segunda-feira, 23 de março de 2009

Vastas estações, pensamentos imperfeitos

Pensou em fazer alguma coisa útil no meio daquela tarde triste de verão, pois sabia que não era certo ficar assim em dias de sol. Passou sundown 60 pra se sentir protegida e quis, lá no fundo, que existisse um protetor solar também para almas. Seria uma boa forma de economizar a grana preta que gastava na terapia. Ou pelo menos de se fazer de alegre quando suas amigas desesperadas insistiam em lhe telefonar em busca de alento.

Mas o telefone, assim como a justiça com as próprias mãos, tarda, mas não falha:

-Ai, amiga, pode me ouvir?
-Claro, diga lá.
-Acho que fiz merdinha...
-O que foi dessa vez?
-Dei pro carinha do curso.
-E desde quando isso é fazer merdinha?
-Dei de primeira, esse é o problema.
-Ai, bela, não semiotiza, vai...
-Como assim?
-Você não tava com vontade de sair com ele há um tempão?
-Tava!
-Então...
-Então que ele não pediu meu telefone...
-Ah, você queria que ele fosse te levar em casa no dia seguinte num cavalo branco, né?
-Ai, amiga, não zoa, tô mal com isso...
-Desculpa, mas não concordo com essa política desesperada de contar encontros até resolver transar, porque isso me dá a impressão de que nossas bucetinhas são uma espécie de prêmio e que, quanto mais esperarmos, mais elas vão ficando apetitosas, como iguarias típicas da Amazônia, sabe assim?
-Se sei.
-Bota na sua cabeça que essa é uma idéia que inventaram pra adaptar aos nossos tempos as normas sexuais castradoras dos tempos de nossas avós.
-Como assim?
-Baby, pode ser que ele não peça seu telefone nunca, e daí?
-E daí que eu queria saber até quando vou ficar dando pra caras que não me ligam no dia seguinte.
-Até o dia que rolar um cara maneiro que goste de você e que saiba usar o telefone. E isso independe de você ter dado de primeira, de segunda ou de terceira...
-Ai, ai, não consigo ser tão esperançosa...
-Querida, preciso desligar, estão tocando o interfone e tô sozinha em casa.
-Me liga depois, então.
-Ligo, sim.

Claro que não ligou: esse papo de esperança era um tormento com o qual tinha que conviver diariamente. Não queria dizer pra amiga que pra cada panela existe uma tampa, porque sabe de um monte de tampas sobrando por aí, totalmente oxidadas de tanto esperar por uma panela que se encaixe em seus contornos com o mínimo de dignidade.

Tirou o telefone do gancho e resolveu nada mais fazer naquela tarde de verão.

A não ser esperar pelo outono, quando, finalmente, poderia ficar triste em paz e jogar a culpa toda no tempo chuvoso.

10 comentários:

Paulo Bono disse...

é. esse negócio de regrinha não dá certo.

abraço, flor de laranja

*23/03 - Segunda. São 11 horas. Eu tava querendo ir hoje ver seu filme. Mas pintou uma parada, trabalho. Resta amanhã.

Marina Melz disse...

Todo mulherão tem seu dia de mulherzinha de vez em quando.

Thais Farage disse...

filtro solar pra alma.. como é que vc tem tanta idéia genial?

M. disse...

acho que sou uma cumbuca.

viveni de filmes plasticos.

tampa...rá rá rá.

gigi disse...

eu ia falar alguma coisa genial, mas a M. cobertinha de filme de PVC mexeu com meu cuore.

e vamos vivendo!

lov u

Anônimo disse...

ahh..gostei...dar no primeiro encontro ? acho ótimo !=P
E quando rola ...dá no segundo, no terceiro, no quarto...

Anônimo disse...

Final poderoso. O lance é que se tem tampa sobrando por aí sem panela, também tem umas boas tampas multi-uso atuando nas melhores panelas da cidade.

O lance eh que regrinha de calendário não rola. Tem que ser química, curtição da melhor especie. Pode ser que não role. Mas vai que rola? Só tem um jeito de descobrir.

Anônimo disse...

"bucetinhas são prêmios" hehehe
Gostei dessa

C.C. disse...

poliana jones querida,
sou sua fã de caretirinha...
esse textículo está phoda!!!
mal posso esperar pelo novo curta que será contemplado pela petro ou minc!!!
"filtro solar pra alma" é tudodebom.com.br
beijo,
flavia

Anônimo disse...

Como ensinou no post anterior, melhor não propagandear e por isso ficarei anônima. rs
Achei a tampa da minha panela e sempre brinco dizendo que ele ficou comigo porque não dei de primeira e nem foi porque quis, mas uma série situações.
sempre acreditei que 'tá com vontade, dá!'
:)