quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sugar Blue (pro Caneta, Lente e Pincel)

inspirado na foto de Yasmin Hirao

Uma vez li em algum lugar que uma pessoa comia muito açúcar porque não conseguia comer ninguém. Outra vez também li que existe uma relação entre o açúcar e a tristeza. Isso foi num livro que não lembro o nome. Ando esquecida que nem aquela peixinha daquele filme infantil que tinha perda de memória recente. Como é o nome dela? Jesus, Maria, José, a manjedoura inteira, não me recordo de mais nada nessa vida. Outro dia perguntaram meu nome e demorei um pouco pra responder, mas, depois de um esforço danado, consegui. Ainda bem. Pega muito mal ter de olhar na carteira de identidade para se identificar. Mas se tem uma coisa da qual não me esqueço de jeito nenhum é de comer doce. Amo. Especialmente os massudos, carregados no recheio e na gordura hidrogenada. Ah, numa boa, sou do tempo em que se comia as coisas sem ficar analisando o tipo de colesterol nem o tipo de gordura. Acho essa mania um saco, um patrulhamento de Deus me livre. Imagina, a pessoa tá ali, no mercado e, quando vê, tem alguém olhando pro seu carrinho com ar de reprovação. Se eu vou pagar, por que a criatura fica preocupada? É ela que vai me levar no médico se eu adoecer? Segurar meu cabelo se eu vomitar? Fazer chá de erva cidreira se eu tiver gases? Não vai. Esse povo que olha torto pra compra dos outros gosta mesmo é de se fazer de light quando, na real, lá no fundo, na camada dos pensamentos, é hard pra caramba. Outro dia mesmo, na sala de espera da ginecologista, na falta de uma revista diferente de Caras, puxei conversa com uma mulher que estava ansiosa por que um determinado cidadão tinha, no auge do entusiasmo, deixado, dentro de suas entranhas, uma camisinha. Disse a ela que isso só acontecia com quem fazia sexo e que uma freira, por exemplo, estava livre desse tipo de situação, mas que, em compensação, não sabia o que era suar pelo tampo da cabeça depois de uma bela cavalgada das valquírias. Falei também, para distraí-la, do caso de minha prima Diana, que recebeu esse nome por conta da mãe dela, minha tia, que esqueceu de trocar o DIU por nove anos. Daí, quando a louca resolveu marcar uma consulta, já estava grávida de três meses. Pra quê fui falar isso? A mulher, tal qual uma narradora de futebol, contou, tim tim por tim tim, sua saga sexual com o caçador do preservativo perdido. Confesso que, mesmo tendo lido muita Simone de Beauvoir, fiquei com pena do sujeito. Pegar uma maluca desse naipe não deve ser mole não. Sabe o que ela teve a pachorra de me dizer? Que falava pro bofe que o pau dele era pequeno, só para chateá-lo e, assim, dimunir as chances dele se interessar por outra. Nessa hora não aguentei e comentei que muito mais importante do que o tamanho era a espessura, afinal de contas, um pau fino agia dentro de nós como um taco de sinuca e, venhamos e convenhamos, Rui Chapéu ficou lá atrás, na década de oitenta. Pra quê fui falar isso? Ela quis saber o que eu entendia como fino, ao que respondi que era uma questão muito pessoal, afinal, cada mulher tinha uma anatomia e que eu, por exemplo, nunca fui tão profunda ao ponto de exigir um ator de filme pornô para me satisfazer. Pra quê fui falar isso? Ela quis saber a que filmes pornôs eu me referia e se eu gostava de brinquedinhos na hora da cama. Pra me fazer de fina, disse que um chantilly já tava bom. Pra quê fui falar isso? A doida enlouqueceu de vez e disse que esse tipo de guloseima só ajudava o organismo a acumular radicais livres e que eu já não era mais criança para me dar a esses luxos. Ainda bem que chegou minha vez de ser atendida, senão era bem capaz deu falar pra ela que radical que nem ela devia estar tudo preso, pra deixar os outros viverem em paz e correrem o risco que quisessem, afinal de contas, sem risco mesmo, só o pão sem glúten que ela come de manhã.

Sinceramente, eu prefiro o jejum.

Um comentário:

Juju disse...

ahahahhahahahahahahahahahhaha
puta que pariu, amaaayyyyy...
fiquei imaginando a cena da ante-sala da gineca!