domingo, 9 de outubro de 2011

Domingueira pé no chão (ou disciplina é liberdade)


SEQUÊNCIA ÚNICA- QUALQUER LUGAR- EXT- DOMINGO

Rapaz e moça conversam.


-Você é ciumenta?

-Se eu sou ciumenta?

-É?

-Acho que sou normal.

-Defina normal.

-Posso ser sucinta?

-Deve.

-Acredito mais no respeito do que na posse.

-Legal.

-E você?

-Se sou ciumento?

-É.

-Acho que sou que nem você, adepto do respeito.

-Ponto pra nós.

-É.

-Até mesmo por que, quem se prende é a própria pessoa.

-Como assim?

-Por exemplo, se eu fosse sua gatinha, não ia adiantar eu tentar te prender a mim, só você teria essa capacidade.

-E esse desejo...

-Isso mesmo, quer chiclete?

-É de quê?

-É dado.

-Hahahahahahaha, você é divertida.

-Ser divertida é apagar determinados incêndios com conta-gotas.

-Nossa, isso foi uma metáfora?

-Sabe que até hoje não sei direito o que é metáfora?

-Jura?

-Se precisar eu juro, uai.

-Você é mineira?

-Nada, carioca.

-Num parece.

-Por quê?

-Sei lá, essa pele cheia de sardinhas, parece gente de fora.

-Minha mãe é galeguinha, mas minha vó era negona.

-Legal.

-Mas fala mais das metáforas.

-Você não aprendeu isso na escola?

-Essa aula devo ter matado.

-Metáfora é uma figura de linguagem que compara duas coisas, tipo: ‘você é uma gata’.

-Obrigada.

-Sério, se você é uma mulher, não pode ser uma gata, portanto, se eu te comparo a uma gata sem dizer que você é 'como uma gata' ou 'tal qual uma gata', isso é uma metáfora, entendeu?

-Nossa, morri agora.

-Para com isso...

-(Risos).

-'Morri' é exagero, vai...

-Não é exagero, é hipérbole.

-Olha só, que danadinha...

-Foi só à aula de metáfora que faltei.

-Maneiro.


Continuaram nessa por horas, apalpando suas almas em braile.

Aceitando o escuro.

Pra ver se dissolviam os temores que insistem em nascer do cansaço.

E da solidão.

3 comentários:

marina faissal disse...

keep talking, baby! lov u

floratomo disse...

suspiro..

Renata disse...

muito bom!!!!!