terça-feira, 29 de julho de 2014

Macia por dentro



Não sei por que motivo. 

Talvez pelo desejo de tomar um chocolate quente no meio dessa tarde gelada.  Talvez pela dificuldade que estou enfrentando em escolher cinquenta poemas pra mandar pras editoras no intuito de ser publicada (o que me fez reler todos os textos que escrevi nesses últimos nove anos). 

Não sei dizer.

Só sei que me lembrei agora de um episódio de minha vida. 

Foi quando pisei pela primeira vez que no Mercadão de Madureira pra fazer pesquisa de personagem prum documentário. Depois de entrevistar várias pessoas, fui fazer compras. Me peguei vendo calcinhas numa loja. Minha expressão devia estar transmitindo tanta decepção - afinal, as peças não conseguiriam cobrir nem um terço de minhas ancas - que uma das vendedoras, diretamente de detrás do balcão, em alto e bom som, disse:

'-Ném, a parte das vitaminadas é ali do lado!' 

Demorei um pouco pra entender que era comigo. Pronto. Precisei ir ao Mercadão pra me definir: sou vitaminada. 

Caminhei até o referido setor e vi um monte de calcinha que cabia em mim. Aliás, elas não só cabiam, mas, além disso, valorizavam meu feitio de corpo, do exato jeitinho que sou. 

Nada contra quem não tem carne de manobra. Tem espaço nas fantasias masculinas pra todas nós.

Acho que lembrei esse episódio do Mercadão porque vi que em nove anos de blog um dos pontos centrais de meu discurso sempre foi o de ir contra essa mania que as novelas e as propagandas têm de querer nos encaixar em um único padrão de beleza e de comportamento. Tudo bobagem. Dá pra ser manequim 42 e ser linda. Dá pra dar de primeira prum cara e não ficar achando que ele sumiu por conta disso.

No dia que a gente começar a se amar do jeito que a gente é a grande revolução começa. 

E nunca mais acaba.

O importante é ser macia por dentro, pessoal.

Agora vou tomar um chocolate quente.

Beijos floridos.

Nenhum comentário: