quarta-feira, 6 de junho de 2012

There is a light that never goes out (pro aniversário de cinco anos do Clube da Leitura)




Foi só uma paixão como tantas outras que Anabela já tinha vivido. Quer dizer, como tantas outras, não, que dessa vez, o rapaz em questão tinha uma pegada leve e uma conversa ao mesmo tempo bem-humorada e profunda, ingredientes mais eficazes pra se amarrar uma pessoa do que o clássico oferecimento de café coado na calcinha, prática muito comum e pouco assumida, recentemente inclusive evocada numa das canções de Gaby Amarantos, a Beyoncé do Pará. 

O mais curioso nessa história é que Anabela achava que o cara tava ligadinho na dela, mas caiu no conto do facebook e esqueceu que quem curte demais o que você diz não necessariamente está a fim de compartilhar nada. Pelo menos não contigo, o que era precisamente o caso, pois, numa viagem, a princípio temporária, o moçoilo tratou de arrumar outra e de informar a Anabela, também por facebook, que tinha, enfim, encontrado uma menina especial com quem passaria a dividir a vida, afinal, já estava na hora dele aprender a dar valor às coisas a dois. O que pareceu também estar bem claro no belo discurso de valorização das coisas do coração é que o mesmo parecia ignorar que Anabela, além de ser uma menina bastante especial, poderia (quem sabe) ficar entristecida ao ouvir, mesmo que sob a capa de um subtexto, que não teve a menor importância pro mancebo em questão. Claro que essas coisas não se escolhem nem se controlam, mas um pouco de tato talvez tivesse sido bacana. Claro também que, diante de tamanho balde de água fria, sua resposta foi seca, já que a única opção era virar-se de costas praquele cenário afetivamente árido. Bonita e interessante, voltou pra pista de onde, especificamente nesse caso, não deveria ter saído. 

Por conta da forma abrupta como tudo aconteceu, Anabela volta e meia ainda se lembrava do rapaz e se questionava sobre o que poderia ter feito para mantê-lo por perto (como se isso fosse possível). Mas, aguerrida que era, toda vez que lhe batia esse vento sul na alma, ela pegava os resíduos de tanta tristeza (que mais pareciam restos de mel em garrafas de aguardente) e os usava como matéria-prima para sua arte, afinal, de que adianta se afogar na culpa por estar sentindo falta de quem não te valorizou? Melhor é transformar tudo em outra coisa, que, no caso de Anabela, ganhou toques sui generis: ela pegou o conhecimento adquirido na escola de belas artes e passou a fazer pênis de chocolate pra vender em sex shops. Seu diferencial era justamente fazê-los em tamanhos, espessuras e cores variadas. Seu preciosismo era tanto, que alguns tinham até veias de leite condensado, estabelecendo metáforas para lá de animadas. Acontece que, leitinho vai, leitinho vem, nesse meio termo, mais precisamente entre um membro e outro, ela conheceu um novo rapaz, que não a fez imediatamente passar a dar mais valor às coisas a dois, mas que tinha, no DNA, algo além da beleza, que homem bonito demais é legal, mas dá um trabalho danado. 

O fato foi que Anabela soube transformar o limão que a vida lhe oferecera em limonada e, com isso, alguma coisa em sua forma de olhar as coisas mudou, afinal, até pra gostosas de plantão como ela, é sempre bom saber diferenciar quem te vê somente como uma alcatra de quem, apesar de saber que sua carne é de primeira, não te trata como segunda (nem décima quinta) opção.

2 comentários:

Careca disse...

Gostei do texto. E, sem querer fazer nenhum reparo, acho que picanha é que é o bicho.

Vou para o provador. Sempre tenho medo de descobrir que não sou gente, só um robô leitor de blogs.
Abs,

Anônimo disse...

Lindo!!! O blog é genial!!! Parabéns