terça-feira, 21 de julho de 2009

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Rotular laços como sopas Campbell

Matar o duvidoso com tacada certa

Querer entender tudo sempre

Repetir mil vezes só pra poder se ouvir

Cansar de repetir, mas, ainda assim, repetir de novo

Como que a afastar o segundo copo, posto que o primeiro já matou a sede.

domingo, 19 de julho de 2009

Já passou pelo dissabor de ouvir que era incapaz de amar

Já saboreou a incapacidade de parar de gozar só com palavras

Já viu o que não existia afirmando estar lá

É mestre em começos

Doutora em meios

Phd em fins.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Na dúvida

O Céu não era de Suely nem de brigadeiro

A Lua não era nova e nem tampouco transbordava de cheia

O Sol, que já não estava muito a fim de brilhar mais nenhuma vez, aproveitou para burocraticamente adiar a volta aos palcos

Por mais incrível que pareça, nem é por isso que o mar de seus olhos, cansado de tanta tsunami, ainda não perdeu o medo da ressaca

Na dúvida, achou melhor esperar que inventem um engov para almas dormentes

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Só pra ver

Comprou teste da Marie Claire só pra ver se era mulher fatal.

Como deu negativo, fez escova possessiva.

Organizou piquenique no Parque Guinle só pra ver se dava pra socialite.

Como choveu, correu até a marquise mais próxima.

Deu telefonema pra número errado só pra ver se falava com alguém diferente.

Como caiu na caixa postal, engoliu o monólogo.

Conversou com os fantasmas do passado só pra ver se ainda se sentia intimidada.

Como eles estavam ocupados com o presente, deixou a prosa pro futuro.

Beliscou azulejo com a bucetinha só pra ver se ainda tinha a mesma forma de outrora.

Como os pequenos lábios gritaram, percebeu que o resto era silêncio.

E gemidos.

Não necessariamente nessa ordem.

domingo, 12 de julho de 2009

Domingo de sol e chuva

Entediada, pensa coisas que cansam.

Cansada, leva o mp3 pra caminhar.

Caminhando, lembra dos campeonatos de elástico da escola.

Escolada, percebe que presente não se chama assim à toa e que chamado é coisa de quem se permite ideias.

Permissiva, conclui que ideias, assim como bebês, vêm quando têm de vir, esgarçam o meio da noite, e, com o passar do tempo, precisam cada vez menos de nós.

domingo, 5 de julho de 2009

Geometria às avessas

Enquanto a Lua transita pela casa cinco e o Sol pela doze, alertando para a necessidade da meditação, a meditação, por outro lado, alerta para a necessidade da escrita e da escuta, como se as palavras tivessem o poder de iluminar o caminho que desde sempre soube ser seu, já que, ainda menina, vivia a imaginar diálogos da Dona Benta, da Narizinho e das novelas da Janete Clair.

Pensou se a Lua, de tanto brilhar, não a tinha cegado com essa história de olhar pra dentro. Cogitou também se o Sol, que rege sua juba e enche de sardas seu colo, também não tinha ficado aborrecido quando ela parou de dançar e virou intelectual pra depois voltar a ser artista, como que a pegar carona de volta com a roda da fortuna rumo ao desconhecido.

Ficou absorta nesses pensamentos sem nem sequer saber por que motivo chegou até eles. De tanto esculpir imagens, sabe, lá no fundo, que são os pensamentos que nos alcançam e nos escolhem e não nós a eles, como sonha a van filosofia ocidental sem gasolina especial.

Abriu o Word e escreveu para si mesma, como que a embalar-se no próprio berço esplêndido e a aceitar que, apesar de muito geminiana, em alguns dias não estava para grandes conversas. Nessas horas, era o caso de digredir de si mesma, de buscar atalhos em curvas ou tangentes em linhas retas, como numa aula de geometria às avessas que escola nenhuma ensina.

E foi assim, preenchendo lacunas e analisando múltiplas escolhas, que mergulhou nua no próprio mar e nadou sem medo à luz da Lua cheia.

Porque uma hora é preciso estar pronta pra fazer dever de casa de gente grande.

E perceber que, na maior parte das vezes, todas as respostas estão corretas.

sábado, 4 de julho de 2009

Como quem

Acordou de ressaca como quem chupa halls de jiló
Ligou pra melhor amiga como quem toma chá de camomila
Tomou banho demorado como quem faz viagem longa
Escolheu calcinha de renda como quem não quer nada
Pintou unha de vermelho como quem sabe onde pisa
Saiu na hora certa como quem entende de rastros

Depois de tantos como quem, decidiu mandar seus pensamentos via sedex pra bem longe.

Como quem só quer saber mesmo é do agora.