domingo, 26 de dezembro de 2010

Pagode high-tech

Termina de chupar essa manga

Compartilha esse roteador

Libera de uma vez o touchscreen

E pluga o carregador

Só não esquece que pimenta no facebook dos outros é refresco

E que comigo ninguém ipod

Se depois de tudo ainda rolar um stress

Esquece esse wireless

E vem ficar de bode

No pagode

Sem neurose

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Só de estarmos vivos sabemos que:


1) Palavra é objeto de cena aberta

2) Coragem é chamar o fim de começo

3) Língua é chave, coração é fechadura

4) A acontecimento dado não se olham os dentes

5) Se persistirem as indecisões, o silêncio deverá ser consultado

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Summer time


Até a certeza em seu carro-forte

Sabe que a sorte

É colateral da paixão

E que o tropeço

É feito espinho

(Só um caminho)

Pra chegar na flor

Afinal

Quem é que não sabe

Que um humor sozinho

Sem ninho

E sem norte

Não faz verão?

domingo, 19 de dezembro de 2010

Para Cecília Meireles


Banho gelado no gato

Bigode de confiança

Língua afiada no trapo

Infiel de balança

Pra separar o arrojado

De quem vive de lembrança

A dica aqui é prática:

(-Vê se escuta, criança!)

Nas recompensas enormes

Que cabem feito luva

Ou bem se topa o brainstorm

Ou bem se abre o guarda-chuva


sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Back and forth


Entendimento em baixa

Atraso em demasia

Vírgula que racha

Festival de ingrisia

Mercúrio retrógrado

Inaugura a temporada

De fazer do limão

Uma bela limonada

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Sky my captain


Vênus na casa quatro

Coisas pequenas

Casa pedindo formato

Conversas serenas

A maior alegria

É a farra de depois

Que o prato do dia

É feijão com arroz

sábado, 11 de dezembro de 2010

Charlotte sometimes mode on


Escultura no mar

Medo de fachada

Sala sem estar

Anunciada cilada

Morpheu is dreaming

Where all other people dance

Dali é viking

Onde há quem pense

Que o porto inseguro

Perdeu-se em manobras

Como cego

Surdo

E mudo

Na dieta das sobras


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cross living (pro Caneta, lente e pincel)


Não era câncer nem Aids nem gastrite nem gonorréia. Também não parecia síndrome do pânico, esquizofrenia, espinhela caída ou coisa que o valha. Aconteceu com Anita o que poderia ter acontecido com qualquer mulher contemporânea: o fracasso havia lhe subido à cabeça. De uma só tacada, tinha perdido o carro, o dinheiro da poupança, o pseudonamorado, a dignidade e a vontade de levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Estava ali, em plena segunda, bebendo sozinha num boteco de quinta, tentando viciar os dados de seu destino pra ver se alguma coisa mudava, mas esse negócio de depois da tempestade vem a bonança é coisa de quem usa facebook demais e perdeu a noção de que realidade só se cura com champagne.

O fato é que tinha acabado de perceber que, apesar dos pesares, vida não é um veículo do qual se dê pra descer antes do ponto. Quer dizer, tem gente até que desce, mas aí é outra história, afinal, uma moça como ela, criada pra ser feliz de doer e crescida em meio a doses cavalares de amor materno, não tinha o direito de desistir àquela altura do campeonato. Seria uma atitude tola, algo como perder a chance de se certificar de que a esperança é a última que dorme num país de insones. Assim, seguiu em frente, na busca por algo que lhe anestesiasse.

Qual não foi sua surpresa quando se pegou na fila do cinema. Tinha tanto tempo que não entrava numa sala escura que não fosse o quartinho fedorento da boate que seu ex-pseudonamorado adorava frequentar, que chegou a sentir uma pontinha de vertigem. A propósito, sim, o rapaz gostava de ambientes de sexualidade indefinida. Gostava também de se vestir de mulher de vez em quando, mas hoje em dia isso nem chega a ser uma questão, posto que é tendência, como quase tudo que era estranho há dez anos. Ficou pensando se sua tristeza um dia também viraria tendência e se as pessoas se esqueceriam completamente de como é o cheiro da felicidade, mas, decidiu, ao invés de tanta divagação, comprar uma pipoca para parecer normal. Sentou-se na quinta fila, que é onde costumava ficar quando era menina e sua irmã, pacientemente e a meia-voz, lia-lhe as legendas que passavam rápido demais para sua tenra idade. O filme era meramente um detalhe. O que estava em jogo ali era a busca. Até mesmo porque, quem não sabe o que procura, não percebe quando acha.

Acabada a sessão, foi dar uma volta no shopping. Tinha certeza de que compraria tudo que visse pela frente, afinal, a chateação havia lhe roubado uns quilos e era a hora exata de tentar entrar naquela calça quarenta que desejava desde que saiu da puberdade. Mas alguma coisa lhe distraiu na vitrine da frente: era um bloco de notas simples, de capa dura, recheado de páginas em branco. Sentiu um calafrio na espinha e percebeu que as palavras seriam as únicas capazes de lhe tirar da desconfortável posição de vítima dos fatos e das pessoas. Não deu outra. Vomitou toda a disenteria emocional que lhe acometia. Dez horas e três blocos depois, era uma outra pessoa, tanto que já podia olhar para trás sem torcicolo e para frente sem fotofobia.

Tinha se curado, ou melhor, tinha feito uma faxina colossal debaixo do tapete de sua alma.

Porque letra guardada é que nem cabelo: precisa de vento para poder voar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Primeira pedra


Quem vai chorar sobre a seda rasgada?

Parir a lenda encruada?

Inflar o ego esvaziado?

Quem vai dizer que é tudo cena?

E que é digno de pena

O dono de um coração fechado?

Nem o estupefato

Que mora em mim

É tão sensato assim

Mas se por acaso

(e nunca por inteiro)

Perdesse o freio

E esquecesse do sim

Ganharia inimigos alheios

Vitórias sem beijos

E uma guerra morna

Sem fim

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Parciais


Um diz que não quer mais

Outro quebra a cerâmica

Um dá por amizade

Outro aborta temperança

Cartesiana a dinâmica

Do placar um a um:

Melhor algum jogo

Que jogo algum

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Pra frente é que se ama (pro Drama Diário)


-Ele é bonito?
-Não exatamente.
-Inteligente?
-Muito.
-Mas inteligente inteligente ou inteligente intelectual?
-E tem diferença?
-Muita! O inteligente inteligente pega as coisas no ar, faz associações inusitadas e ainda te presenteia com piadas engraçadas.
-E o inteligente intelectual?
-Costuma também pegar as coisas no ar e fazer associações inusitadas, mas, ao invés de te contar piadas, fica citando Foucault, Kant e às vezes um pouco de Almodovar, só pra passar de popular.
-Pô, mas nem Almodovar pode?
-Pode, claro, tô brincando com você.
-Sei...
-Quando a conta chega na mesa, ele paga de pronto?
-Lógico, né?
-Bonitinha, nada é tão lógico assim que não seja passível de dúvida, mas diga, e o pau, é belo?
-Ah, não, isso é foro íntimo!
-Óbvio que é, mas nós duas sempre falamos dos paus dos homens e isso nunca foi um problema.
-Tsc.
-Fala, filha!
-Tá, mas se você der mole pra ele, eu te mato, ok?
-Combinado, mas e o pau?
-Expressivo e cortado.
-Judeu?
-Não, fimose mesmo.
-O beijo?
-Passível de melhora.
-Língua hiperativa, é?
-Por aí.
-Acontece. E lá embaixo, ele faz com gosto?
-Sim.
-Mas tipo vai e mergulha como se não houvesse amanhã ou dá aquelas lambidinhas paliativas, só pra não dar na pinta de que nem curte o ofício tanto assim?
-Se tivesse uma música pra ser a trilha sonora da devoção do bofe seria Pussy in the sky with diamonds.
-Hahahahahaha! Sensacional!
-Satisfeita?
-Ainda não, quero saber se na hora que ele mete você consegue gozar.
-Não acha que tá querendo saber demais não, bela?
-Tô, mas foda-se, sou ou não sou sua melhor amiga?
-É...
-Goza ou não goza?
-Se eu ficar por cima, na magnífica posição de Cavalgada das Valquírias, sim.
-Que putinha mais wagneriana você...
-Também acho. Algo mais?
-Sim, o mais importante.
-Manda.
-Se você se pegasse grávida, assim, por uma distração, encararia ser mãe de um filho dele?
-Querida, você me conhece o suficiente pra saber que eu não me distraio.
-Eu sei que não, mas, hipoteticamente falando, o que você faria?
-Precisaria pensar, nunca engravidei pra saber como é carregar um coração além do meu.
-Ai, que bonito isso que você disse.
-Achou?
-Lindo, você devia ser romancista.
-E você, psicanalista.
-Posso perguntar só mais uma coisinha?
-Adianta eu dizer que não aguento mais tanta pergunta?
-Não.
-Então desembucha.
-Levaria ele prum coquetel de abertura de um evento da sua produtora?
-Acho que sim.
-Hummm.
-Hummm o quê?
-Deixa.
-Agora vai até o fim, mulha.
-Pra isso precisaria de mais uma pergunta...
-Manda.
-Você admira ele?
-Sei lá, nunca me peguei tão embevecida por um homem a ponto de ficar de quatro.
-É, e todo mundo sabe que de quatro ninguém é normal.
-Hahahahahahahhahahaha.

Pararam por ali, enquanto ainda riam, pois sabiam que esse negócio de admiração era a única coisa capaz de abrir espaço praquele sentimento nobre de quatro letras que tanto tira o sono da maioria dos humanos.

À bem-comida restava a chance de aproveitar os bons momentos, sem nunca esquecer que o novo é chão pra ser pisado devagarinho, de preferência sem olhar muito pra trás, para evitar comparações cruéis.

Até mesmo porque, não só quando engravidamos somos capazes de carregar um coração além do nosso.

sábado, 6 de novembro de 2010

Poupança


Me economizo

Pra poder gastar

Que guardar pros vermes

É que não dá

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Lord save the faith




Se a fé move montanhas

E quem avisa amigo é

Me responda (sem pensar):

Quem é que move a fé?

Tomando por princípio

A lógica do zelo

Se não for o amigo a fazê-lo

A montanha é que não é

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A epifania tarda mas não falha


Desde muito jovem, Janete sabe que é dando que se reflete. Portanto, sempre considerou a máxima ‘antes mal acompanhada do que só’ uma das maiores sacadas de Erasmo Carlos. Solteira convicta, a moça está habituadíssima a relações de alto impacto e curta duração, tanto que nem liga mais quando sente nos homens aquele cheiro de fuga que tanto desespera muitas de nós. A impressão que se tem é a de que pra ela não tem mau tempo e que desilusão só serve mesmo pra inspirar as poesias que escreve na madrugada, depois de três ou quatro taças de vinho do porto. Dia desses, distraída como quem observa a evolução de uma manada de elefantes da própria janela, nem reparou como o moço da entrega da farmácia a olhava com volúpia enquanto preenchia seu cheque pré-datado pra pagar pílulas do dia seguinte, absorventes internos e ceras depilatórias. Não reparou também que, independente da hora em que ligasse pra fazer seus pedidos, era sempre o mesmo rapaz quem efetuava a entrega, nunca desprovido de um sorriso Colgate Total 12 de deixar qualquer acadêmico de odontologia estupefato. Foi somente numa tarde ensolarada de sábado, na qual se descobriu menstruadíssima e necessitada de anti-espasmódicos, que percebeu em que tipo de gorjeta o entregador estava interessado desde sempre. Sem saber muito o que fazer, ofereceu-lhe água e o convidou para sentar. Perguntou-lhe também se não estava na hora de retornar à farmácia, ao que ele respondeu que não, que aquela entrega era sua última e que tinha todo o tempo do mundo. Percebendo que a situação era aquela, Janete, burguesinha que leu Marx, Marilena Chauí e Nelson Rodrigues até o talo, resolveu ceder às possibilidades que essa nova experimentação tinha a oferecer. Claro que não deu pro moço naquela noite, afinal, dar de primeira menstruada era muito hardcore pro seu rockzinho progressivo. Não deu, mas fez de quase tudo, que não era boba nem nada e também não gostava desse negócio de ensaiar sem previsão de data de estreia. Apesar de ter achado a língua do menino um tanto quanto hiperativa, foi conduzindo a coisa com sutileza e, quando viu, estava no meio de uma relação de baixo impacto e longa duração, o que, pruma atleta de seu naipe, não significava exatamente um recorde olímpico. Como não poderia deixar de ser, os meses foram passando e, num belo dia, enquanto explicava languidamente ao mancebo como gostava de ser beijada, percebeu que, em se tratando de esportes, mais importante do que competir é não queimar a largada.


Porque epifania é o tipo de coisa que tarda mas não falha.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Dilma vez por todas


Contra golpe baixo

Só Boff no Casagrande

Contra baixo astral

Só alma em lampejo potente

Ecologia social

Conceito bem pra frente

Eleição fundamental

Mulher presidente

Não me leve a mal

Você que sente diferente

Mas não dá

Pra seguir

Pensando

Só na gente

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dez coisas que todo homem merece (de vez em quando ou sempre)


1) Ver um pornozinho com calma

2) Ler uma playboy sem culpa

3) Testemunhar seu time vencendo no Maraca

4) Aprender que gentileza é fundamental

5) Conhecer uma menina legal do nada

6) Esquecer de lembrar que viagra existe

7) Esbarrar com uma calcinha de renda

8) Ter uma relação que pouco precisa ser discutida

9) Entender que a mulher de sua vida não vem com crachá

10)Encontrar uma cerveja gelada atrás dos tomates na geladeira

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dez coisas que todo erê merece (de vez em quando ou sempre)


1) Pensar na vida como algo que está apenas começando

2) Ser responsável por um bichinho de estimação

3) Considerar o supermercado um parque de diversões

4) Praticar um esportezinho ou uma dança, só pra cultivar a disciplina

5) Não ter ideia do que seja a violência contra a mulher

6) Fazer contagem regressiva no mês de novembro por conta das férias escolares

7) Brincar com um(a) priminho(a) de médico

8) Aprender a mexer na terra

9) Achar que os pais são eternos

10) Ser obrigado a ser feliz e mais nada

sábado, 9 de outubro de 2010

Dez coisas que toda mulher merece (de vez em quando ou sempre)


1) Fazer as unhas com calma

2) Ler uma revistinha de fofoca sem culpa

3) Ter um desejo satisfeito sem precisar pedir

4) Discutir o aborto de forma ampla e não como estratégia pseudopolítica

5) Dançar conforme a música que escolheu

6) Conhecer um cara legal do nada

7) Acordar bonita do nada

8) Tocar numa festinha como DJ e ver geral se acabar

9) Esquecer de lembrar que a gravidade existe

10) Fazer amigas pra vida toda

domingo, 3 de outubro de 2010

Vastas emoções, pleitos imperfeitos


Mesmo sendo a obrigatoriedade uma coisa que depõe contra a ideia de que o voto é uma atitude democrática, sempre (mas sempre) me emociono com esse negócio de eleição. Hoje vi um molequinho de uns dez anos acompanhando o pai, a irmã e a avó, super sabendo em quem cada um ia votar, participando da coisa toda e fazendo daquele direito/dever, que ainda não lhe pertence, uma expressão de sua cidadania em construção. Olhando pra ele, me lembrei de meu primeiro voto, em 89, pro Lula, naturalmente. Naquele dia teve uma greve de ônibus escrota que dificultou a locomoção de muita gente e que foi tida como um boicote ao sonho de colocar na presidência um cara sem dedo e de português, digamos, nada escorreito. Passaram-se os anos e, após vermos boa parte das empresas estatais serem vendidas a preço de banana para pagar uma dívida externa, que, ainda assim, só aumentou de volume, em 2002, hospedada na casa de minha irmã e curtindo uns ares cearenses, fui justificar meu voto acompanhada de meu sobrinho, então com quatro anos, que deu um escândalo sem precedentes pois queria votar. Aquilo foi esquisito à pampa, pois o moleque em questão sempre foi um cara tranquilão, genioso, mas tranquilão. Tensas, eu e minha irmã tivemos que agilizar a coisa toda e sair de fininho da zona eleitoral, mais zoneada ainda depois da passagem do pequeno furacão de nome Guilherme. Engraçado que quando conto isso pra ele (agora já um pré-adolescente), rola um constrangimento, que eu, como tia, aproveito em meu favor, como não poderia deixar de ser. Pois bem, dias depois, voltando pro Rio, vim sentada no avião ao lado de uma senhora que comparou a festa que se fazia pela eleição do Lula à que viu na França, quando Miterrand foi eleito. Lembro dela comentando que essa euforia ia se assentar e todos os problemas advindos das coligações feitas visando à eleição viriam à tona em alguns anos e muitas decepções iriam rolar. Perguntei se, mesmo sabendo disso, ela tinha votado no Lula, ao que ela me respondeu, com um meio-sorriso de quem entende as coisas por inteiro: “Política é xadrez e vida, estratégia e, portanto, como não se pode ganhar todas, que ganhemos a maioria”. Nos despedimos, mas nunca me esqueci dela e, muito por conta desse encontro a onze mil metros de altura, levei minha câmera Hi-8 pra Cinelândia pra registrar a algazarra diante do primeiro discurso de Lula como presidente, ao vivo, no telão. Nesse dia, encontrei com amigos de UERJ, dos tempos de militância estudantil, de bebedeiras juvenis e de trepadas nos Centros Acadêmicos. Nos abraçávamos e chorávamos como quem viveu por anos a fio um sonho junto, que, de tão junto, virou realidade. Passaram-se os anos e, em 2006, por indicação de um amigo, fui trabalhar de pesquisadora num programa da antiga TVE (hoje TV Brasil), chamado ‘Cultura Ponto a Ponto’, que documentou os principais Pontos de Cultura brasileiros, iniciativa de nosso Ministério da Cultura, que, mesmo com suas limitações orçamentárias e estruturais, fez com que muita pérola que estava sendo extinta por pura falta de multiplicadores fosse salva. Descobri coisas incríveis, ouvi histórias distantes de minha realidade burguesa e atentei pra necessidade da continuidade desse anteprojeto de visão democrática de sociedade. Por conta disso, repeti meu voto. Esse ano, mesmo diante da comoção que se fez em torno das eleições, votei, como de hábito, com o coração, sempre antenada à frase emblemática de minha colega de avião.


Afinal, se política é xadrez e vida, estratégia, movamos um peão de cada vez.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Cosme e Damião Light


Doce é a coragem de seguir adiante

Mesmo sabendo

Que medo é obstáculo

Que dedo é tentáculo

E que intimidade

Para além de raridade

É desafio constante

sábado, 18 de setembro de 2010

Red rule number four

Sorrisos sinceros abrem até corações trancados por dentro

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Red rule number three

Exigir o incondicional é alimentar um coração de estimação.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Red rule number two


Esvaziar um coração é achar o que nem estávamos procurando

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Red rule number one


Marinar um coração é colocar óculos de grau no olho do furacão

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Cinco respostas que já nasceram sem perguntas


1) O verbo curtir vem enfrentando problemas de ordem semântica depois do facebook.

2) Mensagem no celular com trecho de poesia às duas da manhã costuma significar sexo iminente.

3) Só os homens cegos não veem nossas celulites.

4) Não criar expectativa sobre as coisas é como colocar camisinha na alma.

5) Conexão pouca meu wireless primeiro.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Seca e suave


O local é a fila do banheiro de uma festa. A circunstância, uma conversa entre duas mulheres.

A tristeza era que uma delas se achava muito amiga da outra.

-E aí, gostosa, tudo bem?
-Isso é comigo?
-É lógico, com quem seria?
-Não sei, mas o fato é que não sou gostosa.
-Claro que é. Todas nós nessa fila somos.
-Olha só, que fique bem claro: eu não virei lésbica.
-Sei...
-Nem ostra eu como.
-Hahahahahahaha, tinha me esquecido de como você é divertida!
-Ô.
-Tá trabalhando com o quê mesmo? Não me lembro mais.
-Jura?
-Juro!
-...
-Mas diga: você trabalha com o quê?
-Eu escrevo.
-Escreve o quê?
-Primeiramente sílabas, depois palavras, depois frases, parágrafos e por aí vai.
-Tá, mas escreve pra onde?
-Pruma revista.
-Jura?
-Acho desnecessário jurar.
-Qual revista? Marie Claire? Contigo? Minha Novela? Boa forma? Dieta Já? Capricho?
-Não.
-Pra qual?
-Pra Carta Capital.
-Carta o quê?

Nesse exato momento, o sangue, que não costuma se manifestar de forma corriqueira nas veias da economista, ferveu num nível Glenn Close advanced e por pouco seu raciocínio não ficou comprometido. Respirou fundo e viu que havia chegado sua vez na fila. Fez, de forma desesperada, seu xixi de pé, e, contrariando as leis da higiene, sequer lavou as mãos.

Pra completar o kit fuga, rumou pra pista de dança e deu mole pro primeiro que apareceu.

Quando já estava pra ser chupada pelo mancebo é que foi lembrar que não tinha se limpado na festinha.

Mas aí já era tarde, deixou quieto. Se desse sorte o moço nem repararia.

Na manhã seguinte, tomando café da manhã no motel, naquele intermezzo entre a fome e a vontade de comer, teve de ouvir:

-Posso te falar uma coisa, gatinha?
-Claro.
-Adoro mulher apertadinha que nem você.
-É mesmo?
-É.
-Que ótimo.
-Posso falar outra coisa?
-Claro.
-Gosto também de bucetinha freestyle, sei que não é todo homem que curte, mas eu me amarro.
-Legal, mas o que seria uma bucetinha freestyle?
-Ah, tipo a sua, toda trabalhadinha no xixi.
-Ah.
-Se a gente sair de novo, você promete que repete a dose?
-Eu não sou muito de promessas...
-Você é divertida.
-Ô.
-Trabalha com o quê mesmo? Não me lembro mais.

Depois dessa, viu que era game over. Pediu a conta, o táxi e avisou no trabalho que estava indisposta.

Pra se garantir, ligou pra farmácia e pediu um carefree.

Na euforia de ficar úmida e intensa, acabou esquecendo que por vezes o melhor a fazer é permanecer seca e suave.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Conversa mole


Dia desses, o clichê resolveu puxar um papo com o blasé:

-Me diga você, quando a graça acaba, o que se há fazer?
-Ir ao CCBB?
-Pra quê?
-...
-Não vai responder?

A essa altura blasé estava longe, nas profundezas do não-ser

Pensando na próxima pose

Na armação dos óculos

No que de marcante dizer

Isso é pro clichê aprender

Que na vida

Pra lá do museu de grandes novidades

Só nos resta a pureza da calma

O strogonoff de salsicha

E um cadin de maldade

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Indícios


Você percebe que está ficando velha (mas ainda dando um bom caldo) quando:

1) Seu sobrinho deixa de acreditar que você estudou na escola do Harry Potter

2) Não aguenta mais ter vontade de dizer pra determinadas pessoas que não quer ser amiga delas

3) Começa a achar seu dentista gato

4) Percebe que o ótimo vai virando inimigo do bom

5) Já perdeu pelo menos um grande amigo

6) Não aguenta mais ter vontade de dizer pra determinadas pessoas que não quer ser somente amiga delas

7) Entende a solidão como incapacidade de escuta do próprio silêncio

8) Ouve de um menino na noite que ele é louco pra ficar com uma mulher da sua idade

9) Considera a quarta-feira como a nova sexta

10) Aprende com o limite que o prazer é uma coisa relativa

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Wait for me



Na madrugada

Divago

Buscando

Que Tom

Wait for me

Que Salvador

Venha Dali

Com vinho

De porto em porto

E que por horas

(E horas)

Eu seja

Nothing

But flowers

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Priceless


Se o apressado come cru

E o quieto, duas vezes

O discreto

(Direto e reto)

Destrói castelos

De areia movediça

Espanta sereias

Provoca cobiças

Ainda que curioso

Esconde delícias

Do holofote

Que afeto

Se constrói mesmo

É no cangote

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Turn around

Toda fé quer ser cega

Toda faca, amolada

Todo meio, justo

E todo fim,

Recomeço

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Feriado


Mosquito sem orelha

Lágrima sem travesseiro

Ombro sem amigo

D.R. sem relação

Poupança sem depósito

Trabalho sem dinheiro

Fofoca sem Contigo

Vida sem ambição

Parece tempestade

Mas não é caso pra avexação

Que a falta é só o excesso de férias

Bodeando

Cantando

E fazendo a digestão

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Dez coisas que sabemos só de olhar para o jardim da vida


1) A fantasia preferida da felicidade é a monotonia

2) Inteligência é desacelerar na descida

3) Quando bate à nossa porta, o passado se disfarça de presente

4) Luas novas só chamam novos ciclos pra quem tem mira

5) Musas aprendem a sorrir até no escuro

6) Quanto mais pretéritas mais perfeitas ficam as situações

7) O fato de sermos paranóicos não impede que estejamos sendo seguidos

8) Na cesta básica da alma devia ter cafuné em pó

9) Se todo tesouro estivesse enterrado o diabo estaria rico

10) Fica difícil achar aquilo que nem sabíamos estar procurando

sábado, 7 de agosto de 2010

Walking on sunshine


Amigo gay é São Bernardo na neve

Edredon no inverno

Ouvido na multidão

Se achamos que a vida não presta

Que o amor nos detesta

E que pés não nasceram pra chãos

Ele nos prescreve

Pingos por cima de is

Boa dose de vinis

Luz

Mira

E ação

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Naipes



Damas de fino trato:


1) Gostam quando são defendidas por espadas

2) Tendem a dominar copas

3) Não acham nada mau nadar em rios de ouro

4) Se encantam por paus que lhes fazem sentir canoas


Valetes de envergadura:


1) Sacam a espada só se a dama vale a pena

2) Não têm medo de copa

3) Escondem o ouro quando ameaçados

4) Quase sempre dominam o pau


Coringas stricto sensu:


1) Preferiam nem ter espada

2) Só querem saber de Copa se for a do mundo

3) Acham que foram pintados de ouro no dia em que nasceram

4) Mostram o pau até quando não matam a cobra

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Emaranhada


Diz amenidades no skype

Dá alô pelo facebook

Separa problemas por naipe

Antes que se machuque

Ressabiada

Se ausenta no msn

Retuita tudo com calma

Como se não houvesse tpm

Saudade pixelada

Não se escreve em wordpress

No cativeiro digital

As correntes são wireless

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Charada

O que é o que é?
Elabora set list
Chama jacaré de seu
Usa arco de princesa
Mas tem coração plebeu?
Descubra hoje, na abertura do FBCU.

domingo, 25 de julho de 2010

Sólida


Provou a fantasia

Colorida

Na hora de dançar

Ironia

Não vestiu bem

Faltou fidalguia

De olhar espelhos sem imagens

E ver

Engolidas ingrisias

(pupilas inchadas de miragem)

Que vestidos

Assim como almas

Costumam clamar

É por boas lavagens

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Parabéns pra Alê!


Anda comigo

Colada

Que nem rímel

A diferença é que não sai n’água

Ri do que não tem graça

Me compra pagando vinho

Desde que a Juruba nasceu

E inda mamava na gente

Virou marida

Relação longa

Colcha quente

Na hora que o céu for todo nosso

Prometo

(Como não?)

Te dou um monte de nuvem de algodão

terça-feira, 20 de julho de 2010

Sun



Parou de ver no primeiro a última chance

Na chance a única coisa

Na coisa o único caminho



Sabia ser

Sendo

Sabia ter

E só

domingo, 18 de julho de 2010

Salvador


Tem um minuto que pararam horas

Pularam segundos

Dependuraram centésimos

Dali em diante

Só mesmo ‘um dia a gente se vê’

Com gosto de dendê

Podia ser

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Inutilidade Privada


Caro (a) leitor (a),

Segue abaixo questionário elaborado pela Comissão de Inutilidade Privada, a ser utilizado na reforma de seu código de ética interno. Deixe suas respostas no setor aberto a comentários deste sítio que vos fala. Caso não queira se identificar, existe a opção do anonimato.
Grata,
A sub-gerência

QUESTIONÁRIO:*

1) Com quantos paus se faz uma relação íntima?

A ( ) Um, pelo pressuposto da monogamia
B ( ) Dois, pelo pressuposto da monogamia assistida
C ( ) Três, pelo pressuposto da hipocrisia consentida
D ( ) Quatro, pois sempre haverá férias em Salvador
E ( ) Todas as respostas acima

2) Quantas vezes é preciso discutir a relação para ser definido que relação se discute na cama?

A ( ) Uma, em casais formados nas décadas de sessenta e setenta
B ( ) Duas, em casais pré-queda do muro de Berlim
C ( ) Quinze, em ficantes
D ( ) Trinta e cinco, em pseudo-ficantes
E ( ) Todas as respostas acima

3) Com quantas perseguidas se faz uma relação íntima?

A ( ) Uma, pelo pressuposto da monogamia
B ( ) Duas, pelo pressuposto da monogamia assistida
C ( ) Três, pelo pressuposto da hipocrisia consentida
D ( ) Quatro, pois sempre haverá as festas de casamento dos amigos
E ( ) Todas as respostas acima

4) Qual a importância do uso do preservativo?

A ( ) Prevenir doenças sexualmente transmissíveis
B ( ) Evitar a gravidez indesejada
C ( ) Colocar a cabeça de baixo pra pensar
D ( ) Definir o quão estável é uma relação
E ( ) Todas as respostas acima

5) O que é pior do que se sentir usada? (para mulheres)

A ( ) Ejaculação precoce
B ( ) Paudurescência inoperante
C ( ) Amnésia alcóolica
D ( ) Pentelho branco
E ( ) Todas as respostas acima

6) O que é pior do que se sentir pressionado? (para homens)

A ( ) Ejaculação precoce
B ( ) Paudurescência inoperante
C ( ) Chamadas não-atendidas
D ( ) Cerveja sem álcool
E ( ) Todas as respostas acima

7) Quando a vida te apresenta um limão, você:

A ( ) Faz uma limonada
B ( ) Deixa a Poliana fazer a limonada que ela tá mais acostumada
C ( ) Corta ele em pedaços, pega o sal, abre a José Cuervo e chama os amigos
D ( ) Faz cara de turista e diz No thanks
E ( ) Todas as respostas acima

8) Na dúvida, você:

A ( ) Chama um táxi
B ( ) Chama o síndico
C ( ) Chama o Raul
D ( ) Mantém o charme sem chamar ninguém
E ( ) Todas as respostas acima

9) Se te pedissem pra escolher entre a fome e a vontade de comer, você:

A ( ) Tentaria fazer amizade com o cozinheiro antes de responder
B ( ) Ficaria com a fome, pra pelo menos perder uns quilos
C ( ) Perguntaria qual o menu a ser negado
D ( ) Pediria ajuda aos universitários
E ( ) Todas as respostas acima

10) Com quantas horas de homem se faz um minuto de mulher?

A ( ) Trinta no inverno e duzentas e oitenta no verão
B ( ) Depende de quem estiver com o cronômetro na mão
C ( ) Depende do fuso horário
D ( ) Depende da mulher e depende do homem
E ( ) Todas as respostas acima


* Somente para uso em assembléia constituinte a ser designada unicamente para este fim.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Semana


Passou primeiro no mercado

Comprou carne de segunda

Lembrou que já era terça

E pela quarta vez teria que esperar por uma resposta que não vinha

Pensou em desaforos de quinta

Mas antes de vomitá-los se tocou que na sexta tinha uma festa

Dessas de deixar qualquer sábado no chinelo

Torcendo pra ter nascido domingo

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Fair Play


Exposto à alegria extrema, o menino, impulsivo, beijou

Por protocolo de fachada, a namorada, profissional, fingiu que não gostou

Blasé como toda sortuda

À noite fica sem defesa

Sem zaga

Suada

E muda

Levando gol atrás de gol

De trivela

Letra

Lençol

E placa

Criando memória pelos ares

Maquiagem em hematoma

Testemunhas osculares

E fetiche de sintoma

terça-feira, 6 de julho de 2010

Killing time


Banho de Lua minguante

Touro coando pensamentos

Almoço de colheita

Desapego de sobremesa

Encontros descafeinados

Instant slow motion mode on

domingo, 4 de julho de 2010

Estatísticas


1) Diz-se que:

.Rexona não te abandona

.São doze os problemas bucais

.Hidrafil anti-aging é aprovado por oitenta por cento das mulheres

.Seda reuniu sete dos maiores experts em cabelo do mundo


2) Sabe-se que:

.Cinco são as vogais

.Quatro são as paredes que cercam segredos

.Ulisses se amarrou num mastro para não sucumbir à sereia

.Correr por trinta minutos queima quatrocentas e cinquenta calorias


3) Comenta-se que:

.Pior do que não ter é não saber mexer

.Plástico-bolha é melhor que o presente em quinze por cento dos casos

.A gravidade não se chama assim à toa

.É mais fácil conhecer pessoas interessantes do que mantê-las nessa condição


4) Espera-se que:

.O amor deixe de ser loteria

.Os amigos continuem por perto

.A pantufa de jaca permaneça no armário

.Dias melhores virão

sábado, 3 de julho de 2010

Daydreaming


Sonhou que de novo era outra

Que tanto entendia

Que nada calava

Que girassóis plantava

Acordou saudosa

Do tanto que buscara

Do nada que sentira

Dos buquês que ganhara

Para abortar páginas

Domou pensamentos

Deflorou ideias

Diagnosticou o escuro

Entendeu que palavra

Para além de entendimento

É promessa

Vício

E porto seguro

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Strange love


Não tinham feito dois meses desde sua última ida à ginecologista, mas, devido a um desconforto repentino na região onde mamãe no passado encheu de hipoglós, precisou de uma consulta emergencial. Lá chegando, e antes de deitar naquela cama onde o ar circula de forma inusitada, pensou se tinha se colocado em alguma situação de risco (dessas que a gente tem ciúme e se encharca de perfume) e acabou lembrando que, há mais ou menos um mês, enquanto aguardava candidamente seu ônibus depois de sair de uma festa, percebeu o aquecimento global materializar-se na forma de um moço portador de guitarra (ou violão, ou violino, ou algo com cordas). Como quem não sabe a diferença entre a fome e a vontade de comer, deu-lhe, por uma única vez, aquele olhar que se dá quando se pretende sacar um cheque ao portador sem carteira de identidade e entrou no coletivo. Rápido como quem rouba, o mancebo já tinha pago sua passagem, sentado a seu lado e se apresentado. Em algum momento do caminho, enquanto ajeitava propositalmente o tomara-que-caia, disse, maquiavelicamente, que Debussy estava para a música assim como jiló estava para a culinária. Depois disso, as linguagens deixaram de ser verbais e foi parar em lençóis que não pareciam ter saído da corda há menos de duas semanas. Percebendo que de nada adiantaria pedir uma nova roupa de cama e com a plena consciência de que também não dava mais pra dizer: “ai, baby, deu dor de cabeça”, fez o que se espera numa situação como aquela. De camisinha, naturalmente. E, mesmo em se tratando de um perfeito desconhecido, gostou da experiência, ao mesmo tempo perigosa e excitante, afinal, ele podia bem ser um psicopata que gosta de repartir moças em quinze partes e colocar, uma a uma, no porta-malas do carro. Mas não era. Depois de tudo, ainda ofereceu-lhe café com ovos mexidos e pão dormido, ao que ela aceitou de bom grado. Só não teve a ousadia de dar-lhe o telefone, pra não abusar da sorte, que anjos da guarda também precisam de um refresco.

Após contar o ocorrido à medica, sem poupar-lhe dos detalhes sórdidos, a mesma, enquanto a examinava sem qualquer demonstração de emoção ou julgamento, afirmou que aquilo não se tratava de doença sexualmente transmissível, até mesmo porque a camisinha a protegia dessas moléstias, mas que o tal lençol de higiene duvidosa podia de fato ter sido o causador de tamanha irritação. Por fim, receitou uma pomadinha e alertou que esse tipo de coisa costuma acontecer com igual frequência ao experimentamos, sem os devidos cuidados, roupas de brechó ou figurinos mal-lavados. Foi pra casa aliviada e se pegou refletindo sobre o fato de que irritações no ouvido, cavidade também úmida, nunca geram o mesmo mal-estar do que qualquer evento na perseguida, pois buceta, querendo ou não, vem cercada de uma moral e de uma culpa que fazem com que qualquer deslize nos faça sentir trabalhadoras da Vila Mimosa. Engraçado como o desconforto nos persegue até na hora de enfrentar o olhar de soslaio do atendente da farmácia ao comprarmos preservativos, como se ninguém fizesse sexo ou como se camisinhas brotassem da bolsa justo na hora que precisamos delas.

Sabia que, mesmo quando encontrasse o homem certo para dividir a alegria da vida e parasse, por fim, de se divertir com os errados, ainda assim teria que se cuidar, já que vivemos a triste realidade onde mulheres casadas representam o grupo que a cada dia avoluma as estatísticas de casos de HIV. Talvez por conta disso se lembre de rezar todas as noites pelas amigas que vivem relacionamentos estáveis e se expõem diariamente ao sexo inseguro.

Afinal de contas, confiança ainda não vende em farmácias.

domingo, 27 de junho de 2010

Doubt


Dúvidas apostam em montanhas

Aposentam Maomé

Alimentam desafetos

Semeadas

Fazem parar ônibus andando

Certezas herdadas

E histórias de amor

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Music and me (Lyrics)


We've been together for such a long time now
Music, music and me
Don't care whether all our songs rhyme
Now music, it's music and me

Only know wherever I go
We're as close as two friends can be
There have been others
But never two lovers
Like music, it's music and me

Grab a song and come along
You can sing your melody
In your mind you will find
A world of sweet harmony

Birds of a feather will fly together
Now music, music and me
Music and me