sexta-feira, 15 de maio de 2009

Dicas práticas para detectar punheteiros online

Leitores do meu Brasil varonil,
Venho por meio desta falar sobre um grande mal que nos assola: os punheteiros online. Digo isso não somente por fazer parte da legião cada vez mais representativa de moças e moços que não vêm nada de mais em conhecer alguém via orkut, blogspot, msn, gtalk, twitter, myspace, facebook e internetismos outros. Realmente não há nada de mais: é só uma maneira que a pós-modernidade nos apresenta de abrir novas janelas rumo ao desconhecido. E, cá pra nós, encontrar um sujeito na Lapa ou no Baixo Gávea pode ser tão ou mais arriscado, não é mesmo?

Entro numas de levantar essa bandeira por conta de inúmeras roubadas por mim vividas e a mim narradas, já que o fato de ser blogueira acaba me tornando de certa forma porta-voz de amigos e amigas que se identificam com a cartografia que faço desta nossa geração perdida.

Antes que se inicie uma tristeza acachapante, aviso que conheço alguns casos de amor internéticos de sucesso. Sim, eles existem! E acredito que, exatamente por conta disso, resida nas mentes de moços e moças (mais nas das moças, sejamos sinceros) um fio de esperança. Afinal, a cara-metade pode estar ali, logo atrás do monitor, onde sempre esteve. E, para conhecê-la (escrevo hoje para as meninas, perdoem-me, rapazes...), você nem precisou se depilar, fazer escova possessiva, lançar seu perfume francês e nem aquela plataforma que deixa seu dedo mindinho dormente logo nos primeiros quarenta minutos de uso. Muito pelo contrário: você pode estar com a cara cheia de hipoglós, bigoduda como a Frida ou naturista como a Ohana dos anos 80. Portanto, na vida, assim como na internet, vale a máxima de que, em se tratando de casos de amor, a única coisa imprescindível é o encontro.

Assim, sem querer desanimar ninguém, meu alerta vai pras românticas de plantão que pensam que, por conta do status de “solteiro” dos rapazes, o orkut está lotado de interessados em encontrar alguém disponível. Vai também pras vagabas de família, que chegam meio bêbadas em casa e vão logo ligando o computador atrás de emoções que não encontraram na rua. E, por que não dizer, pra todo mundo que acredita que ser feliz é melhor do que ter razão.

O importante, nessas horas, é, em prol da felicidade, saber discernir o que vale e o que não vale a pena, separar o joio do trigo. É parar pra pensar que na internet tem de tudo um pouco, o que nos obriga a analisar os sinais com certa dose de frieza, pois, acreditar que um punheteiro online vai virar seu namorado (ou mesmo seu personal fucker) é quase como achar que “na tela da tv no meio desse povo, a gente vai se ver na Globo...”

Vejam bem: não faço aqui uma contra-apologia à punheta. Imagina, pegaria até mal, com todo meu passado de glórias. Punheta é coisa importante. Exige técnica, destreza, sensibilidade e coordenação motora. Quem nunca ficou apertando aquelas bolinhas de borracha no escritório, fingindo estar evitando uma LER, mas, no fundo, querendo melhorar as habilidades manuais que passam longe dos dotes culinários e do corte e costura? Normal. Toda mulher tem um quê de gueixa e isso nunca fez mal à humanidade.

Portanto, não ligue se algum dia você deu trela prum punheteiro online e também não dê ouvidos às amigas que insistem em lhe dizer que “sabiam que isso não daria certo porque internet é coisa de nerd que não come ninguém”. Nessas horas, diga a elas para atirarem a primeira pedra se nunca acreditaram em um sedutor! Caso insistam em afirmar que seus tetos são de vidro, deixe-as pra lá: mulher que dá certo demais geralmente é frígida, já alertava minha tia-avó Neuza.

Disse tudo isso não só para facilitar o discernimento e estimular o livre-arbítrio, mas, também, para (finalmente) lançar, em caráter oficial, algumas dicas práticas para detectar um punheteiro online:

Capítulo primeiro: da distância entre os contatos

-Quanto tempo ele demorou pra te retornar?
-Uns vinte dias.
-Nossa! Ele é sempre assim?
-Sempre.
-Que coisa...
-Pois é, menina.
-E você nunca perguntou o que se passa?
-Ontem perguntei.
-E ele?
-Disse que anda ocupado demais com o trabalho, que as reuniões varam madrugada e que, quando ele vê, queria ter me ligado, mas acabou não conseguindo, sabe assim?
-Sei...
-Daí ontem foi mega fofo, disse que não parou de pensar em mim esses dias todos, que sempre esteve interessado, que eu sou o tipo de mulher que ele adora, que isso é muito claro pra ele, essas coisas...
-É, vamos aguardar as cenas do próximo capítulo...

Dica prática: se entre um contato e outro o intervalo de dias é sempre grande, e, se o assunto comumente gira em torno da falta de tempo e do profundo interesse em você, ligue imediatamente seu detector para punheteiros online: o moço pode estar achando que você é arroz de geladeira, que precisa de banho-maria pra ficar requentado.


Capítulo segundo: do sexo por telefone

-Menina, foi demais.
-É?
-Umidade máxima.
-U-A-U.
-E o mais legal é que nosso papo sempre começa super cabeça: falamos dos nossos sonhos, das nossas neuras...
-E termina com bagaceirices?
-Isso!
-Interessante...
-Super!
-...
-Fala!
-O quê?
-O que você tá pensando, porra!
-Eu acho estranha essa história, parece que vocês andam em círculos, sabe assim?
-Não, não sei. Explica!
-Vocês são íntimos e não são.
-...
-O cara fala as maiores bagaceirices do mundo pelo telefone e vocês nunca se viram.
-Mas nós vamos nos ver.
-Quando?
-Sei lá.
-Acho assim: isso rolar por umas semanas ou por um, dois meses, tudo bem. Mas daí o cara virar o seu sexy fone é que eu acho pesado!
-Você acha que eu devo mandar ele passear?
-Acho que ele pode passear, sim, mas do teu lado, que tal? Daí vocês aproveitam e se conhecem cara-a-cara!
-Hahahahahahahahahaha.

Dica prática: se está há muito tempo vivendo um pseudo-relacionamento por telefone, tente estimular a passagem para o próximo nível, da intimidade verdadeira. Vai que vocês ficam muito tempo nessa e o moço tem mau-hálito ou pau fino?

Capítulo terceiro: do orkut

-Cara, o orkut dele não é careta!
-Como assim?
-A cada dez scraps, doze são de mulheres!
-Todas apaixonadas?
-Tipo ode a Manoel Carlos!
-Hahahahahahahahaha.
-Sem sacanagem, mulherada cita Goethe, Lope de Vega, Baudelaire...
-Noooooosssaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!
-Tem as que metem um Chico Buarque e um Rubem Fonseca, pra se fazerem de básicas, sabe assim?
-Sei, distraídas...
-Isso!
-E você?
-E eu o quê?
-Ué, que tipo de scrap você manda pro galanteador?
-Eu não mando scrap, eu vou de testemonial...
-Vaca!
-De divinas tetas...

Dica prática: se o moço recebe scraps apaixonados de trezentas mulheres por minuto e não está efetivamente com nenhuma delas, ou não quer nada com ninguém, ou quer, mas está inseguro, ou, ainda, não quer, mas precisa achar que quer. Para qualquer uma dessas hipóteses, surge a pergunta: vai encarar? Se a resposta for positiva, a dica é uma só: valeriana e meditação, pelo menos três vezes ao dia.

Por hoje é só, meninas.

Espero, de coração, ter ajudado.

Queria apenas ressaltar que, caso esteja passando por alguma dessas situações, não desacredite na humanidade. As coisas estão difíceis pra todo mundo e a internet, como grande simulacro que é, não poderia estar em situação diferente.

Sugiro, por fim, o filme “Denise está chamando”, disponível nas locadoras mais alternativas, tipo Estação, Macedônia ou Cavídeo. É uma história sensível, que aborda lindamente a questão das proximidades e distanciamentos.

Agora, por favor, depois de pegar o filme, não vá ao mercado comprar doritos, porque isso não leva ninguém a lugar nenhum! Compre batatas, cozinhe e recheie com requeijão.

Ótima opção, enquanto o requeijão de verdade não vem...

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Dicas práticas para não queimar o filme com as gatinhas parte 2 (ou molhadinhas, agradecemos)

Existe limite pra tudo e sabemos o quanto é difícil enxergá-lo, principalmente quando estamos sensíveis, apaixonados, bêbados, inseguros, cheios de tesão, tristes ou tudo isso junto. Assim sendo, para garantir o teor didático deste blog, segue mais uma lista de dicas práticas para evitar que vocês, bons moços de plantão, sejam excluídos de vez da vida das gatinhas que lhes fazem gemer sem sentir dor.

Capítulo primeiro: da tentativa de vencer pelo cansaço

-Vai ficar calada?
-O que você quer que eu diga, baby?
-Bem, se não quiser dizer nada, não diga.
-É que eu não gosto de me repetir, entende?
-Sim, sim, entendo perfeitamente.
-Que bom!
-Só acho que você exagera quando diz que eu não sou gentil contigo...
-O que pra você é exagero, pra mim é básico, como já te disse umas trinta vezes: gosto de homem que me convida pra sair, que queira fazer algo além de trepar e, principalmente, que não deixe claro a todo instante que não curte ser visto comigo em público!
-Poxa, o fato deu não querer pagar de namoradinho não significa que eu não goste de você.
-Ok, computer.
-O quê?
-Nada, baby, agora tenho que ir, tá? Outra hora a gente conversa.

Dica prática: se não tem por hábito valorizar a dama cuja bucetinha você não consegue esquecer de jeito nenhum, tente pensar nela como uma mulher por inteiro, portadora de opinião. Caso não consiga, deixe ela pra lá, pois fazê-la repetir muitas vezes a mesma explicação é o mesmo que lhe esfregar nas entranhas um poderosíssimo adstringente vaginal.

Capítulo segundo: do desespero

-Até que enfim! Achei que não ia retornar minhas ligações nunca mais!
-Meu celular quebrou, lembra?
-Sim, lembro, mas não dava nem pra pedir um telefone emprestado e me ligar a cobrar?
-Eu tava meio ocupada pra isso, querido...
-Pô, mas em quatro dias você podia ter dado um jeito de entrar em contato, não?
-Podia, sim, se você não tivesse sido avisado de que eu estava viajando...
-...
-Bem, eu tenho a consciência tranquila de que não fiz nada de mais.
-Ah, agora vem falar de consciência?
-Venho, sim!
-Legal isso, legal mesmo!
-Deixa eu te falar uma coisa: a gente ficou quatro vezes, foi super legal, você é gentil, atencioso, gostoso, interessante, mas achei um pouco demais de sua parte deixar dois recados desaforados na secretária do meu celular quebrado enquanto eu viajava a trabalho! Você sabia que eu ia voltar hoje, não tinha por que essa sangria desatada!
-Ah, agora eu sou o desesperado e você é a princesa?
-Passo o posto de princesa, que não faz meu gênero, mas confesso que fiquei bem passada.
-Você acha que eu tô desesperado e que vou grudar no seu pé, né? Pode falar!
-Veja bem, quem está usando a palavra ‘desesperado’ é você...
-...
-Sinceramente, acho que talvez seja melhor você procurar uma menina que esteja numa sintonia parecida com a sua.
-O papo da sintonia é pra me dispensar, certo?
-É pra te deixar livre pra encontrar alguém que curta essa marcação cerrada.
-Beleza, então! Só te digo uma coisa: você não sabe o que tá perdendo.
-Sei, sim. Acho inclusive uma pena isso ter acontecido, mas, enfim, é a vida...

Dica prática: se está começando a sair com a menina e o sexo está fluindo bem, observe se de fato ela te deu motivos para perder as estribeiras. Se não deu, fique frio e aja com cautela. Sinais de desconfiança extrema fazem com que a dama fique com medo de você ser um cara possessivo demais.

Capítulo terceiro: do impedimento

-Mô, tô pensando em fazer uma lasanha de berinjela pra gente nesse final de semana.
-Ih, gatinha, esse final de semana tem campeonato de playstation na casa do Romano...
-Mas o fim de semana todo?
-Pior é que é.
-Nossa, que radical!
-Pô, tá marcado há mó tempão...
-Tá bem, então a gente faz na quarta, que eu não tenho aula à noite. Eu trago um vinhozinho e tudo...
-Pô, gatinha, quarta é a final do campeonato carioca, vou no Maraca.
-Mas essa final não foi no domingo passado?
-Não, no domingo passado foi a final da Libertadores.
-Ah tá...
-Mas a gente pode fazer essa lasanha na segunda.
-Segunda não dá, que tal terça?
-Terça tem a pelada mensal na Lagoa, não pode mesmo ser na segunda?
-Na segunda eu teria que matar aula de Análise do Discurso.
-Pô, mas essa matéria é mole, você só tirou dez até agora.
-A questão não é a matéria ser mole ou não. É uma aula que eu gosto de ir por conta das discussões...
-Você gosta é do professor bonitão, que eu vi seu jeito naquele dia que fui te buscar.
-Agora vai querer meter essa?
-Quem tá querendo meter é ele, que eu saquei a marra do cara na hora.
-Fala sério!
-Tô falando, porra! O sujeito usa o charme de professor pra conquistar as menininhas. Fato!
-Vamos fazer o seguinte: você joga todo o playstation que houver nessa vida, todas as peladas das quadras da Lagoa e completa o pacote assistindo a qualquer jogo de futebol que esteja agendado em território nacional!
-Ihhhhh...
-Ó, ouvi falar que tem decisão da categoria sub-20 esses dias, se não me engano é algo tipo XV de Jaú contra XV de Piracicaba...
-Tsc.
-Pô, jogão! Vai perder?
-...
-Daí, quando você tiver um tempo na agenda, me liga, e, se eu não estiver no meio da aula, analisando o discurso ou a mensagem subliminar de algum professor bonitão, quem sabe eu venha a te atender...
-Tenho medo de ameaça não, gatinha...
-Pois devia!

Dica prática: se a moça tem um professor sedutor e você já sacou o clima entre eles, não sugira a lasanha justo pro dia da aula do cara, ainda mais se sua sugestão tiver sido motivada pela falta de tempo em virtude de pelada, playstation ou final de campeonato. Tudo isso só faz você parecer cada vez mais infantilizado em comparação ao bonitão caga-regra. Até ela sacar que ele é uma farsa, você já vai ter perdido a dama. Na dúvida, é melhor não arriscar.

Capítulo quarto: do choque de ordem

-Você vai com essa blusa mesmo?
-Vou.
-Meio decotada demais, não?
-Sim, mas é linda. E, se não me engano, foi você que me deu, lembra?
-Fui eu, sim, mas quando ainda não era seu namorado...
-Já sei: você tá querendo arrumar uma briguinha pra dar aquela trepada reconciliadora antes da festa, né?
-Não.
-Para de brincadeira, então, gatinho.
-Quem dera eu tivesse brincando...
-Hahahahahahahahahahaha.
-Eu tô falando sério, princesa.
-Você está querendo me dizer que enquanto não éramos namorados, eu podia andar com o decote que fosse, que isso não era problema seu, certo? Mas que agora, como sua gatinha, preciso me vestir de forma discreta, pois você não quer que seus amigos se sintam atraídos pela gostosa de plantão aqui, é isso?
-Não é que eu não confie em você. Eu não confio é neles!
-Ahhhhh...Agora tá tudo explicado!
-Não fica putinha, vai, boneca!
-Boneca é o que você vai ter que arrumar se eu tiver que trocar de blusa! Só que vai ser dessas infláveis, com a boca abertona!
-Ei, calma!
-Calma? Tá achando agora que vai me dizer o que vestir?
-Você tá ficando descontrolada!
-Olha, descontrolada ou não, eu tô pronta pra sair. Agora se essa discussão idiota continuar, dá tempo deu trocar essa calça por uma mini-saia, que tal?

Dica prática: se você não é Christian Dior nem Yves Saint-Laurent, evite se meter no modelito da namorada, já que, afinal de contas, quando você a conheceu, provavelmente ela já se vestia assim. Respire fundo e pense que o que faz uma dama não é o modelito e sim a postura. Se conseguir se acalmar, provavelmente seus amigos vão morrer de inveja por conta da potranca super caidinha por você. Porém, se não for esse o caso (e a situação lhe parecer para lá de insuportável), há sempre a opção de sair sozinho.

Por hoje é só, meninos.

Espero ter ajudado.

Cabe ressaltar que os casos acima narrados, infelizmente, são baseados em fatos reais.

Portanto, não engrossem o volume dessa triste estatística.

Reajam!

Posso adiantar que nós, molhadinhas, agradecemos...

domingo, 26 de abril de 2009

Em algum lugar do passado

-Como assim não lembra?
-Não lembrando, amiga...
-Fala sério!
-Tô falando!
-Vamos recapitular: quando eu saí do bar, você tava contando aquela história clássica do encontro nacional de estudantes de comunicação.
-Vixe...
-Disso você lembra, né?
-Nada.
-Hahahahahaha.
-Eu contei a história toda, foi?
-Aham.
-Ai, ai...
-Mas super no salto, não tava dando a menor pinta de Heleninha...
-Tá, mas já tava dando sinais de que sou permissiva depois de uns drinques...
-Isso sim, mas quem não é?
-...
-Vejamos o lado bom da coisa: a permissividade no caso em questão foi produtiva, né?
-Sim, fato. Mas a pergunta que não quer calar permanece: será que eu dei pro Johnny?
-Isso é mole de descobrir, vai.
-Então me ajuda, fazendo o favor!
-Quando você acordou, sua calcinha tava onde?
-No banheiro, pendurada no box.
-Molhada ou seca?
-Molhada.
-Hummm...
-Não prova nada, né?
-Não, porque pode ser coisa de bebum, que quis tomar banho e lavar a calcinha, só pra mostrar que é limpinha.
-Pois é...
-Tava ardida de manhã?
-Tava.
-Melada?
-Um pouco.
-Então, filha...
-Se a língua e os dedos dele não fossem tão ferozes, não haveria dúvidas...
-Ué, da língua e dos dedos você lembra?
-Então, lá no bar mesmo, ele foi atrás de mim no banheiro e o bicho pegou...
-Gente...
-E o pior é que não rola de perguntar esse tipo de coisa pro bofe, né?
-Nunca, jamais, em tempo algum! Mas olha, na boa, se tivesse rolado, você se lembraria. Essas coisas marcam e você sabe disso!
-Sim, mas também sei que com o Felipe já rolou de dar e não lembrar de nada no dia seguinte, a ponto dele ficar puto pra caralho!
-Jura?
-Cara, se isso te satisfaz, eu juro...
-Jesus! Nunca vi disso na minha vida!
-Menos, amiga!
-Tô falando sério. Pra mim é impossível dar e não lembrar, porque buceta tem memória.
-Se tivesse mesmo, tu já teria parado de dar pro Carlos há séculos, vai!
-Hahahahahahahaha. Que maldade!
-Maldade?
-É. Coitado do Carlos, ele não é tão mau assim...
-Ô...
-Mas vamos ao que interessa: ao acordar, você deu uma busca em volta da cama?
-Sim!
-Achou alguma camisinha?
-Não!
-Sinal de que não rolou nada então, afinal, o Johnny é um cara responsável...
-A responsabilidade é inversamente proporcional ao número de taças, amiga!
-Isso é! E champagne é foda...
-Ô!
-Tá, vamos nos concentrar: quando você acordou, ele tava na cama ainda?
-Não, tava preparando um café.
-Trouxe pra você na cama?
-Trouxe.
-Tinha ovos mexidos?
-Que pergunta...
-Tinha ou não tinha?
-Sim, tinha, com bacon.
-Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh
-Ah o quê?
-Rolou, filha!
-Como você pode ter tanta certeza?
-Vou reconstruir a história, tá bem?
-Tá!
-Ele acordou mais cedo e, como cavalheiro que é, recolheu as camisinhas ao redor da cama, pra quando você acordasse não pisasse em nenhuma...
-E?
-E, por ter conseguido te comer, coisa que vem tentando há anos, achou melhor preparar um cafezão da manhã, pra causar boa impressão e criar mais intimidade.
-E o que os ovos mexidos têm a ver com isso?
-Ovos mexidos são claro sinal de fome pós-coito. É intuitivo: quem trepa, curte ovos mexidos.
-Você ta de ácido, querida!
-Tô nada, aprendi isso na faculdade, na aula de nutrição defensiva: a ingestão de ovos repõe a albumina, proteína tipicamente consumida pelos atletas. E todas sabemos que uma boa trepada equivale a uma maratona, certo?
-Hahahahahahahahahaha.
-Acho que agora só resta uma coisa a ser feita.
-O quê?
-Tomar a pílula do dia seguinte.
-Essa porra faz muito mal.
-Mas a porra que você pode ter posto pra dentro vai fazer muuuuito mais mal, certo?

Na dúvida, tomou a pílula, o que não a impediu de ficar a semana toda tentando lembrar se tinha ou não trepado com o rapaz. Ficaria meses nessa, mas o moço era do tipo que sabia usar o telefone e acabaram marcando de sair novamente. Por precaução, não houve álcool.

Na manhã seguinte, foi fazer xixi e, para tanto, teve que desviar de quatro camisinhas. E, já que passaram a manhã toda na cama, pularam a parte dos ovos mexidos e foram direto pro almoço, com direito à rapidinha de sobremesa.

Sem conseguir chegar a nenhuma conclusão, saiu de noite da casa do bofe com a certeza de que nunca encontraria provas cabais que indicassem ter sido aquela a primeira ou a segunda noite de sexo do casal.

Mas, como vaca que se preza, desistiu de tentar lembrar o que passou e resolveu começar a criar memórias, para ter o que contar pros netos dali a muitos anos.

Porque, enquanto o futuro a Deus pertence, o passado é terra de ninguém, que qualquer um pode, a qualquer tempo, embrulhar pra presente.

domingo, 12 de abril de 2009

A cabeça de baixo

Herdou de sua avó a crença nos homens. Uma pena. Ao invés disso, podia ter herdado os dotes culinários. Seria mais feliz sendo gorda e legal como a coroa, mas restringiu-se a uma vida de constante dieta, já que, nos tempos atuais, não há espaço para se dar ao luxo da banha.

O fato é que nada disso vem ao caso, já que ser gorda ou magra está quase sempre relacionado à aprovação dos homens. Quantas vezes não se pergunta (para não ter que perguntar a eles): “Será que fico uma vaca de quatro?” ou “Dá pra ver minhas dobras quando estou montada de frente, na magnífica posição de Cavalgada das Valquírias?”

É raro, no entanto, ela se perguntar se é deliciosa, apertadinha, boa de apanhar ou portadora de uma boquinha incrível, de fazer qualquer um gemer sem sentir dor. Também não se pergunta quantas vezes eles batem uma em sua homenagem, por conta das inúmeras bagaceirices ditas nos momentos de intimidade.

Mas não! Ela está sempre focada na paranóia opressora da beleza única.

Paranóia cultivada pelas inúmeras propagandas de iogurte pra cagar; multiplicada pela comparação com professoras de pilates e bailarinas e elevada à vigésima potência pela novela das oito.

Mal sabe ela que justamente nessa hora deveria aproveitar a má herança da crença nos homens e perguntar-lhes se é gostosa ou não.

Porque essa é única hora em que eles dizem a verdade.

Não por serem os mais sinceros do mundo.

Mas por responderem com a cabeça de baixo.

terça-feira, 31 de março de 2009

Falta de romance (ou resposta às leitoras assustadas)

Sexta-feira de chuva. Msn bombando. Luzinha laranja pisca. Adriana diz:

-Amiga, alguma novidade no blog?
-Acabei de postar, vai lá.
-Passa o endereço?

Quatro minutos depois, vem de novo Adriana:

-Menina, você anda agressiva nos últimos posts: gargarejo, Dako, caramba, cadê o romance?
-Me diga você...
-Hahahahahahahahahaha.
-...
-Mas, falando sério, não precisa baixar assim o nível.
-Ah, cara, foi uma brincadeira com um outro blogueiro, que meteu num post que não curtia muito comer cu. Daí não guentei, sabe que o assunto me emociona, né?
-Sim, saquei, mas não gostei desses textos, achei muito sem nível, queria te fazer essa crítica.
-Tranquilo, baby. Escrever é meio como cozinhar: tem que experimentar direto na massa, não dá pra se prender ao livro de receitas. Do mesmo jeito que você não gostou, teve gente que curtiu, faz parte.
-Sei...
-Mas, de boa, perguntar cadê o romance foi foda!
-Pô, mas é verdade! Todo mundo gosta de um pouco de romance.
-Pois é, mas as coisas andam num nível tão grande de falta de critério, que começamos a chamar de romance toda pegação de fim de festa...
-Ué, mas as pessoas têm que começar de algum lugar, não é?
-Sim, mas raramente às quatro da manhã, na xepa da festinha, vai rolar algum romance...
-Você está sendo radical, pra variar. Tá entrando naquela sua onda de se achar muito boa pras ofertas que estão por aí, né?
-Não, não é sentimento de superioridade, até mesmo porque as ofertas geralmente equivalem ao que a gente está emanando...
-...
-Nem tô cuspindo pro alto, acredite. Tô é mudando minha perspectiva, porque esse lance de esculpir romances mentais cansa...
-Ah, fala sério, que mané romances mentais? Vai começar com esse seu discurso defensivo de novo? Hoje em dia as relações são mais fluidas mesmo, ninguém está querendo se amarrar. Se a gente não souber projetar as coisas, nunca nada vai ser do jeito que a gente quer!
-Então, a minha lógica é a mesma que a sua.
-Claro que não!
-Claro que é!
-...
-Presta atenção: eu não entreguei o jogo. Apenas saí da defesa sem partir direto pro ataque.
-Fala sério! Logo tu, metendo essa...
-Te digo, é a melhor posição. Fico ali, como quem não quer nada, dando pinta. Daí, quando vier uma bola boa, mato no peito e finalizo. Sacou?
-Escreve um monte de bagaceirices e agora quer dar de dama, metendo metáforas futebolísticas no meio? Tenha dó!
-Esquece o que eu escrevo, darling, não vou mudar o estilo e isso é fato!
-Então, tá contraditório isso!
-Não tá nada, cada coisa no seu lugar. Nós, mulheres que temos opinião sobre tudo, precisamos de um contraponto, entende?
-Agora virou problema ter opinião? Qual foi, amiga? Tô te estranhando...
-Não, não tem problema nenhum, continuo tendo opinião sobre quase tudo, mas parei de ver coisa onde não tem e me coloquei um cadinho mais na minha, só isso.
-Dá um exemplo dessa sua nova linha de atuação.
-Tipo, parei de dar mole pro azar, praqueles carinhas que a gente sabe que não vão dar certo de jeito nenhum, entende?
-Você tá se referindo ao Marcos?
-Não só a ele, mas a todos os homens do naipe dele, que não querem nada com ninguém, que adoram ser reverenciados por todas e que se acham extremamente gostosos.
-E o pior é que ele é gostoso mesmo...
-Sim, é delicioso, mas te digo: ignorá-lo foi melhor do que comê-lo.
-Como assim?
-Cara, ele tava no casório da Keyla, cercado de vários amigos. Um deles me conhecia, veio puxar papo, conversamos um pouco, morremos de rir lembrando do carnaval, essas coisas.
-E?
-E o Marcos ficou lá, na rodinha. Não se deu ao trabalho de vir falar comigo. Detalhe: eu tava com aquele vestidinho de melindrosa branco de bolinhas pretas.
-Você fica um arraso naquele vestido!
-Pois é, pensei: pô, toda vez o Marcos faz isso! Finge que não me conhece até a hora que fica inevitável. Aí ele vem, esbarra comigo, me dá mole por quinze minutos e depois diz que vai pegar uma cerveja.
-E não volta nunca mais, né?
-Exatamente. Dessa vez não quis passar por isso.
-E ele?
-Ficou me secando a noite toda, claro: eu ia dançar, ele ficava pertinho de mim na pista. Eu tava com meus amigos, ele dava um jeito de se colocar numa rodinha por perto.
-E vocês não se falaram?
-Se ele tivesse vindo até mim, eu teria sido educada, mas como ele não veio...
-Gente, que bafão...
-Pois é, sabia que você ia curtir essa história...
-Cara, então quer dizer que você virou tipo uma mulher centrada?
-Acho que sim.
-Mas não vai começar a falar sobre economia não, né?
-Não, fica fria!
-E hoje, qual a boa?
-Vou sair com um cara que conheci na net.
-O quê? Como assim?
-Existem vantagens em ser blogueira, honey...
-Que piranha!
-...
-É gato?
-É um moreno mediano.
-Interessante?
-Super.
-Quantos anos?
-Tá sentada?
-Ai que medo, fala!
-Quarenta.
-O quê? Parou com os meninos mais novos?
-Já te disse, não tô cuspindo pro alto, mas resolvi ver qualé de um cara que já mijava em pé na copa de 78.
-Hahahahahahahahahahaha!
-Ainda por cima o bofe é tijucano...
-Hummm, sabia que tinha treta aí.
-Vai ver até a gente já se pegou e não sabe...
-Que massa, bom encontro então!
-Valeu, amiga. Pode deixar que já sondo se ele tem um amigo recém-separado que nem ele, pra te colocar na jogada.
-Ih, recém-separado, é?
-É.
-Cuidado, se ele ficar falando muito da ex-mulher, manda passear.
-Fica fria, eu tenho assuntos melhores pra colocar em pauta.
-Tá certa.
-Beijo, querida, tenho que me depilar lindamente.
-Claro, beijão.

Desligou o computador e partiu pros preparativos. Parou pra fazer as contas e se tocou de que não saía com um homem mais velho do que ela há mais de dez anos. Achava todos uns chatos sem assunto, preocupados só com cerveja, futebol de quarta-feira e dores nas costas.

Mas alguma coisa nesse rapaz lhe chamou a atenção. Ele não estava tão focado em suas próprias mazelas. Queria recomeçar a vida com uma mulher bacana, que até poderia ser ela. O fato é que isso nem vinha ao caso, pois intuía que, mesmo não dando certo, ao encontrá-lo, no futuro, em algum casamento de amigos comuns, seria cumprimentada, como merece uma dama de seu porte.

E, como não existe nada mais gostoso pruma mulher do se sentir cortejada, peço perdão aos indelicados para afirmar, com toda a certeza, que gentileza é fundamental...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dako é bom (mas não espalha)

-Mas qual foi que rolou com o figura?
-Saca só: ele me disse que nem é muito chegado em cu, mas que, se eu gostasse, era melhor comer logo.
-Mandou assim, com essas palavras?
-Foi.
-Mas qual o contexto?
-Não lembro o contexto exatamente, tinha tomado 3 ices já, sabe como fico facinha...
-Sei. Mas não lembra nem do momento que ele falou isso?
-Isso lembro, claro: eu só queria dar o cu, nada de choque de ordem...
-Tá, mas qual foi o momento?
-No caminho pro motel.
-Menos mal...
-Total, mas foi um banho de água fria. Afinal, tô saindo de casa com KY na bolsa há umas 2 semanas...
-Ai, que horror, Anita, me poupe dos detalhes sórdidos!
-E KY lá é sórdido?! Coitado do KY, só tá na bolsa querendo ajudar...
-Enfim, quando ele meteu essa de que era melhor comer logo, você respondeu o quê?
-Nada, fiquei pretérita.
-Ai, você também é muito noiada com esse lance de cu, sabia? Em vez de dar gostosinho pelas vias normais. Cu não é pra isso!
-O seu cu, né benzinho! O meu é outro papo, nem vem que não tem!
-Ok, mas você devia ir ao proctologista pelo menos uma vez por ano, do jeito que esse rabo aí é rodado...
-Se fosse pela quilometragem, eu devia ir todo mês, gata! Mas isso nem vem ao caso...
-Tá, continua: ele te levou pro motel ou não?
-Lógico, né? Naquela altura do campeonato, eu já tava subindo ladrilho de tamanco...
-Mas o que ele falou depois?
-Depois do quê?
-De você ficar passada.
-Ah, sim! Ele perguntou se tava tudo bem. Eu disse que até tava, mas que achava que ele fosse um cadinho mais animado no quesito backstage...
-E ele?
-Disse alguma coisa do tipo “a vida é cheia de surpresas”, já metendo a língua no meu pescoço. Deixei rolar, que a situação não tá pra isso, né?
-Não está mesmo. Mas e aí, foi bom?
-Ih! Já tá querendo saber demais. Não dá cu, mas quer os detalhes sórdidos, né? Sua enrustida dos infernos!
-Hummm, grossa!
-Hahahahahahaha!
-Vai me deixar na curiosidade?
-Ué, você não acha nojento? Quer saber se foi bom por quê?
-Quem disse que tô interessada no backstage? Quero saber se o bofe se garante na boca de cena!
-Ahhhhhhhhh...
-Se garante ou não se garante?
-Deixa eu comer ele de novo que te conto os detalhes.
-Eu, hein, mas por quê?
-Simpatia! Aprendi com uma amiga do curso de pompouarismo.
-O quê?
-Eu te disse que ia me matricular, não sei por que o espanto...
-Cara, tu tá muito desesperada...
-Tem certeza? Minha bucetinha, por exemplo, não concorda com você.
-Hummm, mas que boca, hein? Por isso que você não arruma namorado! Cruzes!
-Se o castigo pra toda desbocada que dá cu fosse ser solteira, ia ter um monte de gente se divorciando por aí.
- Tá certo, cada um sabe de si, fazer o quê...

Despediram-se e Anita respirou aliviada por ter conseguido fugir do assunto com o papo da simpatia que a amiga do curso de pompouarismo tinha ensinado.

Simpatia que nada.

Por experiência própria, descobriu que esse negócio de fazer alarde era o que estava deixando os meninos sem referência de como se comportar diante de uma mulher de verdade.

Pra que comentar que estreou o tubo de KY?

Vai que a amiga resolve estrear o cuzinho justo com o bofe que você divulgou?

Na dúvida, é sempre bom duvidar que a propaganda seja mesmo a alma do negócio.

Ela é, na verdade, a semente da discórdia disfarçada de alma.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Vastas estações, pensamentos imperfeitos

Pensou em fazer alguma coisa útil no meio daquela tarde triste de verão, pois sabia que não era certo ficar assim em dias de sol. Passou sundown 60 pra se sentir protegida e quis, lá no fundo, que existisse um protetor solar também para almas. Seria uma boa forma de economizar a grana preta que gastava na terapia. Ou pelo menos de se fazer de alegre quando suas amigas desesperadas insistiam em lhe telefonar em busca de alento.

Mas o telefone, assim como a justiça com as próprias mãos, tarda, mas não falha:

-Ai, amiga, pode me ouvir?
-Claro, diga lá.
-Acho que fiz merdinha...
-O que foi dessa vez?
-Dei pro carinha do curso.
-E desde quando isso é fazer merdinha?
-Dei de primeira, esse é o problema.
-Ai, bela, não semiotiza, vai...
-Como assim?
-Você não tava com vontade de sair com ele há um tempão?
-Tava!
-Então...
-Então que ele não pediu meu telefone...
-Ah, você queria que ele fosse te levar em casa no dia seguinte num cavalo branco, né?
-Ai, amiga, não zoa, tô mal com isso...
-Desculpa, mas não concordo com essa política desesperada de contar encontros até resolver transar, porque isso me dá a impressão de que nossas bucetinhas são uma espécie de prêmio e que, quanto mais esperarmos, mais elas vão ficando apetitosas, como iguarias típicas da Amazônia, sabe assim?
-Se sei.
-Bota na sua cabeça que essa é uma idéia que inventaram pra adaptar aos nossos tempos as normas sexuais castradoras dos tempos de nossas avós.
-Como assim?
-Baby, pode ser que ele não peça seu telefone nunca, e daí?
-E daí que eu queria saber até quando vou ficar dando pra caras que não me ligam no dia seguinte.
-Até o dia que rolar um cara maneiro que goste de você e que saiba usar o telefone. E isso independe de você ter dado de primeira, de segunda ou de terceira...
-Ai, ai, não consigo ser tão esperançosa...
-Querida, preciso desligar, estão tocando o interfone e tô sozinha em casa.
-Me liga depois, então.
-Ligo, sim.

Claro que não ligou: esse papo de esperança era um tormento com o qual tinha que conviver diariamente. Não queria dizer pra amiga que pra cada panela existe uma tampa, porque sabe de um monte de tampas sobrando por aí, totalmente oxidadas de tanto esperar por uma panela que se encaixe em seus contornos com o mínimo de dignidade.

Tirou o telefone do gancho e resolveu nada mais fazer naquela tarde de verão.

A não ser esperar pelo outono, quando, finalmente, poderia ficar triste em paz e jogar a culpa toda no tempo chuvoso.