segunda-feira, 10 de março de 2008

o sorriso de Monalisa

karine estava saindo com um rapaz há um mês e vez por outra tinha de ouvir aquela coisa chata que vem no pacote da mulher independente pós-moderna:

- olha, nós nos gostamos mas não estamos namorando.

o pior nem era ouvir isso. era ter de abrir imediatamente um sorriso de monalisa que acabou de queimar o sutiã em praça pública. como não era a primeira vez que isso lhe acontecia, acabou se acostumando com essa baboseira pseudo qualquer nota, essa coisa ‘sex and the city in dust’.

depois de exatos 3 meses o rapaz sumiu e, de acordo com o código de ética desses tempos cansativos, teve de esperar que se completassem 2 semanas para procurá-lo. ao fazê-lo, obteve a resposta mais inconseqüente que os rapazes costumam dar ao se sentirem pressionados, a meia-verdade mais covarde que já existiu:

- é que eu tenho andado muito ocupado. mas nesse fim de semana te ligo pra gente conversar.

o fim de semana passou como um cágado baiano e nada de telefonema dele. karine sabia que nem devia ter esperado tanto para declarar para si mesma que estava tudo acabado. como não havia motivos para verter lágrimas, tocou o barco adiante e passou a se abrir para novas possibilidades em sua vida. voltou a sair à noite e a buscar fora o que dentro não se aquietava de forma alguma. e, numa dessas noites, esbarrou com o dito cujo. isso já não teria sido legal na parte da manhã. que dirá à noite, numa festinha de amigos em comum. mal sabia ela que o pior ainda estava por vir:

- oi, karine!
- oi, valério, tudo bom?
- tudo...há quanto tempo...
- pois é, você sumiu de repente.
- é, eu tava muito ocupado.
- humm...
- ah, não fica chateada comigo não, eu tava ocupado mesmo.
- não tô chateada, só acho que você podia ter dito a verdade.
- mas eu ia te ligar hoje mesmo pra te contar. eu parei de te ligar porque comecei a namorar. ela tá até aqui, vou te apresentar. acho que vocês têm tudo a ver, vão se dar super bem. porque eu gosto muito de você e não quero perder sua amizade.

karine sorriu e pediu licença para ir ao banheiro. de lá rumou para a porta da rua. no táxi, com a cabeça pra fora da janela, chorou pela primeira vez sobre o leite derramado. pensou no quão desagradável é perceber que todo esse papo de “nós nos gostamos mas não estamos namorando” é até muito bacana, mas que no fundo é uma forma hipócrita de protelar uma relação de afetos desiguais, que em alguma hora vai levar alguém a se sentir um idiota por ter acreditado em meias verdades ditas à meia luz. nunca mais viu o rapaz e nem soube dele. deu a si mesma um tempo para curtir aquela dor de corna e pensar no que poderia tirar de bom dessa experiência desagradável. retomou seu prumo e concluiu que para cada meia-verdade engolida em seco, uma mulher inteira deixava de ficar molhada.

nunca mais sorriu feito monalisa que acabou de queimar o sutiã em praça pública.

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