Diego desde menino teve de se adaptar à própria dificuldade de completar um raciocínio. Não por estupidez, que sempre foi bom aluno, mas, sim, pela mais pura e cristalina gagueira. Pensando bem, para que houvesse justiça no mundo, uma pessoa gaga devia, no mínimo, ser belíssima. Mas infelizmente a vida não é justa e muitos gagos são também desprovidos de beleza esfuziante. Era esse precisamente o caso de Diego, que não marcava presença no verbo, nem tampouco era um Rodrigo Santoro. Se bem que, pensando melhor, se o Rodrigo Santoro fosse gago, todo mundo ia achar injusto do mesmo modo, o que nos leva a concluir que justiça é uma coisa que depende muito do ângulo de onde você parte. Se seu namorado fala o rato roeu a roupa do rei de Roma em menos de dez segundos, tá tudo ótimo. Agora, se ele não consegue nem te dizer o placar do jogo de futebol sem ter que fazer mímica, você começa a se encher de questionamentos.
Mas, voltando ao Diego, ele lê muita Playboy. Ler no caso é uma forma gentil de dizer que sua mão tem mais cabelo que todos os Novos Baianos juntos. Quem o alfabetizou no cinco a um foi seu pai, homem justo, mas absolutamente despreparado para ter um filho diferente. Gritava com o moleque pra que ele falasse mais rápido e, dependendo de quantos conhaques tinha tomado, o obrigava a ler trechos de Shakespeare pros familiares nas festas de final de ano. Costumava dizer que o bardo inglês era bom pra formação do caráter. Não o dele, naturalmente. Nem o de Diego, tampouco.
Os anos foram passando até que chegou a hora do menino perder a virgindade. Seu velho o levou a um rende-vouz, avisando às moças que por lá trabalhavam que ele era mudo de nascença, por problemas no parto. Para não ariscar, nem gemido o guri soltava e, reza a lenda, a mudez fez com que sua língua ficasse conhecida por dizer coisas surpreendentes.
Quando saiu de casa, teve sorte e começou a se dar bem por aí. Descobriu que o menos é mais e tornou-se dono de um poder de síntese de dar inveja a qualquer revisor de textos. Nessa altura já tinha passado por vinte fonoaudiólogas e quatro cursos de interpretação, mas a única coisa que realmente adiantava no seu caso era falar pouco. Tinha se conformado com seu jeitinho pausado de ser e começava a ver o charme de sua condição. Outro dia, inclusive, foi a uma sinuca com a gatinha que todo dia vai protocolar alguma coisa no seu andar, só pra pingar quatro gotas de adoçante no café e dizer que precisa emagrecer. Lá pela terceira partida, quando dava show no salão, percebeu que a menina estava doidinha pra conferir se ele encaçapava aquilo tudo mesmo ou se estava só se exibindo. Afinal de contas, mulher nenhuma repete que precisa emagrecer se não está a fim de ouvir elogios. Quem está se sentindo gorda mesmo, não pergunta nada, só se veste de preto e pronto. Assim como quem é gago não fica por aí puxando papo a torto e a direito. Todo gago é naturalmente seletivo. Ele precisa pensar na frase antes, analisá-la e até mesmo decorá-la. Dessa forma, por diferença de pressão, gagos acabam sendo ótimos ouvintes. Pensem nisso, faz todo o sentido.
Mas, voltando ao Diego, ele lê muita Playboy. Ler no caso é uma forma gentil de dizer que sua mão tem mais cabelo que todos os Novos Baianos juntos. Quem o alfabetizou no cinco a um foi seu pai, homem justo, mas absolutamente despreparado para ter um filho diferente. Gritava com o moleque pra que ele falasse mais rápido e, dependendo de quantos conhaques tinha tomado, o obrigava a ler trechos de Shakespeare pros familiares nas festas de final de ano. Costumava dizer que o bardo inglês era bom pra formação do caráter. Não o dele, naturalmente. Nem o de Diego, tampouco.
Os anos foram passando até que chegou a hora do menino perder a virgindade. Seu velho o levou a um rende-vouz, avisando às moças que por lá trabalhavam que ele era mudo de nascença, por problemas no parto. Para não ariscar, nem gemido o guri soltava e, reza a lenda, a mudez fez com que sua língua ficasse conhecida por dizer coisas surpreendentes.
Quando saiu de casa, teve sorte e começou a se dar bem por aí. Descobriu que o menos é mais e tornou-se dono de um poder de síntese de dar inveja a qualquer revisor de textos. Nessa altura já tinha passado por vinte fonoaudiólogas e quatro cursos de interpretação, mas a única coisa que realmente adiantava no seu caso era falar pouco. Tinha se conformado com seu jeitinho pausado de ser e começava a ver o charme de sua condição. Outro dia, inclusive, foi a uma sinuca com a gatinha que todo dia vai protocolar alguma coisa no seu andar, só pra pingar quatro gotas de adoçante no café e dizer que precisa emagrecer. Lá pela terceira partida, quando dava show no salão, percebeu que a menina estava doidinha pra conferir se ele encaçapava aquilo tudo mesmo ou se estava só se exibindo. Afinal de contas, mulher nenhuma repete que precisa emagrecer se não está a fim de ouvir elogios. Quem está se sentindo gorda mesmo, não pergunta nada, só se veste de preto e pronto. Assim como quem é gago não fica por aí puxando papo a torto e a direito. Todo gago é naturalmente seletivo. Ele precisa pensar na frase antes, analisá-la e até mesmo decorá-la. Dessa forma, por diferença de pressão, gagos acabam sendo ótimos ouvintes. Pensem nisso, faz todo o sentido.
Aliás, se houvesse mesmo justiça no mundo, teriam mais Diegos à solta por aí, pois eles, como lobos maus que são, te vêem melhor, te escutam melhor e, ainda por cima, te comem.
5 comentários:
boa!!!!
uh la la!!
como 2 + 2 são 4!
ótima!
Pollyana,
Adorei mesmo esse seu conto (a parte dos Novos Baianos é impagável!). Bom te encontrar no mundo virtual também!
Bjs,
Igor
Acabo de perceber que escrevi seu nome coim dois 'L' e 'Y', desculpas. As coisas são, na verdade, muito mais simples! =P
Bjos!
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