segunda-feira, 10 de março de 2008

magda

magda perdeu o apetite. parecia uma gripe, mas não havia febre nem corisa nem dor de cabeça. o fato é que há 2 semanas nem água a moça queria beber. levaram no médico, fizeram exame de sangue, de aids, de tuberculose. nada feito. depois de 6 quilos, andaram até jurando que era anorexia. levaram pra psicóloga.
- você se acha gorda?
- não, acho até que tô magra demais.
- então porque não quer comer?
- promete que não conta pra ninguém, doutora?
- sim, prometo.
- a comida perdeu o gosto desde que parei de tomar café da manhã com ele.
- ele quem?
- fabrício, um mineiro maravilhoso que eu conheci no último congresso de bioquímica, há 6 semanas.
- vocês se relacionaram?
- não sei, doutora. tomar café da manhã junto é se relacionar? dançar de rosto colado e passar a mão na perna é se relacionar? cantar várias músicas do chico buarque no violão, olhando olho no olho é se relacionar?
os olhos da doutora ficaram marejados mas, ainda assim, conseguiu sorrir. lembrou de seus amores platônicos e da dor que aquilo lhe causara. pegou o carro, levou a menina à praia, sentou com ela na areia e, como não havia nada melhor a dizer, apenas navegou pelo óbvio:
- eu sei que parece que não vai passar nunca, mas quando você estiver velhinha, com seus netos, sentada aqui nessa areia, você vai rir muito de tudo isso.
magda chorou de um olho só e pediu um queijo de coalho.
quando não há nada a ser feito, até ficar parado dói.

Um comentário:

Francine Barbosa disse...

Nossa, muito obrigada por isso! =)