segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Banho de lua


Outro dia estava eu na praia exibindo minha falta de melanina e para do meu lado um cara me olhando de um jeito que me senti até meio mal. Uma coisa é na escola você sofrer bullying porque é magrela e coisa e tal, outra coisa é você já ser gostosa, já ter dado pra quem você quis, passando por quem você não quis porque a vida também é feita desse troço de dar mal, e, depois disso tudo, ser olhada meio de lado só porque não tem a competência genética de criar em si mesma uma marca de biquíni. E olha que pra esse verão até comprei um modelito novo, que meu último já tava respirando por aparelhos e isso pega muito mal pruma pseudo-intelectual como eu. Aliás, outra coisa que pega mal demais é ser flagrado lendo Caras na ante-sala do terapeuta de floral, do acunpunturista ou coisa que o valha. Normalmente, em casos como esses, a desculpa que se dá é a de que não havia literatura melhor. Numa boa, sem querer ser belicosa, quem quer literatura melhor, anda com bolsa grande, pra carregar obras de peso, nem vem que não tem, mas, voltando ao consumismo de verão, o biquíni que comprei foi caro à pampa, coisa de madame mesmo. Aliás, eu sou o pior tipo de pobre que tem: o de biologia rica. Pra se ter uma ideia, tenho alergia à bijuteria e à penicilina, logo hoje em dia que as bijuterias se fazem passar por jóias assim como os peitos falsos se fazem passar por verdadeiros e a penicilina, bem, a penicilina já teve dias melhores, vamos deixá-la em paz. Pois bem, o fato é que paguei os tubos num pedaço ínfimo de tecido (no meu caso nem tão ínfimo, pois tenho volumes que só cabem em mãos grandes) e nem isso fez o cara parar de me olhar feito ET. O pior é que ele tinha muita coisa do lado pra se distrair, veja bem, no Arpoador tem tanta coisa rolando: tem artista plástico, tem ator de teatro que veio dar um tchibum antes do espetáculo, tem aspirante a roteirista (a quantidade de gente que dá pra roteirista no Rio de Janeiro não está no gibi), ator famoso de TV, fora, é claro, o pessoal do mantra da Lua, mas isso é mais pra outros picos da praia menos céticos e mais antenados a um novo começo de era, de gente fina, elegante e sincera, com habilidade pra dizer mais sim do que não. Eu, honestamente, já tô no time dos que dizem sim em situações mais pra específicas. Pois bem, diante do desconforto daquele homem me olhando como se eu fosse a última bisteca do churrasco, me decidi a chegar perto dele e dizer: 'amigão, perdeu alguma coisa aqui?'. Quando já estava de pé, pronta a lançar minha verborragia nível 5 no bofe, vejo chegar uma mulher que, de tão branca, me fez sentir a garota-propaganda de algum óleo de urucum da Amazônia. Ao chegar, ela salpicou-lhe um beijo de várias voltas, uma coisa bonita de se ver. Quando dei por mim, estava ali apreciando o balé daquela troca de fluidos e, em menos de dois minutos, toda a minha sensação de inadequação se desfez. O cara tava me olhando porque eu lembrava a gatinha que ele ansiosamente esperava (ninguém beija daquele jeito sem estar ansioso, isso posso afirmar) e que estava demorando a chegar justamente porque gente branca só dá pinta na praia mais tarde mesmo.

Voltei a me sentir a branca de neve de sempre.

É que a química alheia me fez lembrar da beleza da minha biologia.

3 comentários:

Guilherme disse...

eu quero ser roteirista!!!

Guilherme disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
Sam Ribeiro disse...

eu dou pra roteirista, minha branca de neve preferida!!!
vai rolar arpex tomorow morning, bora nóis?