sábado, 20 de junho de 2009

Banana engorda e faz crescer

Valentina tem uma filha adolescente e já percebeu que hoje em dia essa moçadinha - não sabemos se por culpa das novelas, da internet ou das propagandas de guaraná - está com os hormônios turbinados. Ou seja, o que nós aos quinze estávamos começando a pensar em fazer, as garotas de hoje, aos treze, já fazem há tempos.

Portanto, na tentativa de não ser avó tão cedo, jogou seu apelo de mãe:

-Querida, queria falar uma coisa com você.
-Não é sobre sexo não, né, mamita? Que essa semana a gente já teve que colocar camisinha em banana na aula de educação sexual. Mó mico!

Ok, a menina estudava numa escola ‘cabeça’ pra filho de artista, mas, apesar desse negócio de colocar camisinha em banana ser até bem legal, não é garantia de que a mesma será embrulhada de fato na hora do vamo ver, ainda mais ali, ambiente construtivista, cheio de recantos propícios para o plantio de frutas sem casca.

Pra se fazer de relaxada, foi só dando corda:

-Acredito que tenha sido mico mesmo fazer isso na frente dos meninos.
-É, e ainda por cima, fiquei no grupo do Matheus, ninguém merece...
-Ah, é?
-É, e ele ficou me zuando.
-Por quê?
-Disse que eu não tava acostumada a comer banana. Ainda falou altão, pra geral ouvir!
-Que idiota.
-Mas eu não deixei barato, não! Falei: é, eu posso até não estar acostumada com banana, mas, ainda assim, dispensaria a sua, mesmo que fosse a última do mundo!
-Hahahahahahahahahahaha! Boa!
-Ele se acha só porque namorou a Vanessa no ano passado e porque ela levava ele pra tudo quanto era show do pai dela.
-Grande coisa.
-Pois é. Sou mais meu pai, que me levava no ballet, esperava a aula acabar e ainda me dava sorvete de pistache depois.
-Seu pai era um homem bom mesmo.
-É...
-Então, filhinha, o que eu tenho pra te falar tem um pouco a ver com isso.
-Com papai?
-Num certo sentido, sim, porque ele costumava dizer, quando você tinha uns dez anos, que na hora que seus peitinhos começassem a aparecer, teríamos que te fazer uma pergunta importantíssima.
-Qual?
-O que separa a cabeça do resto do corpo?
-Como?
-A pergunta é essa: o que separa a cabeça do resto do corpo?
-Fácil! O pescoço.
-Quase.
-Como quase? Óbvio que é o pescoço!
-Aí é que você se engana: quem separa a cabeça do resto do corpo é o ombro, não o pescoço!
-Tá! Beleza! Mas o que isso tem a ver com os meus peitinhos?
-Absolutamente tudo.
-Por quê?
-Porque piroca não tem ombro!
-Quê???
-Acompanha meu raciocínio: se é o ombro que separa a cabeça do resto do corpo, e piroca não tem ombro, não existe essa história, que você já deve ter ouvido dos meninos, de colocar só a cabecinha, entendeu? Eu mesma conheço muita criança que veio ao mundo em virtude do fatídico “foi só a cabecinha...”.
-Caraca, mãe, de onde você tirou isso??? E piroca é uma palavra muito feia! Eca!
-Calma, deixa eu terminar meu raciocínio!
-Ok...
-Toda vez, mas toda vez, que você estiver com um menino e ele vier com esse papo, você coloca uma camisinha nele. Se ele disser que sem camisinha é mais gostoso e que você é livre pra fazer o que quiser, já que é uma menina moderna, recolha sua bucetinha e embrulhe pra presente, porque o que não vai faltar é garoto querendo pegar senha pra sair com você, combinado?
-Combinado, mas, mãe, bucetinha é muito feio também!
-Você prefere chamar de quê?
-De pênis e vagina! Óbvio!
-São os nomes corretos, mas muito científicos, não?
-Mas eu sou uma cientista, esqueceu do prêmio que eu ganhei na feira de ciências do ano passado?
-Como eu ia esquecer, garota?
-E, ainda por cima, quando eu crescer, eu vou ser neurocirurgiã, daí, vou ter que usar palavras de cientista toda hora, né, não? É melhor ir treinando desde já.
-Tá certo, cientista, chama do que você quiser, tá bem?
-Por que você não pergunta logo o que quer saber?
-Porque fazer pergunta é muito mais difícil do que dar respostas.
-...
-E, além do mais, eu posso até não parecer, mas sei das coisas, entendeu?
-Tendi.
-De qualquer forma, nunca é demais falar o quanto é bom evitar bananas sem casca, pelo menos por enquanto, não só por conta de neném, mas por um monte de coisa ruim que pode acontecer.
-Sei, as DSTs! Ai, mãe, parece até que eu sou criança!
-É, né? Papo brabo esse meu.
-Nojento, mas por outro lado é sempre bom lembrar do papito, né?
-Muito. Aliás, bora tomar um sorvete?

Escolheram pistache por pura nostalgia e sabiam, lá no fundo, que o sorvete era mero pretexto pra continuarem, como quem não queria nada, o papo sobre meninos e suas angulosas formas de sempre conseguirem o que querem de nós.

Afinal, garota que perde pai cedo demais, precisa de mãe que explique bem direitinho por que banana tem vitamina, engorda e faz crescer.

9 comentários:

Juju disse...

uhauahauhauahauhauhauahauau
piroca não tem ombro é oootimoooooo

Fábio Ricardo disse...

esse papo de piroca não tem ombro foi foda.
mas ainda estranho essas mães modernosas...

Morango sem chantilly disse...

Piroca não tem ombro! Muito bom, bom demais. Mãe moderna, hein!

Anônimo disse...

Queridíssima, você sempre soube que eu sou sua fã, não é de hoje. Poli Position merecia um salário só pra inventar as coisas que inventa... mas antes eu não tinha muito tempo, e agora na Coréia (você sabe que estou na Coréia, né?) tenho todo o tempo do mundo.
Estou a ler seu blog delícia e vou continuar, xá comigo. Manda notícias suas, também. Seria um prazer recebê-la no meu blog que conta minhas aventuras e desventuras no novo universo coreano.
Beijos saudosos e orgulhosos,
PatB

M. disse...

banana engorda e faz crescer.

Marina disse...

essa é ótima.

Corba disse...

Nunca li tanta verdade junta...

Unknown disse...

to gostando desse blog poli! com humor e moral, rs!

Guilherme D. Morais disse...

txt mto bom...
gostei da sua "sabedoria irreverente"...