segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Dicas práticas para não queimar o filme com as gatinhas

Muitos dos meninos que andam à solta pelo Rio de Janeiro andam muito sem noção. Alguém precisa dizer a eles que algumas atitudes são feias e acabam por detonar-lhes a imagem de maneira avassaladora. Como ninguém se sente bem mandando a real na cara (até porque é constrangedor), segue abaixo uma cartilha com dicas práticas para não queimar o filme com as gatinhas.

Capítulo Primeiro: do convite.

-Mas você sabia que ele era pistoleiro?
-Descobri ontem.
-Ele foi na parada por sua causa, né?
-Sim.
-E chegou a rolar algum convite prum after?
-Chegou, mas quando ele viu a quantidade de amigas minhas presentes, curtiu a configuração e desistiu do convite que tinha feito 2 horas antes.
-Hummm, que pobreza. Mas ele é gato pelo menos?
-Nem.
-É simpático?
-Sim.
-E com certeza estava mais simpático ainda no meio da mulherada, né?
-Super.
-Cara-de-pau o sujeito, então.
-Pois é, menina, fiquei até meio sem-graça com a falta de noção dele, sabe assim?
-Se sei.

Dica prática: ao combinar de encontrar uma moça, não se empolgue com as amigas dela, mesmo que elas estejam te dando o maior mole. É deselegante demais.

Capítulo Segundo: do pau fino.

-Mas vocês tavam saindo numa boa, né?
-Sim, estávamos, até ele entrar na paranóia do namoro.
-Como assim?
-Começou a querer ficar comigo escondido, a dizer toda hora que não era meu namorado, sabe assim?
-Ui.
-Me dava vontade de falar: ok, baby, mas quem disse que quero ser sua namorada????
-Pois é.
-Não quer me namorar, mas outro dia veio de novo com um papo mole querendo me levar pro motel. Daí me fiz de desentendida, porque não tava a fim de esfregar minha bucetinha de ouro naquele pau fino.
-Hahahahahahahaha.

Dica prática: Se seu pau é de calibre fino, cuidado: quanto mais babaca você for, mais a mulherada vai explanar suas medidas.

Capítulo Terceiro: da ficadela.

-Não te vi mais na festinha
-Pois é menina, teve uma hora que fui embora.
-Mas tava tão legal...
-Tava sim, mas acontece que fiquei com um idiota lá que pegou outra menina na minha frente.
-Ui!
-Aí, já um pouco passada, resolvi ir embora.
-Lógico!
-Mas tirando isso, foi o máximo, né? Precisamos sair mais juntas.
-Sim, claro! Mas sabe que você não é a primeira que me fala isso? Duas amigas minhas passaram pela mesma coisa nessa festa: carinhas dando mó mole e pegando outras na sequência.
-Mentira!
-Quem dera que fosse...

Dica prática: Se escolheu uma menina pra ficar, seja homem o suficiente pelo menos por uma noite, mesmo que alguma pistoleira passe a mão na sua bunda. Afinal de contas, as árvores morrem de pé.

Capítulo Quarto: da ejaculação precoce

-De repente ele tava nervoso, não?
-Com certeza.
-Dá uma chance pro rapaz, talvez na próxima ele mande bem.
-Sim, eu tava até numas de dar uma segunda, ou até mesmo uma terceira chance, mas ontem ele me mandou um email bizarro.
-Falando o quê?
-Que eu era gente fina, mas que ele tinha esquecido de comentar que tava enrolado com outra pessoa.
-Esquecido de comentar??? Mas isso não é um mero detalhe, cara!
-Pois é, surreal.
-E você, respondeu?
-Não, né! A única resposta que eu poderia dar é: tá, querido, tomara que com essa outra você consiga ficar de pau duro por mais de 5 minutos sem gozar. Mas aí seria humilhação, né?
-Sim, seria.

Dica prática: se sua performance não é lá essas coisas, cuidado: quanto mais babaca você for, mais a mulherada fará questão de não guardar segredo sobre sua ejaculação precoce.

Capítulo Quinto: da conta.

-Mas ele não tinha grana pra pagar?
-Tinha, claro.
-Então por que isso, meu Deus?
-Sei lá, cara.
-Ele tinha te convidado ou você se ofereceu?
-Me convidou, eu disse que tava sem grana, ao que ele respondeu: sem problemas, eu recebi um adiantamento de um cliente e coisa e tal.
-Não dá pra entender então.
-Mas o pior foi depois. Me trouxe em casa, deu uma desculpa de que tava apertado pra ir ao banheiro e, chegando aqui, ficou numas de querer me comer.
-E você?
-Não tive estômago, né?

Dica prática: Se convidou a dama pra sair e ela previamente lhe avisou que estava sem grana, pague a conta sem mais delongas. Demonstrações de mesquinharia deixam qualquer bucetinha ressecada.

Por enquanto são essas as dicas.

Básicas, eu sei.

Óbvias de doer, também percebo.

Do jeito que as coisas vão, depois do carnaval, infelizmente, surgirá mais uma lista delas.

Provavelmente ainda mais óbvias e básicas.

Porque depois que a carne muito vale, a alma só barateia.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

O poeta inconcreto e a cronista desbocada

-Acha mesmo que devo me fechar pro amor?
-Amor é o caralho!
-Calma, moça, assim tu me faz sentir um filho-da-puta sem ter feito filha-da-putice alguma...
-Basta você morar a quase dois mil quilômetros de mim e já está feita a putaria!
-Que putaria, guria? Eu só estou deixando as coisas acontecerem. Me diga agora: tu acha que a gente é possível? Duvido que aí no Rio tu não jogue charme pros moços que te agradam.

Mal sabe ele, poeta inconcreto, que o Rio de Janeiro só leva a fama. Quem deita na cama, quase que invariavelmente, são os homens de fora. Mas isso não estava em questão pra cronista desbocada: ela queria era molhar a ferida com água oxigenada, pra ver a espuma escorrer.

-Isso não vem ao caso! Eu não coloco fotinha feliz no orkut sorrindo ao lado de homem nenhum!
-Poxa, mas eu sempre fui tão leal contigo...
-Tá vendo? Essa sua clareza de intenções, essa sua pureza d’alma, esse seu jeito de sinceramente querer saber se estou bem, isso tudo, junto, é o que me mata!
-O que você quer que eu faça?
-Quero que você me esqueça, dá pra ser?
-Impossível! Tu é minha escritora predileta. E sabe disso!
-E daí? Eu lá escrevo com a minha buceta?
-Tá vendo? Eu só sirvo pra sexo mesmo, né? Duvido que me acompanharia se eu fosse um broxa...
-Comigo não existe homem broxa e tu sabe disso! Os paus, de uma maneira geral, gostam de mim. E não vem mudando de assunto não, que eu sei que tu tá querendo me amansar!
-Tudo que eu queria na vida era poder te amansar, guria.
-Não me chama de guria que eu viro do avesso e a essa distância não há nada que possamos fazer!
-Boba! Vai dizer que não sabe que esse gaúcho aqui é capaz de te enlouquecer só pelo telefone?
-Grande coisa...
-Sabe ou não sabe que adoro domar uma potranca raivosa que nem tu?
-Sei, mas e daí?Isso vai mudar alguma coisa?
-Lindinha, nada do que esteja me acontecendo aqui, ou que esteja te acontecendo aí, vai diminuir a nossa sintonia e tu sabe disso...
-...
-Tá se fazendo de muda, minha ambrosia?
-Não quero ver você com essa lambisgóia!
-Ela não é lambisgóia. É minha amiga. Pensa na minha situação: eu tava tão sozinho, tão sem ninguém, tão jogado de lado, só com minhas poesias...
-Pára com esse discurso de queda do império romano que eu não tô presse tipo de jogo, ok?
-Não sei por que tu me liga se não quer conversar feito adulta...
-Eu não quero ser adulta! Eu quero você!
-Mas que radical...
-E a poesia das unhas pintadas? Recita pra ela também?
-Ihhhhh...
-Recita ou não recita?
-Não, ela sabe que fiz pra ti.
-Sabe nada! Não mete essa!
-Meto meu pau na tua boca miúda.
-A dois mil quilômetros, qualquer um mete. Quero ver cara-a-cara!
-Não me provoca, guria. Sabe que tenho uma passagem comprada praí.
-E daí?
-E daí que eu tô dizendo que essa passagem tá guardada pra te ver!
-Vai trazer a gatinha pra me apresentar também? Porque, vamos combinar, essa situação é bem confortável pra ti, né?
-Não, não é. Eu te entendo, sei como é essa sensação...
-Não, você não faz idéia. Quer ver uma coisa?
-O quê?
-Adivinha onde eu queria ter passado a bosta desse reveillon?
-Essa eu sei: em Floripa!
-Não, nos teus braços, porra! Floripa era só uma desculpa esfarrapada!
-Como?
-Eu queria que tudo acontecesse naturalmente...
-Bah, guria, por que não me falou isso antes?
-Porque no dia que fui te escrever a respeito, vi a fotinha no orkut...
-Quer que eu tire a foto de lá?
-Quero.
-Que mais que tu quer?
-Você ao alho e óleo.
-Não começa, vai.
-Tá, vou baixar as expectativas e pagar de mesquinha, pode?
-E o que é que tu não pode?
-Quero os Hai-kais que você escreveu pra mim e nunca colocou no correio!
-Boa!
-Se duvidar, nem escreveu porra nenhuma...
-Pára de charme, musa.
-Musa é o caralho!

Pelo andar da carruagem, a conversa iria longe. Bem mais longe do que Porto Alegre está do Rio. Ou do que o Rio está de Porto Alegre.

Ainda assim, uma pergunta sempre ficará no ar: se o Porto é alegre, por que motivo só saem notas tristes dessa sinfonia?

Pode ser que a resposta esteja perto da cidade onde o medo e a solidão finalmente resolveram se casar de papel passado.

Mas isso são apenas especulações.

A única coisa de que se tem notícia é que nunca houve uma história tão docemente escrita como o tórrido romance entre o poeta inconcreto e a cronista desbocada.