domingo, 10 de agosto de 2008

O adorável escroto parte 2 (ou Babaquice tem limite)

-Ele leu o conto que você escreveu pra ele no blog?
-Sim. Disse que leu e morreu de rir.
-Nada mal...
-Aproveitou pra dizer que a pessoa que estava com ele morreu de rir também...
-Que pessoa?
-Foi o que perguntei.
-Por acaso era uma mulher?
-Lógico!
-Sabe que isso pode ser mentira dele pra ver sua reação, né?
-Sei, mas não faz a menor diferença se é mentira ou verdade...
-Exatamente, baby, muito caído...
-Caído pra caralho!
-Não gosto quando você fala assim de caralho! Já disse que isso não atrai coisa legal pra tua vida. Só pronuncia a palavra caralho com raiva, assim não dá! Do jeito que a situação está, esse tipo de atitude sua chega a ser antiecológica, amiga!
-E não foi só isso!
-Jesus, tem mais?
-Cara, ele teve a audácia de falar que meu conto era só mais um textinho de internet, que quase ninguém lia mesmo...
-Ihhhhhhhhhh...
-Ih o quê?
-Nada, deixa quieto.
-Diz, porra!
-Muito bem! Falou porra ao invés de caralho! Olha a evolução!
-Você não vai parar com isso não!!? Eu aqui te falando uma parada séria e você nessa merda, bicho, que porra dos infernos!

O tempo estava quase fechando quando as palavras vieram carregando o ânimo nos ombros:

-Desculpe, amadinha, tava tentando te relaxar, porque não tem mais jeito mesmo, né? O cara entrou nessa de ser um babaca, fazer o quê? Matricular ele na aula de etiqueta? Se ele é assim, deixa pra lá, se preocupa com as coisas que merecem sua atenção nesse momento.
-O mais engraçado é que ele não era desse jeito antes...
-Claro, assim são os babacas!
-Era super fino, preocupado com os detalhes...
-Um babaca detalhista, requintado e daí? Não deixou de ser uma babaca!
-Ele ficava dizendo que o nosso momento estava chegando, que eu precisava ser paciente, que nosso lance não era pra ser uma coisa efêmera, que precisávamos de tempo e coisa e tal...
-Tava te cozinhando em banho-maria!
-Pior é que é...
-Ah, cara, um homem que tem o desplante de mandar que leu seu texto ao lado de uma mulher, que eles morreram de rir juntos, e ainda complementa com um “seu conto é só um textinho de internet que ninguém lê mesmo” não é um cara gentil, concorda?
-Concordo.
-E você tá acostumada a ser bem tratada, né, querida?
-A pão-de-ló...
-Então, babou, né?
-...
-C’est fini, it’s over, that’s it!
-...
-Concorda que essa história já deu o que tinha que dar?
-...
-Chora não, honey! Imagina um cara desse depois do almoço de domingo, que horror que não ia ser! Deve ser do tipo que olha pros peitos das amigas na frente da mulher, que esquece aniversário de casamento, que pensa que flor é frescura, essas coisas.
-Sinistro...
-Já tô até vendo a cena: você fugindo pro CCBB, pra primeira mostra de artes plásticas, pra esquecer que tem marido. Ia passar a vida tentando fingir que domingos não existem! Um inferno! Não combina contigo isso, sinceramente! Você é uma mulher foda, não é pra qualquer detalhista que se esquece da gentileza, cruzes!

A ofendida enxuga as lágrimas, respira fundo e, enquanto pega o colírio na bolsa, cai em si:

-Nossa, que bom ouvir essas coisas, nega, brigada!
-É pra isso que existem as amigas, porque elas podem ver de fora. E de fora a vista é bem menos embaçada...
-A gente fica meio idiota quando tá a fim de alguém, né?
-Comigo também rola isso, de volta e meia ficar desse jeito que você tá aí, toda me sentindo meio boçal de ter dado corda prum figura tão merda quanto esse carinha.

E assim, como quem está de férias no Maranhão tomando sorvete de graviola, as amigas espremeram aquele episódio até a última gota, pois sabiam que somente dessa forma poderiam se ajudar na imensa dificuldade que é lidar com os próprios sentimentos, emoções, hormônios e todo tipo de substância ou presença que nos modifique a respiração e que nos deixe prontas para transgredir em paz.

E, em se tratando de babacas, a melhor coisa a fazer é sair de cena sem alarde, como quem diz que vai ao toalete e não volta pro final do espetáculo.

Porque circo de horrores é só pra quem tem estômago de avestruz.

9 comentários:

Fábio Ricardo disse...

homem eh tudo escroto. digo pela voz da experiência.

Marina Melz disse...

o pior de tudo é que sair de cena sem alarde e sem um piti daqueles dá a impressão de não ter pisado em cima o suficiente pra que o filho-da-puta aprenda. mesmo sabendo que ele nunca vai aprender mesmo.

Rodrigo Carreiro disse...

É sempre bom ler as mulheres conversando ;p

P.R. disse...

mais uma vez voce lendo minha alma. cara, definitivamente em se tratando de babacas a melhor coisa a fazer é vazar, sumir sem deeixar rastros. afinal, a friezaz é o pior dos castigos, porra! e caralho!

Rackel disse...

O melhor seria ele ler essa segunda parte do post anterior, e de novo na frente da atual, não só pra perceber q é um imbecil, mas tb pra ela (a novata) perceber o q a aguarda...

Unknown disse...

A suerte, babe, é o que o mundo dá muchas vueltas.
Um dia a protagonista canta pra ele:
"Acreditar.......eu não
Recomeçar.......jamais
A vida foi.........em frente
E você simplesmente
Não viu que ficou pra trás
....... .Não sei se você me enganou
Pois quando você tropeçou
Não viu o tempo que passou
...Não viu que ele me carregava
E a saudade lhe entregava
O aval da imensa dor
E eu que agora moro nos braços da paz
Ignoro o passado que hoje você me traz
E eu que agora......moro nos braços da paz
Ignoro o passado que hoje você me traz"

E ao som da Orquestra Imperial, Dona Ivone Lara remodelada. Rá.

Bezzos, flor!

LADODENTRO disse...

Como sempre, Poliana revela os lados e contralados das relações contemporâneas. Pique da fala em palavra que á língua desses tempos de amores fugazes e escrotos; mas eu sei e ela sabe: existe o nosso lugar do amor tranquilo.

LADODENTRO disse...

Como sempre, Poliana revela os lados e contralados das relações contemporâneas. Pique da fala em palavra que á língua desses tempos de amores fugazes e escrotos; mas eu sei e ela sabe: existe o nosso lugar do amor tranquilo.

Caio Miniaturas disse...

ffvgqTodo mundo cai nessa armadilha um dia (ou vários). O importante é dar-se conta do momento em que passamos a enxergar quem não merece com os olhos da realidade. É uma pena que o babaca não saiba mensurar a qualidade de um texto. Ótima semana.

ALBERGUE MENTAL
http://caioalbergue.blogspot.com/