segunda-feira, 10 de março de 2008

submissa em paz

amarilda tem 28 anos. formada em ciências sociais, mestrado em relações de gênero e doutorado em feminismo comparado. determinada, talentosa, uma espécie de prodígio. uma semana antes da defesa de sua tese, na fila do peixe do supermercado, conheceu pedro, jovem yuppie que em um dia ganhava o que ela levava um mês pra conseguir. a paixão foi avassaladora: em menos de 3 meses amarilda já tinha engravidado. depois que pedrinho nasceu, ficou mais complicado conciliar as horas de pesquisa com o peito, a fralda, a cólica, o pediatra. seus dias de mulher independente estavam contados. largou o cargo de chefe de departamento na universidade com uma licença a princípio de um ano. passou a evitar encontros com os antigos colegas. temia o que podiam estar pensando.
ironia do destino, na mesma fila do peixe encontra uma colega de departamento.
- olá, querida, quanto tempo!
- oi, tudo bem?
- tudo ótimo. você tem feito tanta falta. ontem mesmo estávamos comentando isso: quando será que amarilda volta?
com seu meio sorriso, amarilda disfarça:
- assim que as coisas se acalmarem um pouco.
- e o seu menino, vai bem?
- ele é tudo que eu sempre quis, sem saber.
amarilda aproveita o silêncio repreendedor de sua colega para sair de fininho.
mesmo tendo lido tanta simone de beauvoir, no fundo no fundo, só queria ser submissa em paz.

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