domingo, 26 de julho de 2009

Cesta básica

-Mas daí ele te arrastou prum canto, foi isso?
-Sim, pra gente se conhecer melhor.
-Se conhecer melhor é puxado...
-Super, mas eu fui, né, já tava como...
-Claro.
-Rolaram uns beijinhos e, dali a pouco, perdendo a imensa oportunidade de ficar calado, ele manda: pô, gatinha, eu até tô super a fim de te pegar mais vezes, mas você sabe que eu tenho namorada, né?
-Ele tem namorada?
-Tem.
-Homem num administra bem mais de uma tpm por mês, querida, tem que arrumar um solteiro pra te comer!
-Pois é...
-E esse ‘eu até tô super a fim te pegar mais vezes’ é um acinte!
-Muita gente fala assim, vai, também não é o fim do mundo...
-Aprende uma coisa, amiga: quando o cara fala ‘eu até tô a fim’ é a deixa pra você começar a treinar pros cem metros rasos, não sem antes dizer: ‘sabe que eu até tava cogitando te dar minha bucetinha?’
-Hahahahahahahaha.
-Porra, você ri?
-O que você quer que eu faça?
-Parar de dar bola presse sem-noção já seria um ótimo começo.
-Você quer ouvir a história até o final ou vai continuar monologando sobre as respostas que eu deveria ter dado?
-Tem mais? Não parou na namorada?
-Menina, ele estava decidido a deixar passar todas as chances do mundo de ficar em silêncio.
-Tipo Luciana Gimenez?
-Por aí.
-Aff...
-Escuta: ele puxou uma agenda e começou a dizer que dias tinha pra mim, que dias saía com a namorada e que dias ia sozinho pra pista, você consegue visualizar a cena?
-Pior é que consigo, mas e aí, você disse o quê?
-Disse que às sextas, enquanto ele encontra com a gatinha, eu costumo ver meu personal fucker e que, como ele é dos bons, sábado é dia de ficar com a bucetinha de molho no permanganato.
-Você disse com essas palavras?
-Como quem fala sobre morangos orgânicos em promoção.
-E ele?
-Deu aquele riso nervoso de homem, sabe?
-Sei.
-Pra logo depois perguntar se no domingo eu já estaria recuperada.
-Caralho! Inacreditável! E você?
-Disse que domingo era um bom dia, que eu normalmente costumava ficar em casa no dolce far niente, praticando meus exercícios de pompouarismo na companhia de meu vibrador e que, se ele quisesse dar uma chegada, seria super bem-vindo.
-Hahahahahahahaha. Muito bom! E ele?
-Ficou com cara de paisagem fora de foco, sabe?
-Pelo menos serviu prele calar a boca?
-Naquele dia, sim, mas acabou de me ligar.
-Te chamando pra sair?
-Me chamando pra ir numa casa de suingue, acredita?
-Gente, esse cara é um mito!
-Ele é cara-de-pau, isso sim!
-Mas você tá morrendo de vontade de dar pra ele, né, sua piranha? Nunca vi pra gostar tanto de homem sem nada na cabeça, impressionante.
-Tenho uma queda por boçais, sim, que mal tem isso?
-Mal não tem, fetiche é fetiche.
-Ainda assim, isso é melhor do que o hidratante facial que tu tem que usar toda noite.
-Caralho! Sabia que uma hora você ia acabar jogando essa porra na minha cara!
-Quem joga porra na tua cara não sou eu, não, boneca, me inclui fora disso!
-Besta...
-Desculpa, amiga, é mais forte que eu. Mas me diz: você ainda tá saindo com esse figura?
-Cara, uma relação, por mais que seja pura e unicamente pra sexo, não pode ser tão desigual: o cara queria comer meu cuzinho e gozar na minha cara, mas nunca, nunca, me deixava ficar por cima.
-Não sabia desse adendo. Que coisa, menina, mas tinha algum motivo?
-Pra ele, mulher que monta em cima de homem e que pinta unha de vermelho é tudo puta.
-Mentira!
-Pra você ter uma idéia, nem lambidinha no mamilo ele deixava eu dar, dizia que era coisa de viado.
-Mas raspar o peito pode, né?
-Pois é, vamos abafar esse caso...
-Poxa, querida, essas coisas você não tinha me contado.
-Ah, porque é meio humilhante, né? Mas, depois do seu episódio da agenda, me senti mais à vontade.
-Vaca!
-Sem sacanagem, é confortante saber que não é só comigo que barbaridades acontecem, dá uma sensação de pertencimento às avessas, uma coisa meio freak até...
-Sei bem, na merda todo mundo é solidário, difícil é amigo que atura seu sucesso, já dizia Vera Loyola, mas conta: e aí, dispensou o bofe?
-E fui fazer pé e mão na sequência.
-Passou o quê?
-Romance por baixo e Atração fatal por cima.
-Boa! É esse que você tá usando?
-Não, esse é Rebu por baixo e Romance por cima.
-Ah tá...
-E hoje, qual vai ser?
-Vou estrear meu vibrador tailandês e tu?
-Comprei um saquê e vou ver uns filminhos bestas na tv.
-Estamos bem, então, né?
-Estaremos melhores no dia que os vibradores aprenderem a perguntar como foi nosso dia, mas, por enquanto, vamos levando.

Iam levando mesmo sabendo que tanto pastiche feminista meia-boca era coisa só pra inglês ver e tailandês meter.

Porque no fundo no fundo, em algum lugar entre o ponto G e a solidão, toda mulher quer mesmo é uma cesta básica pra chamar de sua.

Com direito a ovos, salame, leite batido, miolo, coração, pimenta e sal.

Sem miséria.

3 comentários:

M. disse...

Tipo Luciana Gimenez é foda.

E vamo combinar a gente quer mesmo é fartura.

Cansamos de ser tratadas como lanchinho.

Enfim, a gente tem mais q unhas vermelhas.

sem miséria.

Fábio Ricardo disse...

poli de volta com sua boa forma. gostei de ver.

- eeeeeii disse...

CARAMBA!

morri de rir! omg (:

o fim é digno. e tenho dito