segunda-feira, 10 de março de 2008

Anita carente

anita está carente há um tempo, mas a proximidade das festas de fim de ano agrava sua situação:

- sabe se o henrique vai no open house da joice?
- pô anita, henrique não!
- calma, ellen, perguntei por perguntar. ele também não é nenhum chupa-cabra...
- agora ele é ótimo né? que memoriazinha mais fraca a sua!
- queria que ele me visse agora que eu tô mais magra.
- não sei o que você viu nele.
- ah, ele beija bem.
- eu também beijo bem e nem por isso você fica perguntando se eu vou ou não no open house da joice.
- pára, ellen!
- tô falando sério, baby, e você sabe disso. pára com esse charme de artista.
- você sabe que eu não faço mulher.
- já beijou a rita que eu sei. ninguém me contou, eu vi.
- cheia de uísque na cabeça, beijaria até o zagallo.
- sei...
- ah, ellen, não vou entrar nessa discussão com você agora.
- tá certo, a vida é sua.
- beijar mulher é uma coisa. outra coisa é lamber os peitos, tomar sopa sem colher. sem chance! e nem adianta dizer que nós temos duas mãos, cada uma com cinco dedos e que existem vibradores tailandeses capazes de coisas incríveis porque você sabe muito bem que eu não acredito nessa história de piroca de plástico!
- nossa, como ela é radical: “eu não acredito nessa história de piroca de plástico!”. melhor piru de plástico do que homem imbecil acompanhando uma piroca. veja só o henrique, um ano de namoro e você nem ao menos foi apresentada aos pais da criatura...
- não fala assim que eu deprimo. a falta de perspectivas me assusta.
- assusta não! vamo na festinha da gi. você não vai se arrepender.
- ellenzinha, vou não. vai você, querida. e não se atreva a voltar pra casa sozinha!

ellen foi e trouxe uma gatinha pra casa. já anita ficou. quando deu meia-noite, entrou na internet e acabou encontrando um carinha bom de papo que parecia bonitinho na foto. sabe-se lá se era ele mesmo na foto ou se essa era a única foto boa que ele já tirou na vida, quando era atleta de pólo aquático há vinte anos atrás. ainda assim, resolveu arriscar. marcaram de se conhecer no sábado, na feijoada da mangueira. quando contou pra ellen sua façanha, a amiga surtou:

- não acredito nisso. e se esse cara for um psicopata? eu vou contigo nessa feijoada, nêga. qualquer coisa a gente grita.
- quem você acha que eu ia chamar pra me acompanhar?
- vou abrir o chandon então.

depois de matarem duas garrafas de espumante, ellen e anita celebravam não só a perspectiva de uma delas se arrumar, mas também o fato de estarem firmes e solidárias em cada momento de suas existências. elas sabem que dali a um ano a vida pode ter dado mil voltas, mas que, ainda assim, aquele laço, feito à base de gargalhadas, itaipavas, lágrimas e chandon, jamais seria desfeito.

porque amigas do peito são como árvores, morrem de pé.

Nenhum comentário: