sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Cinco falas que já estão roucas




1) Quando cheguei já estava assim

2) A coleta da minha alma é seletiva

3) Eu nunca disse que daria certo

4) Minha espera está com pressa

5) Se precisar posso até jurar

domingo, 18 de dezembro de 2011

Cinco perguntas que vão morrer solteiras



1) O que dar de natal pro ano novo?

2) De onde vieram os fins que justificam os meios?

3) Pra onde vão os sotaques perdidos?

4) Por que tem dias que a noite é foda?

5) Quem semeia vento não deveria colher energia eólica?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Sistema operacional


Certas coisas na vida

Não têm devir:

Melhor demorar pra baixar

Que pra subir

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Wet & wild


Deixa a chuva molhar

O que foi feito pro tato

Sem essa, brou!

Chapinha é pros fracos

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cinco máximas que não nos dão a mínima



1) Com o tempo você se acostuma

2) Não era pra ser

3) Tá acabando, depois melhora

4) Na hora da sede você pensa em mim

5) Quem espera (de pé) sempre alcança varizes

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Jogging


Enquanto amanhece na babilônia

E sua dúvida se aquece

Aceita:

É a insônia que de ti padece

sábado, 10 de dezembro de 2011

Neutrons


O turn off está faltando no estoque

Ele e o retoque

Mas não há quem se choque

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Cinco coisas que ficam claras só quando olhamos pelo espelho retrovisor da vida



1) O que passou, bom ou mau, é argila para esculturas futuras.

2) O que não tinha remédio, normalmente remediado nunca esteve.

3) O ótimo, na acepção de nossas ilusões, sempre foi inimigo do bom.

4) Em se tratando de amor, toda palavra é muita.

5) A paranoia do vizinho tem o dom de ser mais verde.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Leminskiando 3

pick by Chema Madoz


Inferno

É porre de vinho tinto

Escrever

É ab-sinto

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Paradigma da ocupação (ou baixaria lírica no blog dos outros é refresco) parte 2




Não se perca na procura:

Mais importante que o tamanho

É a espessura

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

P.F.



Na hora que muito se fala

O sentido desata

Provando

(Na lata)

Que língua

É bom

Com batata

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Clouds




Ponha a mão à palmatória

Se nunca

Paranoias lambisgoias

Trotaram em suas memórias

Pra ver

Se amanheciam

Histórias

domingo, 27 de novembro de 2011

Esperando Godot versão ‘fuck my face, it’s free’ (ou teatro do absurdo no blog dos outros é refresco)





Jorge e Jeniffer, que depois vocês vão ver quem são, conversam:

-O que não fazemos por uma boa foda?
-A pergunta tá errada.
-Como?
-O certo seria perguntar: que tipo de coisa a gente faz para garantir uma boa foda?
-Dá no mesmo, filha.
-Dá nada.
-No fundo, o importante, pruma pessoa como você, é dar.
-É dando que se reflete.
-Ah, isso é.
-Foda isso.
-É, foda.
-...
-...
-...
-...
-Onde se compra camisinha feminina?
-Alguém usa aquilo?
-Deve ter alguém que use.
-Você aprendeu a usar?
-Não.
-Conhece alguém que use?
-Não. Você conhece?
-Não.
-Nunca fomos assim tão bem relacionados...
-É, nunca...
-...
-...
-...
-...
-No Mundial a Stella Artois tá 1,99.
-Por isso te disse, quando você quis virar evangélica, que não dava pra aceitar Jesus nesses termos.
-Você tinha razão.
-E quando eu não tenho razão, filha?
-Aí você teria que me dar um tempo pra pensar na resposta.
-...
-...
-...
-...
-Pensou?
-Não, que horas são?
-Hora de parar com essa prosa antes que ela vire uma D.R.
-Mas D.R. é só pra quem tem relação, nós somos amigos.
-Será que existe D.R. após a morte?
-Não fala isso nem brincando, homem!
-Não me chama de homem que eu fico de pau duro.
-O pau é seu, não posso fazer nada se ele fica duro.
-Pode sim.
-Não começa.
-Posso então terminar?
-...
-...
-...
-...

FIM (SERÁ?)

PS: Em nome da sub-gerência, pedimos desculpas pela supressão da descrição dos personagens Jenifer e Jefferson, prometida no início desse post, mas, por questões estéticas, ela acabou caindo na edição. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Dez coisas que, ao nos encherem de alegria, provam que nosso coração é côncavo



1)Saber que uma grande amiga está grávida.

2)Ver de camarote um(a) pupilo(a), a quem você ensinou tudo que sabia, arrasando.

3)Encontrar uma resposta onde nem sabia haver pergunta.

4)Mergulhar em matizes invisíveis e delas fazer seu próprio arco-íris.

5)Subverter a matemática ao dar o que era pra ser recebido.

6)Nadar em águas desconhecidas sem bote salva-vidas.

7)Ter a certeza de que é na dúvida que se escala a montanha da confiança.

8)Entender que o sal de cada lágrima um dia será um tempero e tanto.

9)Pensar em projetos como crianças que estão aprendendo a andar.

10)Ter alguém para dividir o pão, nem que seja o que o diabo amassou.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Portuguesando




O que foi que o acento falou pro sujeito?

-Quer moleza? Senta na oração subordinada!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Fever




*inspirado em frase de Mario Lago


Quando se está doente

Ou descontente

O mínimo que se pede

É uma coincidência

(Quiçá uma indecência)

Algo que extraia da paciência

A capacidade de nadar na crise

E de impedir

Que o último a sair

Apague o arco-íris

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Uai?


Quem vai perguntar pra falta

Por que ela é a mais alta

Das presenças?

Ou pro hai cai

Por que ele é a calma

Da essência?

Quem não se importa

Em ver morta a paciência?

Em cantar em alto brado

Retumbantes conivências?

Um sujeito

Pra que faça tudo isso

Ou no fundo é muito arisco

Ou lhe falta experiência

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Estopim


desenho via danielamariamartins.blogspot.com


-Fecha os olhos e abre a mão.

-É surpresa?

-O que você acha?

-Acho que é surpresa.

(PAUSA PARA OLHARES LÂNGUIDOS).

-Sabia que eu acho isso muito legal?

-Isso o quê?

-Isso de você ser uma menina de opinião.

-Como assim menina de opinião?

-Ah...

-Ah o quê?

-Ah, todos os assuntos, qualquer assunto, outro dia você ficou conversando com meu pai sobre o Carpegiani.

-Craque.

-Tá vendo?

-Tá vendo o quê?

-Opinião pra tudo.

-Mas dizer que o Carpegiani era craque não tem nada de opinião, tá mais pra categoria dos fatos do que das opiniões, se me permite (aí sim) uma opinião.

-Hahahahahahaha.

-Quê foi, risadinha?

-Hahahahahahaha.

-Quê foi?

-Nada.

-...

(PAUSA PARA PEQUENO TOQUE DAS MÃOS).

-Será que agora você poderia fechar os olhos e abrir a mão?

-Ah, claro, a surpresa.

-Hahahahahahaha.

-Se é que se trata de alguma surpresa, pode ser só o seu certificado de reservista.

(PAUSA PARA RISADAS MÚLTIPLAS)

Óbvio que não era certificado nenhum.

Aliás, o que era ou deixava de ser não importava em absoluto, pelo menos não pra eles, que pareciam achar bacana esse espaço localizado entre fome e a vontade de comer.

Onde quem fala mais alto é a língua dos relevos.

Mas quem manda mesmo são as faíscas.

E, é claro, as curvas.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sweet


Leveza

É descobrir no certo

Um toque de surpresa

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Oraculum


Diga-me com quem flanas

Que te direi

Se és

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Sei não...


Contramão

Sem razão

É mar de senão?

domingo, 6 de novembro de 2011

Menos uma diva, mais uma estrela


Ontem foi enterrada uma grande dama: Diva Lyra, professora e compositora que tive o prazer de conhecer, já que minha mãe interpreta há anos várias de suas músicas, algumas bem deliciosas, diga-se de passagem.

Dona Diva gostava de frutas cristalizadas e, volta e meia, pra dar uma puxadinha de saco, eu ia à Casa Pedro e comprava-lhe um saquinho sortido. Pois bem, de agora em diante, não tenho mais pra quem comprar esses quitutes que particularmente detesto.

Engraçado como na vida há certos ritos que vão-se embora junto com seus mitos.

Engraçado também o que dizem por aí a respeito das grandes damas, que elas sabem a hora de partir.

Se assim for, então, que Chiquinha Gonzaga te receba ao som de 'Lua Branca', querida.

Com todo meu amor,


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

SMS


Cada coisa viva que pelo tempo passava dizia-lhe ao pé do ouvido:

De todos os erros, quero que me cometas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Good jobs are forever


SEQ ÚNICA- LOFT DE PRODUÇÃO-INTERIOR-TARDE

Produtora chega, dá bom dia a todos e fala com assistente.

-E aí, querida, ligou pra assessoria da banda da semana que vem?

-Liguei.

-E eles?

-Disseram que vão lançar o release assim que a gente mandar a foto em 300 DPI.

-E já não mandamos?

-Estamos esperando o OK do Nelson, ele ficou de decidir qual era a melhor de três pré-selecionadas na última reunião.

-E cadê Nelson?

-Não atende o celular desde 9h.

-E cadê as fotos?

-Aqui na minha máquina, vem ver.

Produtora vê as fotos, aponta pra do meio da tela.

-Essa tá ótima, manda essa pra assessoria e deixa um recado no celular do Nelson dizendo que, na ausência de OK no prazo combinado, mandamos a foto que achamos melhor. Aproveita e manda a foto pro email dele também.

-Pode deixar.

-E João, deu notícia?

-Ainda não.

-Mas você ligou pra ele e ele não atendeu, foi isso?

-Não, eu tô esperando ele retornar...

-Assim, tranquila?

-...

-Aprende uma coisa, xuxu, produtor não fica tranquilo, produtor telefona.

-...

-Hoje mais tarde vai fazer alguma coisa?

-Como?

-Vamos todos a um karaokê, pra relaxar e preparar pro set de domingo, bora?

-Poxa, eu adoro karaokê.

-Sabe cantar ‘Evidências’?

-Hahahahahahaha. Lógico.

-Maravilha, então, liga pro João e me passa por email o que ele disse a respeito do orçamento. Se ele começar a dizer que tem três opções pra cada item, você diz pra ele escolher, que a gente vai na dele, senão ele fica quarenta minutos falando de valor de mercado e ninguém merece.

-Tá bem.

-Qualquer coisa, manda mensagem, tô entrando numa reunião mas te respondo anyway.

-Ok.

-Às nove devo tá de volta pra te pegar, o pessoal do figurino vai guardar uma mesa pra gente. Agora fui.

-Tchau.

Era a primeira vez que a chefe chamava a assistente pra sair.

Era também o primeiro trabalho da garota que costumava anotar na última folha do caderno todas as informações importantes que tinha medo de um dia vir a esquecer.

A daquele dia era ‘produtor não fica tranquilo, produtor telefona’.

Até que fazia sentido.

Respirou fundo e ligou pro João do orçamento.

Não sem antes colocar pra tocar seu hit predileto do Chitãozinho e Xororó, pra já ir fazendo um esquenta na alma.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Leminskiando 2


Lendo um antigo escrito

foi que entendi:

criança eu era infinito

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Dez coisas que não são feitiçaria, são tecnologia


1) 1)Pompouarismo

2) 2)Artefatos pós-banho da Sebastian (curly hair)

3) 3)Fé sem hipermetropia

4) 4)Pilates

5) 5)Começar do começo

6) 6)Saber curtir o meio

7) 7)Ouvir até o fim

8) 8)Perdoar o imponderável

9) 9)Ponderar o imperdoável

1010)Usar todo o potencial escondido na ponta dos dedos

sábado, 29 de outubro de 2011

Ab (negado)


A mentira

(Sempre insistente)

Veio dizer

Que inconveniente

É o que a verdade

Faz com a gente

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Trees


Aquarela by Carla Böhler


Se está em mim

E tem cheiro de jasmim

Só pode ser sim

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Leminskiando


Liguei pro vazio

Do telefone sem fio

E caiu no arrepio



terça-feira, 25 de outubro de 2011

Nonsense me


A unha quando encrava

Na lágrima que trava

A língua escrava

Deixa a gente

Muito brava

domingo, 23 de outubro de 2011

Domingueira pé no chão 2 (ou há tempos o encanto está ausente e há ferrugem nos sorrisos)



Como quem retoca o gloss, puxa uma conversa:

-Seu coração já acumulou milhas suficientes?

-(Dilatando as pupilas) Como?

-Seu coração, baby, já acumulou milhagem pra viajar sem rumo comigo?

-...

-Porque um dia você vai querer uma companhia pra viajar sem rumo...

-Acha mesmo isso?

-Tenho tipo certeza.

-(Com um meio sorriso) E isso é tipo o que você mais gosta em mim, né?

-Gosto de gente que tem asas nos olhos.

-...

-...

-...

-Posso fazer uma proposta?

-Deve.

-Bora ocupar minha boca com coisa mais concreta que palavras?

-Ah, muleque...


MORAL DA HISTÓRIA:


Discutir uma relação que ainda não existe: 28 dores de cabeça.

Saber que tudo tem seu tempo: Não tem preço.

Para a maioria das coisas existe a ansiedade.

Pra todas as outras existe o atentar.


FIM (Será?)

sábado, 22 de outubro de 2011

Pista


Um só deslize

E sua alma

Tinha feito

Strip-tease

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Wonder


ilustração de Paulo Anomal

Me contento

Em ser do tempo

Do ‘se eu não lembro eu não fiz’

Mas agora

É aurora

E só me sobra

Ser feliz

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Labirinto


A

Saída

É

Deixar

A

Entrada

Se

Insurgir

Avenida

terça-feira, 18 de outubro de 2011

CPF


O pessoal e intransferível

É passível

De ir dormir paciente

E acordar temível

domingo, 16 de outubro de 2011

Cinco frases indicativas de que o gato pode ter subido no telhado


1)Foi de repente.

2)Ontem tinham me falado outra coisa.

3)Na verdade, na verdade, eu nem trabalho aqui.

4)Costumam dizer que antigamente dava certo.

5)O pior que pode acontecer é você ter de fazer tudo de novo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Grêmio Recreativo


Disfarçada de samba, a alegria perguntou:

-Com que roupa eu vou pra onde ninguém me convidou?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Business


O ócio

Do amor próprio

É sócio

Da propaganda

Sem negócio

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Vida que segue (pro Clube da Leitura)


Quando depois de vinte anos duas amigas de colégio se reencontram, as agruras e delícias da adolescência vêm à tona como se apenas cinco minutos tivessem se passado. Tudo tem cheiro e sabor e quase nada escapa à memória:

-Lembra quando a gente foi pega fumando no banheiro do quinto andar?

-Claro, você que cismou que eu tinha que fumar!

-Ah, coitadinha, tão ingênua.

-Ingênua não, medrosa!

-Medrosa pra fumar, mas pra dar...

-Olha o respeito!

-Fala sério, mané respeito, você já dava até a retaguarda pra se manter virgem enquanto eu nem beijar na boca beijava.

-Sabia que minha filha usa um termo pra quem não beijou na boca ainda? É uma sigla...

–B.V.?

-Isso mesmo.

-Sua filha é B.V.?

-Diz ela que sim.

-Então trocaram ela na maternidade.

-Boba! Mas fala de tu.

-Ah, eu casei duas vezes, separei, fiz dois abortos e tô aí na pista.

-E como tá a pista?

-Lotada!

-Sabe que eu tenho saudade de sair pra paquerar?

-Normal, né, baby, a gente sempre quer o que não tem.

-Pois é...

-Quê carinha é essa?

-Ah, às vezes me questiono se fiz a escolha certa, sabe?

-Como assim?

-Tipo, meu homem é maravilhoso, companheiro, paizão, tudo certo.

-Então qual o problema?

-Ele tem distúrbio de ansiedade.

-Que porra é essa?

-Tipo ele tem umas palpitações, uma angústia no peito, às vezes tem até que tomar tarja preta, um saco.

-Mas isso interfere na performance?

-Que performance?

-Que performance, sua putinha?

-Hahahahahahaahahahahahahha!

-Interfere?

-Claro que não, sexo até melhora ele.

-Doencinha boa essa então.

-É, homem perfeito num tem, né?

-Até tem, mas tá tudo morto.

-Você continua uma figura, e aí, tá namorando?

-Tô saindo com um carinha aí.

-Legal ele?

-Legal, mas morre de medo de se envolver.

-E você não, né?

-É, eu também...

-Vou te falar uma coisa, do alto da minha baixa temporada: melhor tá solteira do que casada com homem broxa.

-Ou grosso.

-Ou indiferente.

-Ou galinha.

-Galinhas todos são...

-Até se apaixonarem...

-Menina, a gente tá disputando um campeonato de quem fala mais clichês?

-Hahahahahahahahaha!

-Mas num é? Num falamos nada de novo até agora.

-É.

-Mas, também, o que é novo nesse mundo?

-Meu vibrador, comprei semana passada, lindo, o tal do rabbit.

-É bom mesmo?

-Não dá vontade de sair de casa, filha, uma coisa.

-Isso deve ser bom pra gente frígida.

-Pois então, eu até os trinta nunca tinha gozado, depois que comecei a adquirir brinquedinhos, sou praticamente uma deusa do sexo.

-Hahahahahahha.

TOCA O TELEFONE

-Ih, é o maridão (ATENDE) Oi, mozão, sabe quem eu encontrei? A Bella, que estudou comigo, tamo aqui na maior fofoca. (PAUSA) O quê? (PAUSA) Fica calmo, mozão, você sabe que não é nada no coração. (PAUSA) Tá com o frontal aí? (PAUSA) Então, toma metade que tô indo te buscar, tá? Te amo.

-...

-Vou ter que ir amiga, maridão tá freak.

-Vai lá, então, melhoras pra ele.

Se despediram sem saber quando iriam se encontrar de novo.

Mas de uma coisa tinham certeza: felicidade dos outros é cristal.

Já a nossa, pedra bruta.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Para Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito e Alcides Caminha


Tire

O

Seu

Juízo

Do

Caminho

Que

Eu

Quero

Passar

Com

O

Meu

Humor

domingo, 9 de outubro de 2011

Domingueira pé no chão (ou disciplina é liberdade)


SEQUÊNCIA ÚNICA- QUALQUER LUGAR- EXT- DOMINGO

Rapaz e moça conversam.


-Você é ciumenta?

-Se eu sou ciumenta?

-É?

-Acho que sou normal.

-Defina normal.

-Posso ser sucinta?

-Deve.

-Acredito mais no respeito do que na posse.

-Legal.

-E você?

-Se sou ciumento?

-É.

-Acho que sou que nem você, adepto do respeito.

-Ponto pra nós.

-É.

-Até mesmo por que, quem se prende é a própria pessoa.

-Como assim?

-Por exemplo, se eu fosse sua gatinha, não ia adiantar eu tentar te prender a mim, só você teria essa capacidade.

-E esse desejo...

-Isso mesmo, quer chiclete?

-É de quê?

-É dado.

-Hahahahahahaha, você é divertida.

-Ser divertida é apagar determinados incêndios com conta-gotas.

-Nossa, isso foi uma metáfora?

-Sabe que até hoje não sei direito o que é metáfora?

-Jura?

-Se precisar eu juro, uai.

-Você é mineira?

-Nada, carioca.

-Num parece.

-Por quê?

-Sei lá, essa pele cheia de sardinhas, parece gente de fora.

-Minha mãe é galeguinha, mas minha vó era negona.

-Legal.

-Mas fala mais das metáforas.

-Você não aprendeu isso na escola?

-Essa aula devo ter matado.

-Metáfora é uma figura de linguagem que compara duas coisas, tipo: ‘você é uma gata’.

-Obrigada.

-Sério, se você é uma mulher, não pode ser uma gata, portanto, se eu te comparo a uma gata sem dizer que você é 'como uma gata' ou 'tal qual uma gata', isso é uma metáfora, entendeu?

-Nossa, morri agora.

-Para com isso...

-(Risos).

-'Morri' é exagero, vai...

-Não é exagero, é hipérbole.

-Olha só, que danadinha...

-Foi só à aula de metáfora que faltei.

-Maneiro.


Continuaram nessa por horas, apalpando suas almas em braile.

Aceitando o escuro.

Pra ver se dissolviam os temores que insistem em nascer do cansaço.

E da solidão.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Liquidação


Não me venha com pirraça

Nem com alma cheia de traça

Que sorriso, ném

Sempre foi de graça

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Flesh and blood


Não se assuste

Com o embuste

De que é feio

O que te sobra

Mais vale o recheio

O esteio

E a carne de manobra

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Pêndulos


Alvos em movimento

São difíceis

Até pro tempo

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Despertador


Bom dia britadeira

São (só) oito e meia

E você já me odeia

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Se o mel faz bem, então tá bom (pro Clube da Leitura)


Uma amiga que sempre teve no mínimo dois amantes por vez me contou uma coisa interessante que eu gostaria de dividir com vocês. É uma coisa aparentemente boba e óbvia, mas vale o registro, que é o seguinte: ‘homem traído precisa de muito agrado matinal’. Confesso que sempre ouvi com reserva as colocações dessa minha amiga, afinal, falar assim do próprio homem, pai de seus filhos, era, no mínimo, cruel. Mas como ela é minha amiga e sabe que mais discreta do que eu só mesmo a Lady Di (que Deus a tenha na paz e na luz), fica me enchendo o ouvido com seus truques de infidelidade. Na verdade o que eu quero mesmo dizer é que o problema não foi ela ter contado essa história do agrado matinal, isso aí é pinto, quando ela bebe me conta cada detalhe que às vezes demoro meses pra esquecer.

Pois então, voltando, um dia (lembro bem, era um sábado e dava pra ouvir o barulhinho da feira lá no fundo), resolvi testar com Adalberto, meu esposo, o tal agrado. Pensei: Adalberto gosta de iogurte com mel no café, então, vou usar seus ingredientes prediletos pra coisa ficar mais apetitosa. O problema começou já na cozinha, meu filho mais velho, Adalbertinho, de seis anos, estava ligado no duzentos e vinte, comendo biscoito recheado e perguntando quanto tempo faltava pra gente ir no zoológico. Disse a ele que teríamos de esperar papai acordar para decidir e que a melhor coisa a fazer seria assistir a um dvd bacana pra passar o tempo. Como ele é um menino muito obediente (tem gente até que diz que ele parece um funcionário público, veja só), se encaminhou para a sala, não sem antes me fazer a pior pergunta que poderia ser feita num sábado de manhã:

-Mamãe, você vai tomar café na cama com papai? Posso também?

Pronto, tive que morrer num dinheiro e mandei o garoto pra lan house pra ver se ele esquecia essa coisa de café na cama. Despachado o moleque, entrei no quarto pé ante pé, descobri meu digníssimo, lancei o mel na minha boca (nessas horas agradeço a Deus não ser diabética) e dei um jeito de ocupá-la com classe, ritmo e estilo. Maridão abriu os olhos e ficou como? Alegria pura, ainda bem que o nosso mais novo tem sono pesado e nem percebeu as estocadas que dávamos com a cama na parede por pelo menos uma hora. Pensa bem: que mulher tem isso? Uma hora inteira de sexo com o homem que é seu marido há uma década inteira? Eu não conheço nenhuma, pelo menos lá na repartição ouço tanta reclamação que tem dias que vou até me benzer pra não deixar entrar olho gordo. Pois bem, acabada a aeróbica, tomamos um banhozinho na suíte, fomos almoçar com as crianças, depois pegamos um pedalinho na Lagoa. Me lembro de ter pensado que minha amiga realmente sabia das coisas e que nada podia ser mais normal do que agradar a quem se ama, ainda mais de manhã e coisa e tal. O devaneio era tamanho (cheguei a planejar uma viagem sem as crianças, pra que pudéssemos nos dedicar à arte do bem acordar) que nem entendi bem quando Adalberto me lançou a pior pergunta que poderia ser feita num sábado à tarde:

-Querida, você tem esse amante há quanto tempo?

-Amante que amante?

-Mulher sem culpa não acorda o marido do jeito que você me acordou hoje.

-Você não gostou, mozão?

-Gostar eu gostei, mas você vai ter de me dar o nome dele.

-Dele quem?

-Do seu amante.

-Mas eu não tenho nada disso.

-Vamos voltar pra casa.

Durante as semanas seguintes, Adalberto ficou tão ensimesmado que chegava a dormir de bermuda jeans. Sem saber muito o que fazer, procurei minha amiga, afinal, ela que tinha dado a dica, de repente sabia como me tirar dessa. Sabe o que a vaca me disse? Que nunca tinha sido fiel pra dar conselho a mulher honesta nenhuma, que eu enfiasse minha honestidade goela abaixo, que era bom ter acontecido isso comigo preu parar de achar que meu casamento é perfeito, com meus filhos perfeitos, meu apartamento perfeito e blá blá blá. Se eu tivesse conseguido contar quantas vezes ela usou a palavra perfeito, daria mais de trinta e cinco fácil. Ou seja, tava puxado pra ela a minha felicidade.

Mas fui Poliana e levei a coisa pelo lado bom, até mesmo por que, depois de ter cortado um dobrado pra convencer Adalberto que vi essa tática do melzinho no programa da Sue Johansen, ele se empolgou com a coisa e aqui em casa tá um verdadeiro apiário do amor.

Quanto à minha amiga, parece que está agora com três amantes e um casinho do sertanejo universitário, que não considera como amante e sim como aprendiz. Outro dia nos encontramos na ioga e ela me disse que tinha umas dicas quentes e que a coisa toda envolvia comida japonesa.

Fiz a aula de ioga com força.

O resto foi silêncio.

E gemidos.

E carne crua.

E hematomas.

Exatamente nessa ordem.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Amarcord


Se o que os olhos não veem

O coração não sente

Que dizer

Do mirar sem retina

(E da prosa sem rima)

A inundar

De mar

Essa ilha

Que é a gente?

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Auge


Atire a primeira pedra

Se nunca na vida

Logo ao chegar

Se fazia despedida

domingo, 25 de setembro de 2011

True colors


Vaidade

É a verdade

Depois de uma certa idade