quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Se o mel faz bem, então tá bom (pro Clube da Leitura)


Uma amiga que sempre teve no mínimo dois amantes por vez me contou uma coisa interessante que eu gostaria de dividir com vocês. É uma coisa aparentemente boba e óbvia, mas vale o registro, que é o seguinte: ‘homem traído precisa de muito agrado matinal’. Confesso que sempre ouvi com reserva as colocações dessa minha amiga, afinal, falar assim do próprio homem, pai de seus filhos, era, no mínimo, cruel. Mas como ela é minha amiga e sabe que mais discreta do que eu só mesmo a Lady Di (que Deus a tenha na paz e na luz), fica me enchendo o ouvido com seus truques de infidelidade. Na verdade o que eu quero mesmo dizer é que o problema não foi ela ter contado essa história do agrado matinal, isso aí é pinto, quando ela bebe me conta cada detalhe que às vezes demoro meses pra esquecer.

Pois então, voltando, um dia (lembro bem, era um sábado e dava pra ouvir o barulhinho da feira lá no fundo), resolvi testar com Adalberto, meu esposo, o tal agrado. Pensei: Adalberto gosta de iogurte com mel no café, então, vou usar seus ingredientes prediletos pra coisa ficar mais apetitosa. O problema começou já na cozinha, meu filho mais velho, Adalbertinho, de seis anos, estava ligado no duzentos e vinte, comendo biscoito recheado e perguntando quanto tempo faltava pra gente ir no zoológico. Disse a ele que teríamos de esperar papai acordar para decidir e que a melhor coisa a fazer seria assistir a um dvd bacana pra passar o tempo. Como ele é um menino muito obediente (tem gente até que diz que ele parece um funcionário público, veja só), se encaminhou para a sala, não sem antes me fazer a pior pergunta que poderia ser feita num sábado de manhã:

-Mamãe, você vai tomar café na cama com papai? Posso também?

Pronto, tive que morrer num dinheiro e mandei o garoto pra lan house pra ver se ele esquecia essa coisa de café na cama. Despachado o moleque, entrei no quarto pé ante pé, descobri meu digníssimo, lancei o mel na minha boca (nessas horas agradeço a Deus não ser diabética) e dei um jeito de ocupá-la com classe, ritmo e estilo. Maridão abriu os olhos e ficou como? Alegria pura, ainda bem que o nosso mais novo tem sono pesado e nem percebeu as estocadas que dávamos com a cama na parede por pelo menos uma hora. Pensa bem: que mulher tem isso? Uma hora inteira de sexo com o homem que é seu marido há uma década inteira? Eu não conheço nenhuma, pelo menos lá na repartição ouço tanta reclamação que tem dias que vou até me benzer pra não deixar entrar olho gordo. Pois bem, acabada a aeróbica, tomamos um banhozinho na suíte, fomos almoçar com as crianças, depois pegamos um pedalinho na Lagoa. Me lembro de ter pensado que minha amiga realmente sabia das coisas e que nada podia ser mais normal do que agradar a quem se ama, ainda mais de manhã e coisa e tal. O devaneio era tamanho (cheguei a planejar uma viagem sem as crianças, pra que pudéssemos nos dedicar à arte do bem acordar) que nem entendi bem quando Adalberto me lançou a pior pergunta que poderia ser feita num sábado à tarde:

-Querida, você tem esse amante há quanto tempo?

-Amante que amante?

-Mulher sem culpa não acorda o marido do jeito que você me acordou hoje.

-Você não gostou, mozão?

-Gostar eu gostei, mas você vai ter de me dar o nome dele.

-Dele quem?

-Do seu amante.

-Mas eu não tenho nada disso.

-Vamos voltar pra casa.

Durante as semanas seguintes, Adalberto ficou tão ensimesmado que chegava a dormir de bermuda jeans. Sem saber muito o que fazer, procurei minha amiga, afinal, ela que tinha dado a dica, de repente sabia como me tirar dessa. Sabe o que a vaca me disse? Que nunca tinha sido fiel pra dar conselho a mulher honesta nenhuma, que eu enfiasse minha honestidade goela abaixo, que era bom ter acontecido isso comigo preu parar de achar que meu casamento é perfeito, com meus filhos perfeitos, meu apartamento perfeito e blá blá blá. Se eu tivesse conseguido contar quantas vezes ela usou a palavra perfeito, daria mais de trinta e cinco fácil. Ou seja, tava puxado pra ela a minha felicidade.

Mas fui Poliana e levei a coisa pelo lado bom, até mesmo por que, depois de ter cortado um dobrado pra convencer Adalberto que vi essa tática do melzinho no programa da Sue Johansen, ele se empolgou com a coisa e aqui em casa tá um verdadeiro apiário do amor.

Quanto à minha amiga, parece que está agora com três amantes e um casinho do sertanejo universitário, que não considera como amante e sim como aprendiz. Outro dia nos encontramos na ioga e ela me disse que tinha umas dicas quentes e que a coisa toda envolvia comida japonesa.

Fiz a aula de ioga com força.

O resto foi silêncio.

E gemidos.

E carne crua.

E hematomas.

Exatamente nessa ordem.

Um comentário:

Careca disse...

Comida japonesa tem que usar palitinho, né?