pega o colírio na bolsa, cai em si:

-Nossa, que bom ouvir essas coisas, nega, brigada!
-É pra isso que existem as amigas, porque elas podem ver de fora. E de fora a vista é bem menos embaçada...
-A gente fica meio idiota quando tá a fim de alguém, né?
-Comigo também rola isso, de volta e meia ficar desse jeito que você tá aí, toda me sentindo meio boçal de ter dado corda prum figura tão merda quanto esse carinha.

E assim, como quem está de férias no Maranhão tomando sorvete de graviola, as amigas espremeram aquele episódio até a última gota, pois sabiam que somente dessa forma poderiam se ajudar na imensa dificuldade que é lidar com os próprios sentimentos, emoções, hormônios e todo tipo de substância ou presença que nos modifique a respiração e que nos deixe prontas para transgredir em paz.

E, em se tratando de babacas, a melhor coisa a fazer é sair de cena sem alarde, como quem diz que vai ao toalete e não volta pro final do espetáculo.

Porque circo de horrores é só pra quem tem estômago de avestruz.