quarta-feira, 22 de junho de 2011

J.P.S. (pro Clube da Leitura)


Essa mania de citar Jean-Paul Sartre me irrita, até mesmo por que, quase sem exceção, a maior parte das pessoas só conhece mesmo uma de suas frases, a célebre ‘o inferno são os outros’. Tá bem, camarada Sartre, tudo certo, eu te entendo, você disse isso num contexto difícil e não serei eu, mera cronista metida a poeta nas horas vagas, a te julgar. Ainda mais se tomarmos 'os outros' como todos e quaisquer seres que nos aporrinham, seja a sogra que não corta o cordão umbilical, a caixa da padaria que pergunta se você não tem nota menor mesmo quando você deu a ela os últimos dez reais que tinha na carteira ou o professor de inglês, a bradar que ‘the book is on the table’. Aliás, sinceramente, onde mais estaria o livro se não em cima da mesa? Em cima do fogão? Do tábua de passar? Da pia? Mas isso não vem ao caso e mais uma vez estou eu a digredir como uma baiana de férias em Amsterdã, esquecida de que o foco deve permanecer nessa coisa do inferno serem os outros. Assumindo que isso seja verdade, por que motivo a gente buscaria a cura dentro da própria alma? Pra quê tanta terapia, mapa astral, floral, meditação, tarja preta e ioga? Se levássemos a máxima de Jean-Paul ao pé da letra, seríamos pacatos ermitões das colinas, felizes em nossa própria companhia, munidos, naturalmente, de micro-ondas, internet, celular, vibrador e sopas congeladas. Mas que nada, gente que é gente gosta de fluidos, sejam eles verbais, espirituais ou saídos de nossas benditas glândulas. Gente mesmo, como disse Caetano, é outra alegria. E alegria está também na divergência, em olhar pro colega do lado e poder dizer a ele que não concorda com nada do que ele diz, que não gosta das roupas que ele veste - muito menos do jeito que ele olha pro sol, mas que, ainda assim, o observa. Que, ainda assim, quer ouvir seus devaneios e ficar na torcida pra que, na sua diferença, ele seja feliz também. Porque a felicidade, quando democrática, vira prima-irmã da esperança e se torna capaz de mandar tudo pro inferno.

A verdade é que esse é um assunto tão interessante, mas tão interessante, que eu poderia ficar dias discorrendo sobre ele, mas no momento o feijão está no fogo precisando de minha atenção. Antes de voltar pra cozinha, queria pedir encarecidamente uma coisa pra vocês aí do outro lado do monitor: aconteça o que acontecer, eu não quero ser citada, que não sou filósofa, nem cientista, nem membro de nenhuma academia. Além do mais, sem querer baixar o nível, que isso aqui é um blog de categoria, poeta que é poeta gosta mesmo é de ser ex-citada.

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