quarta-feira, 30 de julho de 2014

Bairrismo mon amour



Copacabana é o metro quadrado onde cabem mais velhos no mundo. Faça chuva faça sol, tem sempre um pedindo ajuda, seja diretamente com um: '-eu sei, filha, que teria que ser alguém do banco, mas ninguém aparece, então você me ajuda a fazer essa transferência, por favor?', seja indiretamente, através daquele lançamento de olhar oblíquo na porta do mercado, que faz com que a gente imediatamente se sinta obrigado a ajudar aquela criatura a atravessar a rua, a pegar um táxi, ou, até mesmo, a dar uma reclamadinha da vida pra algum humano, porque bicho, apesar de fazer companhia, não responde. Pelo menos não com palavras.

Pois bem, hoje, depois de duas semanas fora de casa, voltei à minha princesinha do mar e, de cara, vi um coroa só de sunga, com a chave de casa amarrada em uma espécie de cinto de barbante e o dinheiro pro chopp provavelmente nas partes que não tomam sol. A languidez de seu caminhar dava a pista de quem anda devagar porque já teve pressa de criar filhos, pagar contas e responder sim senhora à esposa.

O velho é tudo que sobra depois que tudo que era obrigatório foi embora.

O velho é a criança sem tanto futuro assim.

É a esperança de que o passado, da forma que foi, até que deu certo.

É o melhor amigo do cachorro.

É o foda-se consentido.

É a certeza de que tudo vai bem quando acaba bem.

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