Imagem: Pacha Urbano
Muito antes do surgimento da expressão ‘Best Friends Forever’, Mila e Josi, amigas de maternal, tinham essa coisa de contar tudo uma pra outra o tempo todo sem parar. Preocupados com a conta de telefone que só crescia, seus pais optaram por inscrevê-las nas mesmas atividades extracurriculares. Assim, fora história, geometria e alemão, as gurias compartilhavam aulas de hipismo, xadrez e ioga. Isso sem contar, naturalmente, com as viagens do grupo de escotismo nos finais de semana.
Aos dezessete, o grude das moças começou
a preocupar. Afinal, em tantos cursos e atividades, nenhuma das duas tinha
arrumado um namoradinho sequer, nem que fosse pra fazer presença nos bailes de
debutante das primas mais novas. Muito pelo contrário. Quando tinham a oportunidade
de levar um acompanhante, faziam questão de ir juntas, para dar aquele toque lesbian chic necessário a toda festa de
família que se preza.
Long story short, passados uns anos, não dava mais pra negar o que
era claro aos olhos. Além do mais, as moças já eram maiores de idade e não
havia nada que as pudesse deter. Assim, as mães das meninas, mesmo sem
paciência para as constantes piadinhas das amigas do clube, tiveram grande
alívio com a saída do armário das filhas. Já os pais das garotas, esses tiveram
apenas que evitar fazer sauna na companhia dos amigos reconhecidamente homofóbicos,
em especial aqueles que aproveitavam o esfumaçado do ambiente para manjar a
rola dos amigos reconhecidamente gays. Nessas horas é que a gente percebe como pros
homens as coisas sempre parecem proporcionalmente mais fáceis.
Digressões à parte, tudo tinha meio que se ajeitado quando a menstruação de Josi atrasou. Ela, que sempre combina
pulseira com colar, jura de pés juntos que não se esqueceu de tomar a pílula
nenhum dia. Pra piorar a situação, estava grávida de um carinha com quem Mila tinha
ficado logo após uma briga das duas, quando acampavam, num feriado de Páscoa. Foi
mais ou menos assim: expulsa da barraca pela namorada na sexta-feira da paixão,
Mila foi atrás de um colchonete para passar a noite e acabou ganhando de bônus um
cobertor de orelha. Por um acidente de percurso, Josi flagrou os dois juntos e
deu um ataque dos grandes. Desculpas aceitas e castigos aplicados, na Páscoa seguinte,
mais precisamente no sábado de aleluia, Josi esbarra com o moço na praia, tomam
uns drinques, ela pensa: ‘Se Mila provou, eu posso também’. Numa só tacada, os
dois ficam grávidos e apaixonados.
Abandonada e sem chão, Mila precisou
encontrar um meio para lidar com o fato de ter sido trocada por um cara. E o
que era pior: por um reprodutor. Só dois meses depois da tragédia conseguiu ficar
de pé, ligar o foda-se e passar a quinta, certa de que em algum lugar sua alma
ia querer parar pra abastecer.
Pois sem tropeço (e mudança de
endereço) ninguém faz estrada.
Nem tampouco anuncia novas
temporadas.
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