quarta-feira, 30 de julho de 2014

Bairrismo mon amour



Copacabana é o metro quadrado onde cabem mais velhos no mundo. Faça chuva faça sol, tem sempre um pedindo ajuda, seja diretamente com um: '-eu sei, filha, que teria que ser alguém do banco, mas ninguém aparece, então você me ajuda a fazer essa transferência, por favor?', seja indiretamente, através daquele lançamento de olhar oblíquo na porta do mercado, que faz com que a gente imediatamente se sinta obrigado a ajudar aquela criatura a atravessar a rua, a pegar um táxi, ou, até mesmo, a dar uma reclamadinha da vida pra algum humano, porque bicho, apesar de fazer companhia, não responde. Pelo menos não com palavras.

Pois bem, hoje, depois de duas semanas fora de casa, voltei à minha princesinha do mar e, de cara, vi um coroa só de sunga, com a chave de casa amarrada em uma espécie de cinto de barbante e o dinheiro pro chopp provavelmente nas partes que não tomam sol. A languidez de seu caminhar dava a pista de quem anda devagar porque já teve pressa de criar filhos, pagar contas e responder sim senhora à esposa.

O velho é tudo que sobra depois que tudo que era obrigatório foi embora.

O velho é a criança sem tanto futuro assim.

É a esperança de que o passado, da forma que foi, até que deu certo.

É o melhor amigo do cachorro.

É o foda-se consentido.

É a certeza de que tudo vai bem quando acaba bem.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Macia por dentro



Não sei por que motivo. 

Talvez pelo desejo de tomar um chocolate quente no meio dessa tarde gelada.  Talvez pela dificuldade que estou enfrentando em escolher cinquenta poemas pra mandar pras editoras no intuito de ser publicada (o que me fez reler todos os textos que escrevi nesses últimos nove anos). 

Não sei dizer.

Só sei que me lembrei agora de um episódio de minha vida. 

Foi quando pisei pela primeira vez que no Mercadão de Madureira pra fazer pesquisa de personagem prum documentário. Depois de entrevistar várias pessoas, fui fazer compras. Me peguei vendo calcinhas numa loja. Minha expressão devia estar transmitindo tanta decepção - afinal, as peças não conseguiriam cobrir nem um terço de minhas ancas - que uma das vendedoras, diretamente de detrás do balcão, em alto e bom som, disse:

'-Ném, a parte das vitaminadas é ali do lado!' 

Demorei um pouco pra entender que era comigo. Pronto. Precisei ir ao Mercadão pra me definir: sou vitaminada. 

Caminhei até o referido setor e vi um monte de calcinha que cabia em mim. Aliás, elas não só cabiam, mas, além disso, valorizavam meu feitio de corpo, do exato jeitinho que sou. 

Nada contra quem não tem carne de manobra. Tem espaço nas fantasias masculinas pra todas nós.

Acho que lembrei esse episódio do Mercadão porque vi que em nove anos de blog um dos pontos centrais de meu discurso sempre foi o de ir contra essa mania que as novelas e as propagandas têm de querer nos encaixar em um único padrão de beleza e de comportamento. Tudo bobagem. Dá pra ser manequim 42 e ser linda. Dá pra dar de primeira prum cara e não ficar achando que ele sumiu por conta disso.

No dia que a gente começar a se amar do jeito que a gente é a grande revolução começa. 

E nunca mais acaba.

O importante é ser macia por dentro, pessoal.

Agora vou tomar um chocolate quente.

Beijos floridos.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Romanticuzinho 259



Esse cara é o mais safado

Quer o cu e quer

Raspado

domingo, 27 de julho de 2014

Romamticuzinho 258



Debaixo do edredon

Tua flauta

Dá o tom

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Romanticuzinho 257



Tudo que eu posto ele curte

Acho é que esse moço

Quer meu iogurte

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Romanticuzinho 256



Pelo gabarito do teu instrumento

A chave que vou te dar

Abre só por dentro




quinta-feira, 17 de julho de 2014

Avulsinho 1



O pedreiro bate

De nada vale engov

Obra como pode?

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Romanticuzinho 255



Sou flor que te põe banca

Da anca pra cima escracho

Da anca pra baixo, potranca