quinta-feira, 28 de abril de 2011

Oração Rubro-Negra


Ele arrasa no skate

Odeia template

E não quer saber

De William e Kate

Ela acha normal

Tomar floral

E ter fissura

Em casamento Real

Sexta agora

Sem transmissão

Ele vaza correndo

Pra Mirantão

Enquanto a gatinha

Em plena aurora

Vai ver a plebeia

Virar senhora

Tem nada não

Domingão agora

Vão no Engenhão

Torcer pro Mengão

Devorar

Sem demora

Rodeio

Ou bola fora

Bolinho de bacalhau

Feito na hora

sábado, 23 de abril de 2011

De cor (ação)

imagem via pauloanomal.blogspot.com


Na cálida

E ávida

Estrada

Entre os nãos

Grávida dos hãos

Para lá do refrão

Está de plantão

Sem jeito

E sem chão

A fonte

Das gotas

Da vã

Ilusão

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sugar Blue (pro Caneta, Lente e Pincel)

inspirado na foto de Yasmin Hirao

Uma vez li em algum lugar que uma pessoa comia muito açúcar porque não conseguia comer ninguém. Outra vez também li que existe uma relação entre o açúcar e a tristeza. Isso foi num livro que não lembro o nome. Ando esquecida que nem aquela peixinha daquele filme infantil que tinha perda de memória recente. Como é o nome dela? Jesus, Maria, José, a manjedoura inteira, não me recordo de mais nada nessa vida. Outro dia perguntaram meu nome e demorei um pouco pra responder, mas, depois de um esforço danado, consegui. Ainda bem. Pega muito mal ter de olhar na carteira de identidade para se identificar. Mas se tem uma coisa da qual não me esqueço de jeito nenhum é de comer doce. Amo. Especialmente os massudos, carregados no recheio e na gordura hidrogenada. Ah, numa boa, sou do tempo em que se comia as coisas sem ficar analisando o tipo de colesterol nem o tipo de gordura. Acho essa mania um saco, um patrulhamento de Deus me livre. Imagina, a pessoa tá ali, no mercado e, quando vê, tem alguém olhando pro seu carrinho com ar de reprovação. Se eu vou pagar, por que a criatura fica preocupada? É ela que vai me levar no médico se eu adoecer? Segurar meu cabelo se eu vomitar? Fazer chá de erva cidreira se eu tiver gases? Não vai. Esse povo que olha torto pra compra dos outros gosta mesmo é de se fazer de light quando, na real, lá no fundo, na camada dos pensamentos, é hard pra caramba. Outro dia mesmo, na sala de espera da ginecologista, na falta de uma revista diferente de Caras, puxei conversa com uma mulher que estava ansiosa por que um determinado cidadão tinha, no auge do entusiasmo, deixado, dentro de suas entranhas, uma camisinha. Disse a ela que isso só acontecia com quem fazia sexo e que uma freira, por exemplo, estava livre desse tipo de situação, mas que, em compensação, não sabia o que era suar pelo tampo da cabeça depois de uma bela cavalgada das valquírias. Falei também, para distraí-la, do caso de minha prima Diana, que recebeu esse nome por conta da mãe dela, minha tia, que esqueceu de trocar o DIU por nove anos. Daí, quando a louca resolveu marcar uma consulta, já estava grávida de três meses. Pra quê fui falar isso? A mulher, tal qual uma narradora de futebol, contou, tim tim por tim tim, sua saga sexual com o caçador do preservativo perdido. Confesso que, mesmo tendo lido muita Simone de Beauvoir, fiquei com pena do sujeito. Pegar uma maluca desse naipe não deve ser mole não. Sabe o que ela teve a pachorra de me dizer? Que falava pro bofe que o pau dele era pequeno, só para chateá-lo e, assim, dimunir as chances dele se interessar por outra. Nessa hora não aguentei e comentei que muito mais importante do que o tamanho era a espessura, afinal de contas, um pau fino agia dentro de nós como um taco de sinuca e, venhamos e convenhamos, Rui Chapéu ficou lá atrás, na década de oitenta. Pra quê fui falar isso? Ela quis saber o que eu entendia como fino, ao que respondi que era uma questão muito pessoal, afinal, cada mulher tinha uma anatomia e que eu, por exemplo, nunca fui tão profunda ao ponto de exigir um ator de filme pornô para me satisfazer. Pra quê fui falar isso? Ela quis saber a que filmes pornôs eu me referia e se eu gostava de brinquedinhos na hora da cama. Pra me fazer de fina, disse que um chantilly já tava bom. Pra quê fui falar isso? A doida enlouqueceu de vez e disse que esse tipo de guloseima só ajudava o organismo a acumular radicais livres e que eu já não era mais criança para me dar a esses luxos. Ainda bem que chegou minha vez de ser atendida, senão era bem capaz deu falar pra ela que radical que nem ela devia estar tudo preso, pra deixar os outros viverem em paz e correrem o risco que quisessem, afinal de contas, sem risco mesmo, só o pão sem glúten que ela come de manhã.

Sinceramente, eu prefiro o jejum.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Receita




imagem via alaaleali.tumblr.com

Para mágoas nadadoras

Campeãs

Federadas

Esvazie piscinas

Esqueça morfinas

E mate-as

Asfixiadas

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Número primo (pro Clube da Leitura)


imagem via alaleali.tumblr.com

Oi, boa noite, meu nome é Helena, sou personagem de telenovelas e gostaria de passar minhas impressões sobre como é viver do lado de cá da folha de papel, posto que hoje em dia o povo só quer saber quem foi o autor dessa ou daquela ideia e esquece completamente que o pilar de uma boa dramaturgia está nos personagens que lhe dão vida. Outro dia, inclusive, entre uma gravação e outra, conheci um personagem de comédias românticas, dessas onde o casal protagonista acaba sempre feliz no final, dizendo ‘eu te amo’ e ‘você é a luz da minha vida’. Pois bem, esse personagem me contou que, depois que começou a fazer esse tipo de trabalho, ficou tão esperto, mas tão esperto, que, volta e meia, sem perceber, se pegava citando Leminski, Dante e Lope de Vega e que isso, por mais que aumentasse sua credibilidade, em nada colaborava pra construção de relações saudáveis, fossem de amizade, sexo casual ou monogamia. A propósito, alguém sabe me dizer se a monogamia caiu com a reforma ortográfica? E os pingos nos ‘is’, também caíram? Estou tão confusa hoje que seria capaz de andar da minha casa até Salvador levando comigo só água e sonhos. Não os de padaria, mas aqueles dos quais a gente nunca desiste, independente do passar do tempo, da perda de colágeno e da incapacidade de rir de nossa própria ignorância. Mas, voltando, esse personagem, um tipão, diga-se de passagem, me pediu pra ajudá-lo na pesquisa de campo pro papel que ele havia sido escalado, de um jovem bem-nascido que gostava de se passar por pobre pra ganhar popularidade entre as dançarinas de maracatu. Na hora sugeri que fôssemos à Lapa, berço da burguesia folclórica, da cerveja barata e do alpinismo social. Depois de sermos abordados por uns quinze vendedores de bijuterias que prometiam dar um brinco de amostra grátis em troca de um minuto de atenção, começamos a conversar sobre como a mania de magreza já não era mais privilégio do pessoal da vida real e que os primeiros casos de anorexia nervosa em personagens vinham sendo abafados pela grande imprensa. Papo vai, papo vem, me senti à vontade de dizer que me achava gorda, ao que ele respondeu que não, que mulheres como eu, peitudas e graúdas, davam às vezes a impressão de serem gordas, mas que, sem roupa, mostravam ao que vinham e faziam um serviço infinitamente melhor do que as magrelas que tinha de traçar em nome da dramaturgia. Na hora fiquei sem ter o que dizer, pois, apesar de considerar a sinceridade uma coisa positiva, aprecio a sutileza, nem que seja em gotas. Mas, como sei que tudo acaba se resolvendo nos capítulos finais, achei por bem aceitar o elogio chucro como se poema lírico ele fosse, senão corria o risco de acabar sozinha que nem aquele pessoal das tragédias gregas. Deus me livre, faço qualquer coisa pra não descer ao inferno da solidão, primeiro que não tenho mais idade de fazer a egípcia e, segundo, porque já vivi o suficiente pra saber que, quando se olha em volta e só o que se avista são variáveis sem constantes, qualquer número primo tá valendo. Assim, fui lá somar com o personagem pra ver onde ia dar a equação. No final, depois de tanta matemática, entendi que de quatro ninguém é normal e isso já foi um aprendizado e tanto. Se duvidar, uso essa nova sacada pra passar pruma novela das oito. Potencial é que não me falta. Gilberto Braga que me aguarde.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Gestalt

imagem via alaaleali.tumblr.com


O ponto final

E seu traço

De enferrujar compassos

Assustar parágrafos

E chamar a harmonia

De falsa alegria

Aborta

(Inclemente)

O esticar dos laços

O sabor do mormaço

E o rufar da poesia

Que se cria

Para além

Daquilo tudo

Que se queria

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Falanges


imagem via pauloanomal.blogspot.com


A mão que bate a siririca

É a mesma que lava a hortaliça

E que morre de preguiça

De abrir garrafas

Tirar farpas

E dar pistas

terça-feira, 5 de abril de 2011

Gimme a break


imagem via alaaleali.tumblr.com


Dormir é uma arte


Acordar

(My friend)

Faz parte