domingo, 27 de junho de 2010

Doubt


Dúvidas apostam em montanhas

Aposentam Maomé

Alimentam desafetos

Semeadas

Fazem parar ônibus andando

Certezas herdadas

E histórias de amor

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Music and me (Lyrics)


We've been together for such a long time now
Music, music and me
Don't care whether all our songs rhyme
Now music, it's music and me

Only know wherever I go
We're as close as two friends can be
There have been others
But never two lovers
Like music, it's music and me

Grab a song and come along
You can sing your melody
In your mind you will find
A world of sweet harmony

Birds of a feather will fly together
Now music, music and me
Music and me

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Homesick



Saudade é substantivo abstrato

Voluntarioso

Ímpio

Resiste a fino trato

Futuro perfumoso

E pratos limpos

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Uma crônica de futebol (ou quase isso)


Um amigo dileto me pediu uma crônica. A princípio achei que era pra algum trabalho, porque amizades contemporâneas têm esse quê de time is money, mas, quando ele me disse que só queria mesmo saber se o maior evento mundial dedicado ao futebol me inspirava, instiguei. Depois de um tempo pensando sobre o que escrever para além de vuvuzelas, jabulanis, frangos e retrancas, me lembrei de algumas coisas: a primeira foi que na última Copa perdemos Bussunda, o que não foi nada legal. Parece que foi ontem que fui contar o ocorrido pra minha mãe, no intuito dela não ser surpreendida pelo Jornal Nacional, e a vi chorar como se o Casseta filho dela fosse. Na hora deu um travo na garganta esquisito à pampa, parecido com ressaca de champagne. Lembrei também que essa é a primeira Copa sem Armando Nogueira, que foi um figura importante e coisa e tal. Inclusive, sempre que penso em Armando me lembro de Nelson Rodrigues e fico um tanto puta de não ter trocado uma ideia com o coroa ao vivo. Sim, poderia tê-lo feito, afinal, ele morreu eu tinha uns nove anos. Tá certo que ia ser meio complexo conhecê-lo assim do nada, mas de todo modo me emputeço, pois sou fã inconteste de suas crônicas de futebol. Tudo bem que Nelson será Nelson pra sempre. Aliás, ele, Tchaickosvky, Lina Bo Bardi, Pina Bausch, Dali, Vick Muniz, Fellinni e Haroldo de Campos são pra sempre. Pelo menos com Haroldo eu desenvolvi um papo, no Lamas, depois de uma peça escrita por ele e encenada pelo Gerald Thomas. O bichinho já tava velhinho e falamos um pouco sobre a personagem que interpretei, uma menina que se relacionava com um extraterrestre, aquela coisa poesia concreta que só dá pra entender com a pele. A verdade é que depois dessa peça não fiz mais teatro, minha vida foi tomando outros caminhos, mas, desse episódio, confesso que nunca mais vou me esquecer.

Aprendi com o poeta concreto que tem dias que a noite é foda.

Do primeiro contato com o esporte bretão não me recordo bem, mas, desde que me entendo por gente, já assistia aos jogos compulsoriamente, pois só tínhamos uma televisão e Sítio do Pica-pau Amarelo nunca chegou a ser uma prioridade. Daí pros programas tipo Camisa 9 e pros jogos com TV no mute (acompanhados de narrações de rádio no último volume) foi um pulo. O fato é que, ao invés de ficar traumatizada, comecei a achar tudo muito legal, ainda mais porque era década de oitenta e lá em casa tinham muitos campeonatos vespertinos de botão, que configuravam uma desculpa perfeita preu “apitar” todas as partidas no meio dos amiguinhos adolescentes dos meus irmãos. Lembro também de achar engraçado mamãe dizer que, ainda que se tratassem de meninos muito bonzinhos, o melhor era evitar sentar no colo deles quando não tivesse mais ninguém por perto. Mesmo seguindo seus conselhos (sempre que dava, naturalmente), só fui sacar a utilidade de tanta sapiência bem depois. Outro lampejo (esse já bem esmaecido) que me vem agora é o da Copa de setenta e oito, quando me explicaram que a Argentina fez de tudo pra levar o título e acabou comprando a seleção do Peru, que abriu as pernas e se deixou vencer de goleada, provavelmente em troca de uma boa grana. Não cheguei sequer a dar bola pra essa matemática insana e provavelmente devo ter pedido em vão pra alguém ir comigo ao parquinho brincar de balanço.

Aprendi com mamãe que tem dias que as tardes são foda.

Depois meu irmão começou a me levar pro Maraca, pois, se hoje em dia aquilo é o paraíso na Terra, naqueles tempos de copos de mijo atirados na geral, o bagulho pesava e moça sozinha passava maus bocados. Foi no Maraca que perdi o primeiro lance por estar focada na minha melissinha: “Aqui não tem replay, tem que ficar ligada no jogo, deixa pra ajeitar sapato depois”, dizia ele, enquanto me mimava comprando cachorro-quente da Geneal. Depois disso fiquei esperta. Aliás, desde que o mundo é mundo curto a ambiência dos estádios: a paixão, a suspensão do tempo, o rádio colado nos ouvidos, os olhos vidrados, tudo isso sempre me encantou. Venhamos e convenhamos, é raro ficar assim vendo balé. Até meu irmão, que sempre foi um cara mais pra fino, virava bicho nas partidas, o que me levou a perceber que toda a erudição do mundo vai pra casa do caralho quando o assunto é futebol e isso dá uma sensação de pertencimento incrível. Pertencimento só até a página dois, diga-se de passagem, porque, anos depois, já na faculdade de Educação Física, tive meu primeiro contato com uma chuteira e adquiri a certeza absoluta de que não havia nascido pra quebrar as unhas dos pés nem pra embaixadinhas. Deus me livre, sou fresca, mas, como tinham as provas teóricas, eu acabava dando meu jeito de passar. Nessa época já sabia o que era trivela, lençol, impedimento, zaga, corta-luz e todas essas churumelas que ouvimos dos homens numa espécie de brado, nem tão heróico, mas, de todo modo, retumbante. Foi sofrendo com a prática que mais me curvei aos grandes craques. Meu predileto sempre foi o Zico, é claro que por influência do meu big brother, flamenguista doente, que vivia dizendo que não havia coisa pior no mundo do que uma pessoa virar a casaca. Pode-se dizer, a partir disso, que virei (e me mantive) flamenguista por diferença de pressão. Com muito orgulho, por quê não?

Aprendi com meu irmão que tem dias que ser mulherzinha é foda.

Hoje vejo futebol com um olhar meio antropológico porque sou mais pra intelectual e acho bonito esse tipo de manifestação tão genuína. Pensando bem, bonito mesmo é aquela cambada de quadríceps sacolejando, mas isso não se pode mais sair falando por aí, pois corre-se o risco de ser taxada de utilitarista pela tropa crescente de fiscais do politicamente correto. Aliás, sou é saudosista: curtia a coisa dos jogadores vestirem a camisa de um time e só tirarem na hora que pendurassem as chuteiras. Amava o futebol-arte que gostava de gol, as transmissões de Copa do Mundo com direito a dúvidas por conta da inexistência de trinta e duas câmeras cobrindo tudoaomesmotempoagora e, sobretudo, louvava a tristeza genuína, não essa apatia letárgica à qual costumamos chamar de melancolia.

Tudo culpa do capital global.

Aliás, aprendi com o muro de Berlim que, no que depender do capitalismo, todo dia é uma foda mal-dada disfarçada de orgasmo múltiplo.

sábado, 12 de junho de 2010

!


De pé floresço todo dia sem você saber.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

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Deitada ponho ponto parágrafo em períodos insubordinados.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

?


Sentada aguardo serem inventadas perguntas para todas as respostas.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Carta aberta às mulheres sem esperança


Diante da crescente quantidade de machos que não consegue sair da própria ilha e, também, do número de fêmeas que desejam ver determinados homens tomando alguma coisa além de cerveja, resolvi elaborar um pequeno manifesto pelo amor descomplicado, e, porque não dizer, pela felicidade verdadeira.

Tudo começa com o que realmente se quer, porque, como já dizia minha tia-avó Neuza, quem não sabe o que procura, não percebe quando acha. E isso se aplica muito mais a nós do que aos rapazes, pois, na dúvida sobre o que fazer, muitas das vezes ficamos ali, na copa, exercitando a crudelíssima arte de cozinhar mancebos em banho-maria. Aliás, quanto mais abandonos o currículo do moço tiver, maior será o tempo de cozimento. Somos más, assumamos isso: Cleópatra, Salomé, Barbie, Lucrécia Borgia, Xuxa e Melissinha, pra citar alguns exemplos, só podiam ser mulheres. Homem não é tão maquiavélico e, tirando raríssimas exceções, não sabe a diferença entre a fome e a vontade de comer. Assim sendo, em se tratando de relacionamentos, na maior parte das vezes, somos nós, portadoras majoritárias de progesterona, que sugerimos o que deles é esperado, o que não chega a ser um grande dilema, afinal de contas, desde meninas fomos programadas a ser fofas e a dizer a verdade nas entrelinhas, como se mentira ela fosse. Portanto, o ideal é ser objetiva como uma centro-avante, construir jogadas e dar os passes certos, trabalhando os fundamentos básicos como quem estivesse somente preocupada com o próprio esmalte.

Passado o primeiro momento da decisão sobre o caminho a tomar, vem a segunda tarefa: a de verificar se o bofe em questão está de fato interessado em você, porque, segundo os ditames da etimologia, a palavra coragem vem de agir com o coração. Portanto, esperar de um homem que não te quer alguma atitude é o mesmo que ficar no ponto deixando passar todos os 410 na esperança de que o 409, cujo trajeto é mais rápido e seguro, venha, luminoso e cheio de lugares pra sentar. Ele até pode vir, mas aí já serão seis da matina e o rimel, mesmo à prova d’água, já terá te deixado com uma cara de anteontem que não merece ser compartilhada com ninguém além de você mesma. Quando for assim, pegue um táxi, é um pouco mais caro, mas uma mulher que anda só precisa ter sempre o dinheirinho do motel, do champagne e do táxi, necessariamente nessa ordem, porque nunca se sabe o que nos espera dentro da noite veloz, ainda mais quando temos o mau hábito de pensar positivo. Mas, voltando à verificação sobre a intenção do bofe, penso ser esse um desafio complexo. Qual é o acontecimento, a palavra, o olhar ou a atitude que oficializam a passagem do reino das amigas-gatinhas-que-ele-come-vez-por-outra para o status de companheira, que, voltando à etimologia, é aquela que come pão junto? Se eu tivesse resposta pra isso, estaria rica, portanto, o máximo que posso fazer aqui é levantar hipóteses. A mais elementar de todas é a que diz respeito à procura. Quem gosta, faz de tudo pra estar por perto: liga, manda email, faz sinal de fumaça ou todas essas coisas juntas. Mas não se engane, existem variáveis para essa procura: o cara pode ligar todo dia e só querer com isso trocar uma ideia com uma pessoa que ele curta a companhia e ache inteligente, mas a quem não vê (sorry about that) como algo que se assemelhe a uma companheira. Um amigo comedor que namora há dois anos me disse certa vez que, no começo, nenhum homem vê em mulher alguma uma companheira, observação esta que me fez refletir um bocado e que me deixou um tanto confusa, mas que, de todo modo, trouxe à luz uma faceta interessante sobre os meninos: eles raramente sabem o que querem, mas costumam ter certeza absoluta do que não querem. Experimente forçar a barra, mesmo que na sutileza, pra comprovar o que digo. Fale, por exemplo, tudo que pensa, explique o que te chateia. Se depois disso o bofe assimilar, não se lamentar e ainda continuar te comendo, é porque é tua, Taffarel. Mas, segundo meu amigo comedor, assim como a Copa, esse tipo de efeméride costuma ocorrer só de quatro em quatro anos e que, portanto, vale o que acontece na maioria dos casos, que é o seguinte: se você curte sexo com homem, se te agrada barba no suvaco e bigode na buceta, prepare-se pra ter de fingir que certas coisas não aconteceram. Pelo menos não com você. O pior de tudo é que esse meu amigo é marxista e adora citar Bertold Bretch. Vivo dizendo pra ele que isso é coisa de galanteador de quinta com hálito de Domeq, mas ele insiste em dizer que, se Bretch propôs o distanciamento no teatro, ele pode propor o distanciamento nas relações contemporâneas, que, basicamente, é tipo uma regra de três: se o que os olhos não vêem o coração não sente, o que o ouvido ignora, o coração não corre nem o risco de sentir, pois sequer entendeu. Disse a ele, da forma mais lânguida que encontrei, que esse tipo de conclusão era pras negas dele, que, naturalmente, não são como essa que vos fala, que detesta se fazer de egípcia e que gosta de demonstrações públicas de afeto, de andar de mãos dadas, de ver as portas se abrindo pra que ela passe deixando um aroma de flor de laranja, de ter a conta paga pelo menos nos primeiros encontros e de não ter de sair batida da cama do bofe no dia seguinte porque ele tem compromisso e não pode te deixar lá senão corre o risco de você arranhar os vinis dele. Disse a ele que, pra mulheres assim, a única saída era o Galeão. Claro que meu amigo comedor achou tenebrosas minhas afirmações, pois, além de marxista, ele é nacionalista e pensa que o produto nacional é o melhor de todos. Shame on him!

Mas, voltando ao que interessa, passada com dignidade a segunda parte da brincadeira e você, sem carimbar o passaporte, vir que determinado rapaz está fortalecendo o produto interno bruto, a parte mais difícil ainda está por vir: a de continuar sendo você mesma sem complicações e sem descarregar no eleito o fato de que os anos estão passando e que isso não está fazendo com que seus óvulos fiquem mais jovens. Sim, porque aulas de pilates seguram a bunda, caminhadas seguram a balança, mas os óvulos, esses, ninguém segura, pois têm prazo de validade. E, ao menor odor de ansiedade na formação de uma família, sedentários se transformam em campeões no cem metros rasos sem barreiras e, antes mesmo de você reparar, eles já foram embora, normalmente dizendo que não merecem uma mulher tão fantástica quanto você. Meu amigo comedor, quanto a isso, tem uma observação interessante: ele comentou que só começou a namorar com essa menina com quem está pensando seriamente em se casar quando a convidou pro chá de bebê de um casal de amigos e ela afirmou, olhando no olho dele, que não gostava do clima que rondava essas reuniões, onde todos questionavam se ela teria filhos em breve. Diz ele que ficou de pau duro na hora, o que, mesmo não sendo verdade, faz a gente entender por que ele já comeu tanta mulher nessa vida.

Aliás, esse meu amigo é feliz pra caralho. E, pensando bem, no fundo, no fundo, aí é que está o ponto central: ser feliz, independente de qualquer coisa. Ser feliz porque tem saúde, porque tem amigos, porque tem discernimento de sentir saudades de coisas nem tão boas e perceber que é exatamente isso que faz a gente se sentir viva, brilhante e com a pele dando a impressão de que somos pelo menos dez anos mais novas.

Agora, passadas as teorias, vou a uma festa, nunca se sabe o que um feriado nomeado corpo de Cristo pode nos trazer de surpresa.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Atalho


O amor faz do verbo sílaba

Da gaveta, museu

Do belo, pano de fundo

É óculos

Pra dias sem sol

E pedra

Pro fim do caminho