sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Pra frente é que se ama (pro Drama Diário)


-Ele é bonito?
-Não exatamente.
-Inteligente?
-Muito.
-Mas inteligente inteligente ou inteligente intelectual?
-E tem diferença?
-Muita! O inteligente inteligente pega as coisas no ar, faz associações inusitadas e ainda te presenteia com piadas engraçadas.
-E o inteligente intelectual?
-Costuma também pegar as coisas no ar e fazer associações inusitadas, mas, ao invés de te contar piadas, fica citando Foucault, Kant e às vezes um pouco de Almodovar, só pra passar de popular.
-Pô, mas nem Almodovar pode?
-Pode, claro, tô brincando com você.
-Sei...
-Quando a conta chega na mesa, ele paga de pronto?
-Lógico, né?
-Bonitinha, nada é tão lógico assim que não seja passível de dúvida, mas diga, e o pau, é belo?
-Ah, não, isso é foro íntimo!
-Óbvio que é, mas nós duas sempre falamos dos paus dos homens e isso nunca foi um problema.
-Tsc.
-Fala, filha!
-Tá, mas se você der mole pra ele, eu te mato, ok?
-Combinado, mas e o pau?
-Expressivo e cortado.
-Judeu?
-Não, fimose mesmo.
-O beijo?
-Passível de melhora.
-Língua hiperativa, é?
-Por aí.
-Acontece. E lá embaixo, ele faz com gosto?
-Sim.
-Mas tipo vai e mergulha como se não houvesse amanhã ou dá aquelas lambidinhas paliativas, só pra não dar na pinta de que nem curte o ofício tanto assim?
-Se tivesse uma música pra ser a trilha sonora da devoção do bofe seria Pussy in the sky with diamonds.
-Hahahahahaha! Sensacional!
-Satisfeita?
-Ainda não, quero saber se na hora que ele mete você consegue gozar.
-Não acha que tá querendo saber demais não, bela?
-Tô, mas foda-se, sou ou não sou sua melhor amiga?
-É...
-Goza ou não goza?
-Se eu ficar por cima, na magnífica posição de Cavalgada das Valquírias, sim.
-Que putinha mais wagneriana você...
-Também acho. Algo mais?
-Sim, o mais importante.
-Manda.
-Se você se pegasse grávida, assim, por uma distração, encararia ser mãe de um filho dele?
-Querida, você me conhece o suficiente pra saber que eu não me distraio.
-Eu sei que não, mas, hipoteticamente falando, o que você faria?
-Precisaria pensar, nunca engravidei pra saber como é carregar um coração além do meu.
-Ai, que bonito isso que você disse.
-Achou?
-Lindo, você devia ser romancista.
-E você, psicanalista.
-Posso perguntar só mais uma coisinha?
-Adianta eu dizer que não aguento mais tanta pergunta?
-Não.
-Então desembucha.
-Levaria ele prum coquetel de abertura de um evento da sua produtora?
-Acho que sim.
-Hummm.
-Hummm o quê?
-Deixa.
-Agora vai até o fim, mulha.
-Pra isso precisaria de mais uma pergunta...
-Manda.
-Você admira ele?
-Sei lá, nunca me peguei tão embevecida por um homem a ponto de ficar de quatro.
-É, e todo mundo sabe que de quatro ninguém é normal.
-Hahahahahahahhahahaha.

Pararam por ali, enquanto ainda riam, pois sabiam que esse negócio de admiração era a única coisa capaz de abrir espaço praquele sentimento nobre de quatro letras que tanto tira o sono da maioria dos humanos.

À bem-comida restava a chance de aproveitar os bons momentos, sem nunca esquecer que o novo é chão pra ser pisado devagarinho, de preferência sem olhar muito pra trás, para evitar comparações cruéis.

Até mesmo porque, não só quando engravidamos somos capazes de carregar um coração além do nosso.

3 comentários:

Renata disse...

muito bom poli, adorei...

Juju disse...

Já estava com saudades desses textos que nos descrevem por inteira....
Amo!

Glauber Piva disse...
Este comentário foi removido pelo autor.