Fabrícia não curte tomar a iniciativa. Mais por autopreservação do que por machismo, diga-se de passagem:
-Mulheres muito cheias de opinião não devem partir pra dentro. Melhor deixar essa tarefa pras mais quietinhas...
Como todo vaticínio tem sempre uma exceção, nesse caso não podia ser diferente:
-Às vezes, mesmo sem querer, acabo ouvindo a voz da minha buceta.
Fabrícia enche a boca pra falar de buceta. Nada de xereca, vagina, perseguida, vulva, xana, flor do lácio, piriquita, boca de cabelo, perereca, xoxota. Pra ela buceta é e sempre será uma palavra de lirismo rústico. Uma poesia, por si só, concreta.
Pois bem. Dia desses, na internet, encontrou um amiguinho virtual que costuma vez por outra acompanhá-la em aulas noturnas de intra-aeróbica de alto impacto e longa duração, seguidas de repouso e café da manhã, exatamente nessa ordem.
-Ele apresenta uma boa performance e, diferentemente dos outros, não se importa com minhas constantes viagens. Pelo menos é o que me diz...
Baseada nessa lógica, chamou o moço prum encontro. Antes tivesse ficado quieta, pra não ter que ouvir a resposta mais desagradável que existe:
-Poxa, estou super ocupado, tenho uma prova sinistra daqui a um mês e não quero me desfocar.
Na hora ficou puta. Fala sério que o bofe vai ficar um mês sem! Se ela não fica, imagina ele! Na hora mandou um: “Vá tomar no cu que vou acreditar nessa sua lorota! Por que não me diz logo que não está interessado? Seria mais honesto de sua parte!”.
Diante de tão inflamada reação, o mancebo sugeriu uma opção B:
-Podemos dar uma rapidinha no almoço ou no final de semana, depois que eu terminar de estudar...
Como rapidinha entende-se dizer oi, fuder e dizer tchau, tais como máquinas mortíferas, sem ninguém ter que morrer depois, naturalmente. Aquilo para Fabrícia era o fim. Apesar de falar um monte de baixaria, fazer um monte de baixaria, ser assinante de um guia de motéis e curtir um pompouarismo básico, nunca conseguiu fazer a linha biscate:
-Quê isso! Vou fingir que não entendi a proposta!
Mas, apesar da aparente aridez afetiva, o menino é até gente boa, bem-humorado, com potencial para virar um personal fucker satisfatório no futuro, desses que te atendem uma vez por semana sem regular a mixaria. Do jeito que a coisa anda, mais vale um personal na mão do que um protótipo de namorado confuso voando. Tudo bem que existe o risco de envolvimento. Mas vida sem risco não é vida, é plano de saúde sem carência.
O fato é que Fabrícia sabe, por experiência própria, que quando os pequenos lábios falam, todo o resto se cala. Pensando nisso, resolveu manter o charme e fingir que não era com ela. Pescou no celular as chamadas não-atendidas mais interessantes e seguiu com seus freelas. Não sem antes, é claro, dar aquela alfinetadinha básica:
-Quero ver se essas biscateiras que vão se sujeitar a isso são tão tesudas como eu...
A bicha, além de vaidosa e tinhosa, sabia que, a seu modo, exercia um poder qualquer sobre aquele pau, da mesma forma que aquele pau batia-lhe o sino pequenino. Sabia também que ser mulher significava, entre outras coisas, entender que tudo nessa vida passa, inclusive cenas de bucetismo explícito em ambiente afetivo aparentemente árido.
O importante, no final das contas, era manter-se em cima do salto, porque somente do alto podemos ver melhor todas as possibilidades.
E, em tempos como os nossos, de indiferença crônica e generalizada, uma boa carta de clientes pode fazer toda a diferença.
Como a cereja faz no sundae.
10 comentários:
Mulher sem atitude é pior do que vida sem riscos.
Adorei!
Qual foi a mulher que nunca passou por isso, ne não? Homem que não quer nada e não consegue dizer claramente sem te enrolar, é um saco!
E sou adepta da atitude feminina, aliás direitos iguais!
Beijos queridona!
ahahahah..gostei da moça ! Rockenroll !!
"...mais vale um personal na mão do que um protótipo de namorado confuso voando."
Verdade Suprema!
pois não há o que discutir sobre o lirismo da buceta...
Se é Diva, não tem nada que ficar perdendo tempo entre os mortais.
cara idiota. fuder faz bem, relaxa e ajudaria a estudar melhor.
abração
O mal da nossa geração é render pra babaca. Um dia eu vi "Procura-se Susan desesperadamente" e quis ser igual àquela mulher. Não posso fingir que isso não aconteceu!
BUCETA!
É, realmente, encher a boca pra pronunciar essa palavra é demais. Melhor que isso, só comendo.
Nossa, essa fabricia, heim!!!
Postar um comentário