segunda-feira, 10 de março de 2008

Viva o pragmatismo da classe operária!

jupira tentava com afinco ser bacana. dava bom dia boa tarde boa noite ao porteiro, comida aos mendigos e milho aos pombos. não satisfeita, ainda fazia caridade: legião da boa vontade, azilos e orfanatos sempre foram seu forte.
jupira só nunca foi bacana consigo mesma. sua auto-crítica chegava a assustar. quando emagrecia e alguém notava, tratava logo de dizer que era efeito especial promovido pelo modelito. quando tinha sucesso nas transações do trabalho, sempre atribuía o feito à sorte e ao acaso. e assim continuava sua eletrizante vida de bom dia boa tarde boa noite.
nessa brincadeira, já estava há 6 anos sem trepar. simplesmente não conseguia ouvir elogio de homem, achava que eles todos estavam de sacanagem com a sua cara.
dia desses, na feira, entre tomates e pepinos, começa um papo com o feirante:
- bonitos esses tomates.
- os tomates estão bonitos sim, mas a senhora, com todo respeito, é muito mais bonita.
- quê isso, meu senhor!
- a senhora nem precisa pagar não. escolhe e leva. não vou aceitar seu dinheiro.
- mas meu senhor, o que é isso? eu faço questão!
- então somos dois.
jupira estava particularmente de bom humor naquela manhã de domingo. levou os tomates e fez uma bela macarronada ao sugo.
domingo seguinte, na mesma barraca, a cena se repete. depois de 4 idas à feira, levou mais do que tomates pra casa. e também não foi só a macarronada que serviu ao sugo. pela primeira vez em 6 anos, gemeu por algo que realmente valia a pena.
viva o pragmatismo da classe operária!

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