-Como assim não lembra?
-Não lembrando, amiga...
-Fala sério!
-Tô falando!
-Vamos recapitular: quando eu saí do bar, você tava contando aquela história clássica do encontro nacional de estudantes de comunicação.
-Vixe...
-Disso você lembra, né?
-Nada.
-Hahahahahaha.
-Eu contei a história toda, foi?
-Aham.
-Ai, ai...
-Mas super no salto, não tava dando a menor pinta de Heleninha...
-Tá, mas já tava dando sinais de que sou permissiva depois de uns drinques...
-Isso sim, mas quem não é?
-...
-Vejamos o lado bom da coisa: a permissividade no caso em questão foi produtiva, né?
-Sim, fato. Mas a pergunta que não quer calar permanece: será que eu dei pro Johnny?
-Isso é mole de descobrir, vai.
-Então me ajuda, fazendo o favor!
-Quando você acordou, sua calcinha tava onde?
-No banheiro, pendurada no box.
-Molhada ou seca?
-Molhada.
-Hummm...
-Não prova nada, né?
-Não, porque pode ser coisa de bebum, que quis tomar banho e lavar a calcinha, só pra mostrar que é limpinha.
-Pois é...
-Tava ardida de manhã?
-Tava.
-Melada?
-Um pouco.
-Então, filha...
-Se a língua e os dedos dele não fossem tão ferozes, não haveria dúvidas...
-Ué, da língua e dos dedos você lembra?
-Então, lá no bar mesmo, ele foi atrás de mim no banheiro e o bicho pegou...
-Gente...
-E o pior é que não rola de perguntar esse tipo de coisa pro bofe, né?
-Nunca, jamais, em tempo algum! Mas olha, na boa, se tivesse rolado, você se lembraria. Essas coisas marcam e você sabe disso!
-Sim, mas também sei que com o Felipe já rolou de dar e não lembrar de nada no dia seguinte, a ponto dele ficar puto pra caralho!
-Jura?
-Cara, se isso te satisfaz, eu juro...
-Jesus! Nunca vi disso na minha vida!
-Menos, amiga!
-Tô falando sério. Pra mim é impossível dar e não lembrar, porque buceta tem memória.
-Se tivesse mesmo, tu já teria parado de dar pro Carlos há séculos, vai!
-Hahahahahahahaha. Que maldade!
-Maldade?
-É. Coitado do Carlos, ele não é tão mau assim...
-Ô...
-Mas vamos ao que interessa: ao acordar, você deu uma busca em volta da cama?
-Sim!
-Achou alguma camisinha?
-Não!
-Sinal de que não rolou nada então, afinal, o Johnny é um cara responsável...
-A responsabilidade é inversamente proporcional ao número de taças, amiga!
-Isso é! E champagne é foda...
-Ô!
-Tá, vamos nos concentrar: quando você acordou, ele tava na cama ainda?
-Não, tava preparando um café.
-Trouxe pra você na cama?
-Trouxe.
-Tinha ovos mexidos?
-Que pergunta...
-Tinha ou não tinha?
-Sim, tinha, com bacon.
-Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
-Ah o quê?
-Rolou, filha!
-Como você pode ter tanta certeza?
-Vou reconstruir a história, tá bem?
-Tá!
-Ele acordou mais cedo e, como cavalheiro que é, recolheu as camisinhas ao redor da cama, pra quando você acordasse não pisasse em nenhuma...
-E?
-E, por ter conseguido te comer, coisa que vem tentando há anos, achou melhor preparar um cafezão da manhã, pra causar boa impressão e criar mais intimidade.
-E o que os ovos mexidos têm a ver com isso?
-Ovos mexidos são claro sinal de fome pós-coito. É intuitivo: quem trepa, curte ovos mexidos.
-Você ta de ácido, querida!
-Tô nada, aprendi isso na faculdade, na aula de nutrição defensiva: a ingestão de ovos repõe a albumina, proteína tipicamente consumida pelos atletas. E todas sabemos que uma boa trepada equivale a uma maratona, certo?
-Hahahahahahahahahaha.
-Acho que agora só resta uma coisa a ser feita.
-O quê?
-Tomar a pílula do dia seguinte.
-Essa porra faz muito mal.
-Mas a porra que você pode ter posto pra dentro vai fazer muuuuito mais mal, certo?
Na dúvida, tomou a pílula, o que não a impediu de ficar a semana toda tentando lembrar se tinha ou não trepado com o rapaz. Ficaria meses nessa, mas o moço era do tipo que sabia usar o telefone e acabaram marcando de sair novamente. Por precaução, não houve álcool.
Na manhã seguinte, foi fazer xixi e, para tanto, teve que desviar de quatro camisinhas. E, já que passaram a manhã toda na cama, pularam a parte dos ovos mexidos e foram direto pro almoço, com direito à rapidinha de sobremesa.
Sem conseguir chegar a nenhuma conclusão, saiu de noite da casa do bofe com a certeza de que nunca encontraria provas cabais que indicassem ter sido aquela a primeira ou a segunda noite de sexo do casal.
Mas, como vaca que se preza, desistiu de tentar lembrar o que passou e resolveu começar a criar memórias, para ter o que contar pros netos dali a muitos anos.
Porque, enquanto o futuro a Deus pertence, o passado é terra de ninguém, que qualquer um pode, a qualquer tempo, embrulhar pra presente.
-Não lembrando, amiga...
-Fala sério!
-Tô falando!
-Vamos recapitular: quando eu saí do bar, você tava contando aquela história clássica do encontro nacional de estudantes de comunicação.
-Vixe...
-Disso você lembra, né?
-Nada.
-Hahahahahaha.
-Eu contei a história toda, foi?
-Aham.
-Ai, ai...
-Mas super no salto, não tava dando a menor pinta de Heleninha...
-Tá, mas já tava dando sinais de que sou permissiva depois de uns drinques...
-Isso sim, mas quem não é?
-...
-Vejamos o lado bom da coisa: a permissividade no caso em questão foi produtiva, né?
-Sim, fato. Mas a pergunta que não quer calar permanece: será que eu dei pro Johnny?
-Isso é mole de descobrir, vai.
-Então me ajuda, fazendo o favor!
-Quando você acordou, sua calcinha tava onde?
-No banheiro, pendurada no box.
-Molhada ou seca?
-Molhada.
-Hummm...
-Não prova nada, né?
-Não, porque pode ser coisa de bebum, que quis tomar banho e lavar a calcinha, só pra mostrar que é limpinha.
-Pois é...
-Tava ardida de manhã?
-Tava.
-Melada?
-Um pouco.
-Então, filha...
-Se a língua e os dedos dele não fossem tão ferozes, não haveria dúvidas...
-Ué, da língua e dos dedos você lembra?
-Então, lá no bar mesmo, ele foi atrás de mim no banheiro e o bicho pegou...
-Gente...
-E o pior é que não rola de perguntar esse tipo de coisa pro bofe, né?
-Nunca, jamais, em tempo algum! Mas olha, na boa, se tivesse rolado, você se lembraria. Essas coisas marcam e você sabe disso!
-Sim, mas também sei que com o Felipe já rolou de dar e não lembrar de nada no dia seguinte, a ponto dele ficar puto pra caralho!
-Jura?
-Cara, se isso te satisfaz, eu juro...
-Jesus! Nunca vi disso na minha vida!
-Menos, amiga!
-Tô falando sério. Pra mim é impossível dar e não lembrar, porque buceta tem memória.
-Se tivesse mesmo, tu já teria parado de dar pro Carlos há séculos, vai!
-Hahahahahahahaha. Que maldade!
-Maldade?
-É. Coitado do Carlos, ele não é tão mau assim...
-Ô...
-Mas vamos ao que interessa: ao acordar, você deu uma busca em volta da cama?
-Sim!
-Achou alguma camisinha?
-Não!
-Sinal de que não rolou nada então, afinal, o Johnny é um cara responsável...
-A responsabilidade é inversamente proporcional ao número de taças, amiga!
-Isso é! E champagne é foda...
-Ô!
-Tá, vamos nos concentrar: quando você acordou, ele tava na cama ainda?
-Não, tava preparando um café.
-Trouxe pra você na cama?
-Trouxe.
-Tinha ovos mexidos?
-Que pergunta...
-Tinha ou não tinha?
-Sim, tinha, com bacon.
-Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
-Ah o quê?
-Rolou, filha!
-Como você pode ter tanta certeza?
-Vou reconstruir a história, tá bem?
-Tá!
-Ele acordou mais cedo e, como cavalheiro que é, recolheu as camisinhas ao redor da cama, pra quando você acordasse não pisasse em nenhuma...
-E?
-E, por ter conseguido te comer, coisa que vem tentando há anos, achou melhor preparar um cafezão da manhã, pra causar boa impressão e criar mais intimidade.
-E o que os ovos mexidos têm a ver com isso?
-Ovos mexidos são claro sinal de fome pós-coito. É intuitivo: quem trepa, curte ovos mexidos.
-Você ta de ácido, querida!
-Tô nada, aprendi isso na faculdade, na aula de nutrição defensiva: a ingestão de ovos repõe a albumina, proteína tipicamente consumida pelos atletas. E todas sabemos que uma boa trepada equivale a uma maratona, certo?
-Hahahahahahahahahaha.
-Acho que agora só resta uma coisa a ser feita.
-O quê?
-Tomar a pílula do dia seguinte.
-Essa porra faz muito mal.
-Mas a porra que você pode ter posto pra dentro vai fazer muuuuito mais mal, certo?
Na dúvida, tomou a pílula, o que não a impediu de ficar a semana toda tentando lembrar se tinha ou não trepado com o rapaz. Ficaria meses nessa, mas o moço era do tipo que sabia usar o telefone e acabaram marcando de sair novamente. Por precaução, não houve álcool.
Na manhã seguinte, foi fazer xixi e, para tanto, teve que desviar de quatro camisinhas. E, já que passaram a manhã toda na cama, pularam a parte dos ovos mexidos e foram direto pro almoço, com direito à rapidinha de sobremesa.
Sem conseguir chegar a nenhuma conclusão, saiu de noite da casa do bofe com a certeza de que nunca encontraria provas cabais que indicassem ter sido aquela a primeira ou a segunda noite de sexo do casal.
Mas, como vaca que se preza, desistiu de tentar lembrar o que passou e resolveu começar a criar memórias, para ter o que contar pros netos dali a muitos anos.
Porque, enquanto o futuro a Deus pertence, o passado é terra de ninguém, que qualquer um pode, a qualquer tempo, embrulhar pra presente.